title
stringlengths
3
146
text
stringlengths
1
61.2k
date
stringclasses
987 values
category
stringclasses
48 values
subcategory
stringclasses
293 values
link
stringlengths
60
242
Bairro do Paraíso tem o metro quadrado mais caro de São Paulo
GABRIELA MALTA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O Paraíso, na zona sul, é o bairro que concentra os prédios recém-lançados mais caros de São Paulo. Segundo dados dos últimos três anos do portal imobiliário VivaReal, o preço médio do metro quadrado de um apartamento novo no bairro é R$ 20.714 -o valor na cidade é R$ 8.140. Pela localização, entre a avenida Paulista e o parque Ibirapuera, o bairro sempre foi um dos mais valorizados da cidade, diz Aline Borbalan, gerente de inteligência de mercado da VivaReal. Soma-se a isso a classificação de alto padrão que é comum aos novos empreendimentos no bairro. Algumas construtoras oferecem ao futuro morador, por exemplo, a possibilidade de personalizar o seu apartamento. "Até determinada fase da obra, o cliente pode mudar parede, ampliar um dos cômodos ou alterar os pontos de ar-condicionado", diz Thiago Alarcon, gerente de Incorporação da R. Yazbek Construtora e Incorporadora. A empresa é responsável pelo Diamani Ibirapuera, prédio em que cada apartamento tem cinco vagas na garagem -uma delas fechada. Projetos arquitetônico e paisagístico também são importantes para o público do lugar, segundo Borbalan. O Onze 180, da Fibra Expert, na rua do Livramento, por exemplo, tem paisagismo de Luiz Carlos Orsini, responsável pelos jardins do museu Inhotim, em Minas Gerais. As incorporadoras também investem na tecnologia -como aquecedores de toalha e desembaçadores de espelho. "Além do conforto, a tecnologia está associada à segurança, valor procurado por nossos clientes", diz Kátia Varalla, diretora-executiva de incorporação da Gafisa, que lançou em 2016 o MN15. O prédio, com vista para o Ibirapuera, tem elevadores com biometria, portas com fechaduras biométricas e serviços como arrumação e lavanderia no estilo "pague o que usar". O público que busca esses imóveis é de famílias interessadas nos serviços da região. "O Paraíso atrai quem mora em bairros próximos e quer mudar para um imóvel mais sofisticado", diz Alarcon.
2017-08-10
sobretudo
morar
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/10/1925115-bairro-do-paraiso-tem-o-metro-quadrado-mais-caro-de-sao-paulo.shtml
PMs de SP adotam intimação para conter flagrante com celular nas ruas
Quando saiu para comemorar o aniversário de um amigo na rua Augusta, centro de SP, no último dia 22, o produtor cultural Jorge sabia que não poderia sacar o celular na festa open bar, que proibia fotos. Mas não sabia que o aparelho lhe causaria problemas antes de entrar. Na chegada à casa noturna, ele viu dois policiais revistando quatro pessoas, que ele desconfiou serem menores de idade. Sacou o celular e começou a filmar. Antes de os guardas terminarem a revista, um deles se virou para ele e disse: "Você vai com a gente, ô, cinegrafista". Jorge, que não quer ter o sobrenome divulgado, foi arrolado como testemunha, e levado para o 4º DP, na rua Marquês de Paranaguá. Quando foi liberado, quatro horas depois, a festa dos amigos já estava para acabar. "Perdi a noite, esperando para dizer nada ao delegado." Policiais adotaram uma nova tática para inibir que seus atos sejam filmados: elegem as pessoas que sacam celulares e as levam para a delegacia, onde têm de esperar horas para depor como testemunha da cena que registraram -uma abordagem ou um flagrante. A prática foi confirmada por três PMs à reportagem, que também teve que ser testemunha em um caso (leia abaixo). Advogados e especialistas ouvidos afirmam que a prática é o casamento de duas legalidades: é permitido filmar ou fotografar o que a polícia faz em lugar público, e os policiais têm direito de recrutar pessoas que estavam na cena como testemunhas. Mas eles ponderam que o arrolamento de testemunhas não deveria estar ligado à filmagem da ação. "Na Constituição você tem direito de ir e vir. Não existe na legislação a obrigação do comparecimento da testemunha na delegacia naquele momento", diz Ricardo Luiz de Toledo Santos Filho, diretor da OAB-SP. Para ele, "a polícia pode convidar e o cidadão pode recusar". No caso de recusa, a pessoa deve passar seus dados para a Polícia Civil procurá-lo e, se for o caso, testemunhar em outro momento. A estudante Mary Lô, 28, diz ter ouvido de um policial, a quem tinha filmado revistando uma amiga, na Barra Funda (zona oeste), que o celular seria confiscado. "Ele disse que a cena era prova." "É questionável se o celular é prova, ainda mais se ele só filmou uma revista ou uma prisão. Seria prova se tivesse o flagrante de crime", diz o advogado Pedro Dias. A tática virou até tema de discussão on-line entre homens da lei. Werlysson Volpi, bacharel em direito e guarda civil municipal em Minas, escreveu o artigo "Cidadão que filma ação policial pode ser arrolado como testemunha". Nele, ele escreve: "Boa parte destes cidadãos que registram estas ações não tem a intenção de mudar para melhor, e sim desmoralizar as instituições, postando ações incompletas de seus agentes, o que acaba fortalecendo o crime organizado e outras práticas delituosas". O GCM não respondeu a pedidos de entrevista feitos por e-mail. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) respondeu por nota que "as testemunhas são arroladas independentemente da profissão ou cargo que ocupam" e que "a Polícia Militar segue as diretrizes do Código de Processo Penal, em seu artigo 202, onde estabelece que 'toda pessoa poderá ser testemunha'." No texto, a pasta ainda "destaca que não há qualquer restrição a filmagens das ações policiais". TESTEMUNHA "Seus esquerdistas! Na hora de parar ele ninguém ajudou, e agora vêm me criticar?", gritava um PM no largo do Arouche (centro), na noite de 22 de setembro. Gritava também o homem algemado, sentado aos pés dele. Ao ouvir as frases que as pessoas diziam ("Não precisa pisar na mão dele" e "Você está machucando ele"), parei no canteiro central, onde estava o policial. Comecei a filmar com o celular. Logo, chegaram mais três carros de polícia. O primeiro PM se voltou para mim e disse: "Você vai como testemunha para a delegacia, não queria filmar?". Dois outros homens de farda me colocaram no banco de trás do carro. Tomaram meu celular. O carro saiu, furando sinais vermelhos e costurando o trânsito. Cinco minutos depois, estávamos no 2º DP (Bom Retiro). O homem autuado, um senegalês de 30 anos, foi liberado. Não houve flagrante de que os três celulares ou os R$ 3.000 que levava fossem fruto de ilícito. Fui ouvido após uma hora, às 22h30. A delegada perguntou se eu havia visto o homem fugindo, como relataram os policiais. Havia visto ele furtando? Não. Presenciei resistência? Nada. "Então o que você está fazendo aqui?". Perguntei se a delegada poderia repetir a frase aos PMs. Às 23h30, assinei meu testemunho impresso, que consistia em "A testemunha afirma ter visto o suspeito já algemado", e fui liberado.
2017-08-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925280-pms-de-sp-adotam-intimacao-para-conter-flagrante-com-celular-nas-ruas.shtml
Empreiteiras investigadas pela Lava Jato retomam obras sem BNDES
Empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato encontraram fontes alternativas de financiamento para tocar projetos no exterior que contavam com empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e foram suspensos pelo banco no ano passado. Em maio de 2016, logo após o impeachment de Dilma Rousseff e sua substituição pelo presidente Michel Temer, o banco bloqueou recursos destinados a 25 obras de construtoras brasileiras no exterior alegando que precisava reavaliar os contratos assinados pelo governo petista. Desde então, apenas três projetos tiveram dinheiro liberado novamente, após a assinatura de termos de compromisso em que as empreiteiras e os países que as contrataram prometem adotar medidas para impedir que ocorram desvios nas obras. As próprias empreiteiras conseguiram garantir recursos de governos e bancos estrangeiros para reativar outros cinco projetos sem o financiamento do governo brasileiro e negociam com bancos internacionais empréstimos para retomar mais três. O BNDES foi a maior fonte de financiamento dos projetos das empreiteiras no exterior nos últimos anos. Entre 2007 e 2015, o banco oficial aprovou empréstimos no valor total de US$ 14 bilhões para obras em 13 países. Os 25 contratos com recursos bloqueados no ano passado representavam metade disso. PROJETOS APROVADOS PELO BNDES - Em R$ milhões PROJETOS SUSPENSOS EM 2016 - Em R$ milhões, por construtora A Odebrecht conseguiu manter o contrato para construção de uma usina termelétrica na República Dominicana com financiamento do governo local e de um consórcio de bancos europeus que entrou no projeto com garantias da agência italiana de fomento à exportação. A italiana Tecnimond é sócia da Odebrecht no empreendimento. A empreiteira brasileira diz ter assegurado também com bancos estrangeiros os recursos necessários para retomar as obras de duas estradas na República Dominicana. Somados, os três projetos da Odebrecht no país tiveram US$ 1 bilhão em financiamentos suspensos pelo BNDES. A Andrade Gutierrez negocia com bancos e investidores estrangeiros a retomada de dois empreendimentos na Venezuela, uma siderúrgica e um estaleiro, para os quais o BNDES tinha garantido empréstimos de US$ 1,5 bilhão. Na Argentina, o BNDES se retirou de um projeto contratado com a OAS que contava com US$ 165 milhões do banco oficial. A obra foi retomada com recursos do governo de uma província argentina. O BNDES informou que está analisando os demais projetos, mas não deu detalhes. FÔLEGO A retomada desses empreendimentos deu algum fôlego para as construtoras atingidas pela Lava Jato, mas elas ainda parecem longe de encontrar o caminho para voltar a crescer de forma sustentável. Seu faturamento caiu muito nos últimos dois anos, bem como a carteira de projetos no Brasil e no exterior. As empresas têm encontrado dificuldades para obter obras. Com o governo federal e os maiores Estados brasileiros em situação financeira frágil, faltam recursos para novos investimentos. Alguns governos têm evitado fazer negócios com a Odebrecht, que admitiu ter pago propina em 11 países além do Brasil e é investigada em vários deles. Angola, país africano que é um dos maiores clientes da Odebrecht, deixou de depositar garantias exigidas pelos empréstimos do BNDES e está em negociação com o Brasil para que o banco de fomento libere recursos para as suas obras. Empresas associadas aos projetos no exterior também perderam com a suspensão dos empréstimos do BNDES. A Ecosan, que faz equipamentos para tratamento de água e resíduos industriais, cortou pela metade sua previsão de faturamento neste ano após o cancelamento de quatro projetos na África.
2017-08-10
mercado
null
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1925350-empreiteiras-investigadas-pela-lava-jato-retomam-obras-sem-bndes.shtml
Rombo na Petros custa R$ 14 bilhões aos empregados
No último dia 10 de setembro, enquanto visitava a filha em Campos, no norte fluminense, o engenheiro João Luiz Hygino Brandão, 63, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), que atribuiu ao estresse gerado em discussões sobre os rombos no plano de previdência privada dos empregados da Petrobras. "Passei meses discutindo esse absurdo com meus colegas. Foi somatizando dentro da cabeça e acabou colaborando para o AVC. Não vou dizer que foi só isso, mas ajudou —e muito", diz ele, que trabalhou na estatal por 26 anos até se aposentar, em 2012. Dois dias depois, a fundação Petros, que administra os fundos de pensão da Petrobras, anunciou o plano para cobrir o rombo de seu plano mais antigo, conhecido como PPSP: pelos próximos 18 anos, empregados e pensionistas contribuirão com R$ 14 bilhões e a empresa entrará com R$ 13,7 bilhões. Brandão é um dos 76.989 participantes que terão que ajudar. Ele diz que sua contribuição mensal subirá dos atuais R$ 965 para cerca de R$ 3.900, o equivalente a 34% de sua aposentadoria. Como uma grande parcela dos afetados, culpa o uso político da Petrobras e da própria fundação. "Se fosse para cobrir rombo gerado por perdas no mercado, até entenderia. Mas por desvio de dinheiro?", questiona. Além da aplicação em investimentos que deram prejuízo, o plano sofreu com decisões questionadas da Petrobras durante a gestão José Sergio Gabrielli, quando os sindicalistas Diego Hernandez, Wilson Santarosa e Armando Tripodi exerciam poder sobre a área de Recursos Humanos e a Petros. Uma delas é o chamado "acordo de níveis", com o qual a empresa passou a dar promoções a empregados da ativa nos processos de acordo coletivo, com o objetivo de garantir reajustes maiores. Os aposentados recorreram à Justiça, alegando que foram prejudicados, e receberam o mesmo direito, o que representou um custo adicional de R$ 2,2 bilhões no pagamento das pensões. Os empregados acusam ainda os sindicalistas de prejudicar a Petros ao aceitar, em 2008, acordo de R$ 4,6 bilhões com a Petrobras para ressarcimento para aposentadorias de empregados admitidos antes da criação da Petros, em 1970. O perito judicial calculou a dívida em R$ 13 bilhões. "A gestão sindical da empresa iludiu os trabalhadores com alguns ganhos pontuais, dando reajustes acima da inflação e participações nos lucros, mas isso comprometeu a renda futura", diz o técnico de refinaria Edson Almeida, que ainda está na ativa e terá sua contribuição ampliada de R$ 1.814,83 para R$ 4.779,33. "Esse processo vai gerar milhares de ações, se transformar em um imbróglio jurídico e vai acabar afundando a Petros de vez", alerta o engenheiro João Nazareth Mac-Culloch, também aposentado em 2012 pelo teto salarial da Petros e, por isso, sujeito à maior alíquota extraordinária, de 26,9%. A Petrobras informou que abriu investigações sobre fatos relacionados e que informará os resultados às autoridades competentes. "Desde que assumiu, em setembro de 2016, a atual gestão da Petros vem trabalhando para reforçar os controles internos, aumentar a transparência e aprimorar a governança." A fundação acrescentou que aprovou a nova política de investimentos para adequar a carteira ao perfil do plano e que, desde janeiro deste ano, os investimentos do plano PPSP acumulam alta de 9,04%, superior à meta atuarial de 6,14% para o período.
2017-08-10
mercado
null
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1925336-rombo-na-petros-custa-r-14-bilhoes-aos-empregados.shtml
Ciência e religião são importantes e não se excluem mutuamente, diz leitor
DENÚNCIA CONTRA TEMER Como se percebe, o ex-procurador-geral da República foi tachado pela defesa de Temer de "pistoleiro", "imoral e indecente", termos absolutamente incompatíveis com uma peça técnica de defesa e que foram, ainda que implicitamente, apoiados pelo presidente. Nos bancos das faculdades de direito e nas obras jurídicas, aprendemos que, nas peças técnicas, deve-se atacar os fatos, não as pessoas. São termos, portanto, inapropriados e, consequentemente, nada pedagógicos. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA ROBALDO, procurador de Justiça aposentado (Campo Grande, MS) * Se a esquerda diz que é golpe, e a direita também, chegamos à óbvia conclusão de que todos são golpistas. RICARDO C. SIQUEIRA (Niterói, RJ) - AUTORITARISMO Essa gente autoritária parece não ter memória. Esqueceram Collor, o "caçador de marajás", e o golpe contra a poupança dos brasileiros? Esqueceram os 21 anos de ditadura militar? Querem um salvador, um messias, e esquecem que somos nós, o povo, que os pomos no poder. Somos nós que podemos tirar de lá os corruptos que agem contra os interesses populares. HERBERT LUIZ BRAGA FERREIRA (Manaus, AM) * A criminalidade afeta mais fortemente os pobres, e as soluções autoritárias (controle do bairro por milícias ou traficantes, que lidam com esse problema impondo suas próprias leis) são sua experiência cotidiana. JOSÉ CLÁUDIO (Rio de Janeiro, RJ) * Acredito que, além da violência, os nossos atuais políticos -e até alguns nobres juízes, com raríssimas exceções- têm contribuído, e muito, para o descrédito das liberdades democráticas no país. GILDÁZIO GARCIA (Ipatinga, MG) - CIÊNCIA Como bem disse Albert Einstein, "a ciência sem religião é manca, e a religião sem ciência é cega". Acho que ambas são importantes para a humanidade, ambas são movidas pelo mesmo ideal, a busca pela verdade, mas com visões de mundo e questionamentos diferentes. Elas não se excluem mutuamente. Uma perscruta os mistérios do mundo físico, a outra os mistérios do mundo espiritual. CÉSAR A. LOPES JÚNIOR (Belém, PA) * A religião alimenta conflitos e radicalismos. Se o tempo e a evolução intelectual permitirem, iremos nos livrar dela de uma vez por todas. ROBERTO F. MOREIRA JR (Rio de Janeiro, RJ) - NOBEL É inacreditável que alguns meios de comunicação brasileiros não consigam dimensionar a extensão e a importância dos prêmios Nobel 2017 atribuídos, nas áreas das ciências naturais, a estudos fundamentais, os quais contribuem para elucidar fenômenos da natureza. A eterna expectativa desses formadores de opinião de que todo conhecimento científico deva ser essencialmente "aplicável ou utilitário" contribui para a nossa incapacidade de entender o verdadeiro significado do pleno desenvolvimento humano. Benedito H. Machado (Ribeirão Preto, SP) - COLUNISTAS A melhora da educação brasileira só ocorrerá depois da valorização da profissão docente, o que implica aumento de salário, redução da jornada de trabalho e um programa de formação continuada. Sem esses requisitos básicos, nossas escolas públicas continuarão no mesmo lugar. Foi o que foi feito na Coreia do Sul, citada na coluna de Claudia Costin ser professor ou professora, por lá, é coisa muitíssimo respeitada e valorizada socialmente. Por aqui, ser professora é uma função cada vez mais criminalizada. Nina Hotimsky (São Paulo, SP) - NUZMAN O Brasil deveria ser banido dos próximos Jogos Olímpicos, por ter comprovadamente trapaceado na escolha da sede. Essas punições deveriam mostrar ao povo brasileiro que não dá pra levar vantagem em tudo e tolerar a roubalheira. Mário Barilá Filho (São Paulo, SP) * Proponho um boicote geral: durante uma semana, ninguém vai aos estádios e ninguém assiste a nenhum programa esportivo, para exigir uma radical "limpeza" também nos esportes. Luiz Dalpian (Santo André, SP) * Em curto espaço de tempo, o Brasil sediou as duas maiores competições esportivas do mundo e seus dois principais responsáveis estão presos. Aos olhos do mundo, o Brasil não passa de um país corrupto. Nem mesmo a alegria do povo, o esporte, está livre. Luiz Thadeu Nunes e Silva (São Luís, MA)
2017-08-10
paineldoleitor
null
http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2017/10/1925278-ciencia-e-religiao-sao-importantes-e-nao-se-excluem-mutuamente-diz-leitor.shtml
Cem anos do golpe na Rússia
O termo "revolução" é usado em política para designar duas coisas. Pode indicar uma remoção imprevista do governo, em geral violenta e causada por forte agitação popular, à qual se segue a criação de uma nova ordem. E pode significar algo mais profundo, quando há mudanças na estrutura da sociedade, com eventual troca do predomínio de uma classe ou estamento por outro. A Revolução Russa, que completa cem anos, foi ambas as coisas. Há algo de circular na data, depois que o socialismo "real" se mostrou um beco sem saída e o capitalismo foi restaurado: o século 20 começa com estátuas de Lênin sendo erigidas e termina com essas estátuas postas abaixo. Da oferta de livros que se publicam agora em torno do centenário, pelo menos dois são voltados à revolução em si. "Manifestos Vermelhos "" E Outros Textos Históricos da Revolução Russa"(Companhia das Letras) é uma substanciosa compilação de documentos da época. Leem-se ali, além das insistentes invectivas de Lênin contra a hesitação dos colegas, a lacônica proclamação do regime socialista pelo comitê militar do Soviete de Petrogrado (hoje, São Petersburgo) na manhã de 25 de outubro (7 de novembro segundo o calendário atual) e o discurso do líder menchevique (facção moderada) Martov em que já se refere à tomada de poder como golpe. O organizador do volume, Daniel Aarão Reis, escreveu longa introdução de cunho histórico. O vernáculo não é seu forte, mas o que lhe falta em expressão é compensado pelo apego aos fatos, inesperado no militante dogmático que ele foi, o que torna seu ensaio muito recomendável para o leitor que quer se iniciar. "A Revolução Russa" (Todavia), da australiana Sheila Fitzpatrick, historiadora especializada no tema, é uma compacta reconstituição do período, do final do século 19 até a consolidação da ditadura de Stálin nos anos 1930. Esta autora se confina à história política e adota um andamento linear, convencional. Sua prosa insípida é expressão, porém, de um sólido bom senso anglo-saxão, e apesar de uma ingenuidade aqui ou uma condescendência ali, ela não tem meias palavras ao discernir a vocação autoritária no âmago do partido bolchevique e na conduta de Lênin bem antes da revolução. A autocracia czarista foi por séculos um regime quase impermeável à reforma. Um imenso inconformismo se represava, conforme a intelectualidade, convertida a ideias radicais, passou a doutrinar parcelas do campesinato, associando o socialismo ao cristianismo. Na transição do século, uma onda de industrialização estimulada pelo governo gerou um operariado urbano pequeno (3 milhões num país de mais de 130 milhões), mas ativo e concentrado em São Petersburgo e Moscou. Somente a derrota na guerra, porém, com a enorme energia destrutiva que acarreta em termos de colapso da autoridade e desabastecimento, fez a revolução afinal eclodir. O primeiro ato, a revolução de 1905, que viu nascer o soviete (conselho de delegados) de operários e soldados como mecanismo político, ainda permitiu margem de manobra à autocracia. Concedeu-se um Parlamento liberal (a Duma), fez-se depressa a paz com o Japão. A revolta logo perdeu ímpeto, e a monarquia restabeleceu o mando despótico. Em fevereiro de 1917, o império perdia outra guerra, contra a Alemanha, que consumira as vidas de 5 milhões de russos. Manifestações e greves forçaram a abdicação do czar, e o poder se dividiu entre um governo provisório, com base no Parlamento, e os sovietes. Em outubro, diante de indícios de que o governo provisório se preparava para reprimir o partido bolchevique, Lênin e Trótski desfecharam a tomada de poder, consumada sem resistência. Muitos apologistas da revolução se esquecem de que seu cortejo de horrores nunca prescinde de uma autêntica guerra civil, como a que devastou a seguir (1918-20) uma Rússia já exaurida. Mas a escalada autoritária começou antes. Em novembro de 17 foi eleita uma Constituinte em votação popular na qual os bolcheviques obtiveram 25% (os socialistas revolucionários, esquerda não marxista, venceram com 40%). Em janeiro de 18, o governo revolucionário dissolveu a Constituinte, que não acatava suas ordens. As demais legendas foram proscritas. Em 21, as tendências dentro do partido foram proibidas. Lênin morreu em 24. Em 29, Trótski foi deportado e teve início o culto à personalidade de Stálin. Nos "grandes expurgos" de 1937-8, nada menos que 680 mil execuções foram contabilizadas pela polícia política. No afã de apressar o advento de sua utopia social, os bolcheviques abortaram uma revolução democrática no nascedouro. Autorizados por uma doutrina que desculpava tudo em nome daquela utopia, passaram a agir como psicopatas.
2017-08-10
colunas
otavio-frias-filho
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/otavio-frias-filho/2017/10/1924908-bolcheviques-abortaram-revolucao-democratica-no-afa-de-apressar-utopia.shtml
Show do Milhão
Um dos avanços da reforma política seria a criação de um limite para o autofinanciamento de campanhas. Essa regra chegou a ser aprovada por deputados e senadores. Para a alegria dos milionários, o presidente Michel Temer vetou a mudança ao sancionar a nova lei. A Câmara havia fixado um teto de R$ 200 mil para todos os políticos que pretendem bancar as próprias candidaturas. Numa trapalhada legislativa, o Senado tentou derrubar o limite e impôs um valor ainda mais baixo, de R$ 9.690,00. Agora Temer resolveu o impasse a favor dos super-ricos. Com a canetada presidencial, eles poderão financiar até 100% de suas campanhas. Assim, as eleições de 2018 arriscam se tornar um grande Show do Milhão. Em vez de comprar votos, como sempre ocorreu, os magnatas poderão comprar mandatos. Para um ministro do Tribunal Superior Eleitoral, a derrubada do teto de autofinanciamento representa o primeiro "tiro de canhão" na sucessão presidencial. Ele avalia que o veto terá um beneficiário direto: o prefeito João Doria, cujo patrimônio declarado é de R$ 179 milhões. Em 2016, o tucano já levou vantagem na eleição de São Paulo ao injetar R$ 4,4 milhões na própria campanha. A autodoação representou 35% da receita do tucano e 57% do orçamento do segundo colocado, o petista Fernando Haddad. Além de ajudar o aliado Doria, o veto de Temer estimulará os partidos a lançarem outros magnatas. Isso tende a distorcer ainda mais a representação política dos brasileiros. Em 2014, quase metade dos deputados eleitos (248 dos 513) já tinham patrimônio superior a R$ 1 milhão. É ilusão pensar que os super-ricos vão tirar dinheiro do bolso para bancar suas campanhas, seja vendendo iates ou esvaziando contas no exterior. Exemplo simples: um lobista que quiser entrar na política poderá passar o chapéu entre empresários e dizer à Justiça Eleitoral que só usou recursos próprios. Qualquer semelhança...
2017-08-10
colunas
bernardomellofranco
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/bernardomellofranco/2017/10/1925266-show-do-milhao.shtml
Livro conta os 'fracassos' de cientistas que caçam respostas na natureza
Faz parte do trabalho de biólogos, arqueólogos, geólogos, ecólogos e de tanto outros "-ólogos" ir a campo para investigar seus objetos de estudo, sejam eles macacos ou vulcões. As excursões geralmente são planejadas com antecedência. As listas de equipamentos e de provisões são verificadas e reverificadas; a previsão do tempo, constantemente atualizada. O que poderia dar errado quando tudo está na ponta do lápis? Muita coisa, mostra um livro lançado recentemente pelo ilustrador francês Jim Jourdane. Ele reuniu episódios em que o trabalho de cientistas deu com os burros n'água e não economizou tinta para retratá-los –não só o que deu errado mas também como funciona cada pesquisa. A obra foi batizada de "Fieldwork Fail - The Messy Side of Science" (Fracassos no Estudo de Campo - O Lado Bagunçado da Ciência, em tradução livre, R$ 63, 77 págs.) e está disponível em inglês, francês e espanhol. A ideia, explica Jourdane, veio das redes sociais. Cientistas estavam compartilhando seus causos com a hashtag #fieldworkfail, algo como "#fracassonoestudodecampo". "Quando eu já tinha uma dúzia de ilustrações, pensei que elas poderiam muito bem compor um livro. Foi algo progressivo, a ideia não veio de uma hora para a outra", disse à Folha. Jourdane, que está com 34 anos, trabalhou os últimos sete anos na área de animação para a TV e também como ilustrador e quadrinista. Entre as histórias mais divertidas do livro, elenca o artista, estão a de uma cientista que, sem querer, grudou a si mesma num crocodilo na Indonésia. Também há o caso de um professor americano, que, em uma aula ao ar livre para 24 alunas do ginásio, libertou um pintassilgo (que tinha até nome, Mr. Flappy). O que ninguém esperava era que um falcão roubaria a cena, capturando violentamente o passarinho logo após ele ser libertado, em pleno voo –para o horror das garotinhas. O ilustrador também retrata seu próprio "fracasso": ter ficado por cinco minutos parado e desenhando no meio da floresta amazônica peruana, tornando-se uma espécie de "quartel general" para todos os insetos do local. Uma outra vez, quando tinha de observar macacos de madrugada, ele caiu em uma poça de lama. Com nojo de suas roupas, ficou de cueca no sereno da madrugada por duas horas até poder ir embora. O livro foi possível graças a um financiamento coletivo. Eram pretendidos € 8.700 e € 32.699 foram obtidos. O artista não descarta um novo volume, já que boas histórias não faltam. Mas "só a história [do fracasso] não é suficiente. Eu quero saber o que os cientistas estudam, sobre o que estão falando." Mas uma coisa é certa, diz Jourdane, "a prática de estudos de campo só é divertida por causa dos 'fracassos'." - Veja casos em que a pesquisa de campo não aconteceu como o esperado Macaco: animal que pertence à ordem dos primatas Biólogo: cientista que estuda as coisas vivas Pesquisa de campo: quando um cientista vai em busca de seu objeto de estudo na natureza Fracasso na pesquisa de campo: quando as coisas não saem conforme o planejado Grudenta A pesquisadora Agata Staniewicz acidentalmente grudou a si mesma em um crocodilo ao tentar instalar um rádio transmissor Rock'n'roll A ideia de Simon Dures era tocar som de búfalos para atrair leões. Acidentalmente tocou "Back in Black", da banda AC/DC. Os riffs de guitarra não atraíram os animais Derreteu Na primeira vez que Jessica Ball escalou um vulcão, as solas de suas botas derreteram. Ao tentar esfriá-las com água, os calçados encolheram Mordidinha Leo Soibelzon tentava colocar uma grande foca para dormir com um anestésico. O bicho mordeu sua nádega, arrancando cinco camadas de roupa
2017-08-10
ciencia
null
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/10/1925254-livro-conta-os-fracassos-de-cientistas-que-cacam-respostas-na-natureza.shtml
São Paulo ainda oferece pequenos oásis de ausência de barulho; confira
RAFAELA CARVALHO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Paulistanos apontam o barulho como uma das maiores desvantagens das regiões em que vivem –atrás da violência e da falta de transporte–, segundo pesquisa Datafolha. Numa cidade tão motorizada e movimentada, lugares silenciosos tornam-se pequenos oásis. E as vantagens de buscá-los se revelam em estudos científicos. Um levantamento feito na Universidade Yale (EUA), em 2011, mostrou que desfrutar de momentos de silêncio diminui a insônia e o estresse, reforça o sistema imunológico e a capacidade de concentração e alivia dores. Outra pesquisa, da Universidade Duke (EUA), de 2013, afirmou que o silêncio está associado com o desenvolvimento de células ligadas ao aprendizado e à memória. No Brasil, um programa realizado pela Faculdade de Saúde Pública da USP comprovou os benefícios da meditação. Confira lugares tranquilos na cidade, que encorajam os momentos de pausa e silêncio. Veja abaixo galeria cinco opções para fugir do barulho em São Paulo * TEMPLO BUSSHINJI A atmosfera de tranquilidade atrai tanto praticantes do zen-budismo quanto leigos e curiosos. "Apesar dos ruídos externos, o templo é um lugar propício para propagar os ensinamentos de Buda. Por ser um lugar com lições milenares e ofertas de incenso, torna-se um espaço bom para encontrar a paz interior. Só encontramos o silêncio quando ele parte de dentro de nós", diz Su-ei Sueli Mori, 61, monja onde: rua São Joaquim, 285, Liberdade quando: as meditações acontecem às quartas e sábados, a partir das 18h quanto: gratuito Telefone: 3208-4515 site: sotozen.org.br - JARDIM SUSPENSO DO CCSP Em dias que não há feiras gastronômicas, shows ou cinema aberto, o jardim suspenso do Centro Cultural São Paulo é um ótimo lugar para tomar banho de sol. "Dou aulas de ioga lá. Nesse espaço, a mente fica mais centrada e me sinto muito mais equilibrada. Muitos dos meus alunos me agradecem por eu ter apresentado esse lugar, já que é difícil achar uma área sem muitos ruídos na cidade de São Paulo", afirma Mariana Vilela, 24, instrutora de ioga. onde: rua Vergueiro, 1.000, Paraíso quando: de terça a sexta, das 10h às 20h; aos sábados e domingos, até as 18h quanto: gratuito telefone: 3397-4002 site: centrocultural.sp.gov.br - PEDRA GRANDE Leva-se em torno de uma hora para subir os 850 metros do Parque Estadual da Cantareira que levam até o topo da Pedra Grande. De lá, é possível ter uma vista ampla da cidade a partir da zona norte. O trecho de caminhada é asfaltado e pouco íngreme. O ideal é chegar até as 15h para ir e voltar sem pressa. "Lá consigo me desligar e recarregar as energias", diz Oswaldo Andrade Filho, 30, bombeiro onde: rua do Horto, 1799, Tremembé quando: ter. a dom., das 8h às 17h. Entre fevereiro e novembro, só no fim de semana quanto: R$ 14 por pessoa telefone: 2203-0115 site ambiente.sp.gov.br/parque-da-cantareira - JARDIM BOTÂNICO Com área de 360 mil metros quadrados, o jardim está em sua época mais colorida -é na primavera que as quaresmeiras, as três marias, e as tipuanas florescem. O espaço ainda preserva vegetação da mata atlântica e espécies ameaçadas. "Meus trechos preferidos são a nascente do rio Ipiranga e o orquidário", diz Marcos Youssef, 49, lojista onde: avenida Miguel Estéfano, 3031, Água Funda quando: terça a domingo, das 9h às 17h (até as 18h durante o horário de verão) quanto: R$ 10 (gratuito para quem tem até quatro anos ou mais de 60 anos e pessoas com deficiência). O estacionamento custa R$ 15 telefone: 5073-3678 / 5067-6000 site: jardimbotanico.sp.gov.br - MOSTEIRO DE SÃO BENTO Além de ficar aberto para visitação durante o dia, o mosteiro recebe quem é religioso ou não e queira participar de grupos de meditação -são cinco grupos em cinco dias diferentes da semana. Não é preciso fazer inscrição prévia. "Aos poucos, percebi que o silêncio de fora me ajudou a buscar momentos de silêncio na minha mente também", afirma Maria Vanda Andrade da Silva, 66, advogada onde: largo de São Bento, s/nº, Centro quando: grupos de meditação acontecem às segundas (18h30), às terças (18h), às quartas (20h), às quintas (19h30) e aos sábados (11h). A igreja permanece aberta durante o dia quanto: gratuito telefone: 3328-8799 site: mosteiro.org.br + ERRAMOS: O conteúdo desta página foi alterado Diferentemente do informado, o valor do ingresso do Parque Estadual da Cantareira é R$ 14, e não R$ 9. Pessoas com 60 anos ou mais não pagam, assim como crianças de até 11 anos e 11 meses
2017-08-10
sobretudo
morar
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/10/1925122-sao-paulo-ainda-oferece-pequenos-oasis-de-ausencia-de-barulho-confira.shtml
Sete canções para tocar nos fones dos pequenos no Dia da Criança
AMANDA NOGUEIRA DE SÃO PAULO Está em busca de uma trilha sonora para o Dia da Criança, na próxima quinta-feira (12)? Confira sete dicas para curtir no feriado com os pequenos. * 'O Sol e a Lua' Pequeno Cidadão, banda que Edgard Scandurra (Ira!), Taciana Barros e Antonio Pinto montaram com seus filhos, mostra como fazer música de qualidade sem derrapar em receitas batidas. O grupo faz uma apresentação gratuita nesta quinta-feira (12), no Sesc Bom Retiro. Video * 'O Leãozinho' Um clássico é um clássico. A canção de Caetano Veloso embalou gerações com seu violão dedilhado e virou referência para artistas como Mallu Magalhães. Curiosamente, a composição foi escrita no fim dos anos 1970 para um adulto que hoje já é avô —o baixista Dadi Carvalho. Vídeo * 'A Noite no Castelo' Idealizado por Luiz Tatit, o grupo Rumo lançou em 1988 o premiado álbum "Quero Passear", que traz "A Noite no Castelo" e outras canções. A obra foi precursora da dupla Palavra Cantada, um dos principais grupos infantis do país hoje —Paulo Tatit, irmão de Luiz, é um dos integrantes. Vídeo * 'Preto no Branco' A canção curtinha e percussiva aborda as diferenças raciais de forma lúdica e, ao mesmo tempo, despretensiosa: "A gente é feito filme antigo / é bonito em preto e em branco". A faixa integra o repertório simples, mas não simplório, do grupo Cria, finalista do 25º Prêmio da Música Brasileira. Vídeo * 'Brincadeira de Menina' Aos 13 anos, a rapper MC Soffia é uma das principais vozes de sua geração. Em suas letras, ela expõe o olhar da criança sobre o cotidiano desafiador, falando sobre temas como racismo e feminismo. Na música, ela dispara: "As minas fazem tudo, até mandar umas rimas". Vídeo * 'Yellow Submarine' Para as crianças que já entendem um pouco de inglês, o álbum "Yellow Submarine" —trilha sonora da animação homônima—, dos Beatles, é um prato cheio. Na faixa-título, sons de tempestade e sinos de navio, gravados com engenhocas no estúdio, remetem à vida em alto-mar. Vídeo * 'Passarinhos' Em seu álbum mais recente, "Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa", de 2016, o rapper Emicida se envereda por letras lúdicas, como em "Passarinhos", que conta com participação de Vanessa da Mata. O clipe da faixa faz um bom lobby pela leitura. Vídeo
2017-08-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1925076-sete-cancoes-para-tocar-nos-fones-dos-pequenos-no-dia-da-crianca.shtml
Stephen King lança livro com o filho caçula Owen; leia a entrevista
"Minha mulher achou o manuscrito na lata de lixo. Leu e entregou de volta para mim. Pediu que eu não desistisse daquela história, porque era muito boa." O manuscrito era um esboço de "Carrie, a Estranha", e quem conta o episódio é o escritor americano Stephen King, 70, que já vendeu mais de 400 milhões de livros no mundo. "Carrie" foi o primeiro que lançou, em 1974. A importância de Tabitha Spruce na vida de King, com quem está casada há 46 anos, surgiu como assunto na conversa do escritor numa manhã nova-iorquina dedicada a encontrar jornalistas estrangeiros na sede da editora Simon & Schuster. Mulheres foram assunto durante grande parte das respostas de King. Ele escreveu, com o filho caçula, Owen, 40, o livro "Belas Adormecidas", que será lançado no Brasil no próximo dia 16. King no Cinema - A avaliação dos cinéfilos para filmes baseados em livros do escritor "Um dia perguntei ao meu pai o que achava da ideia de um livro em que, num dia qualquer, todas as mulheres do mundo não acordassem. Eu queria que ele escrevesse, ele se recusou. Ficamos com a ideia nos rondando por um tempo e então veio a ideia de escrevermos juntos. Mas não tínhamos ainda personagens, era só uma ideia engraçada." Owen é interrompido por King, que fala, em tom brincalhão, que o filho está falando bobagens ("bullshit" é a palavra utilizada). Diz então que não é bem assim. "Owen já tinha uma coisa bem mais formatada, que é a combinação da ideia das mulheres que não acordam com o cenário de uma prisão feminina", explica o autor. De bom humor e ar jovial, King morde um palito de dente, algo que continuou fazendo durante a entrevista inteira –ele tinha alguns palitos no bolso de sua camisa. MICROCOSMO Como em praticamente todos os seus 56 romances e mais de 200 contos, a ação se passa numa cidadezinha. Esta se chama Dooling. "Pensamos também em colocar a prisão numa cidade pequena, porque o que aprendi na escola, nas aulas de literatura, é que um microcosmo reflete o macrocosmo. Você pode usar um lugar pequeno para falar de tudo", justifica King. Com a carreira bem-sucedida, agora marcada entre sua estreia com "Carrie", livro sobre uma garota paranormal que sofre bullying, e as mulheres em apuros de "Belas Adormecidas", King fala muito sobre a presença feminina em sua vida. Ele foi criado pela mãe. Quando tinha dois anos, seu pai saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. King insiste que foi exatamente assim, sem inventar a situação que lembra piada recorrente. Ela não queria que o menino ficasse estigmatizado como filho de mãe solteira. Então mandou que ele respondesse a quem perguntasse que o pai estava na Marinha. "Minha mãe tinha cinco irmãs e todas estavam por perto o tempo todo. Quando comecei a publicar livros, vi que as mulheres eram aquelas que faziam as coisas acontecerem nas editoras. Encontrei grandes profissionais. Então sempre convivi bem com mulheres, me sinto confortável trabalhando com mulheres e escrevendo sobre elas." "Belas Adormecidas" mostra as mulheres pegando no sono e não despertando mais. Fios crescem rapidamente de seus cabelos e formam casulos em torno de suas cabeças. Os homens se revoltam com a situação, em desdobramentos violentos e desesperados. A dupla de autores ri diante da pergunta: seria possível escrever um livro em que os homens caíssem no sono eterno e deixassem as mulheres sozinhas na Terra? "Acho improvável", responde Owen. King pega mais pesado: "Impossível. Vejo os homens agressivos, confrontadores. Veja Donald Trump e o ditador da Coreia do Norte. Uma briga louca de machos alfa. Se todos os homens dormissem, acho que as mulheres trabalhariam muito bem juntas. Não haveria confronto, não haveria história". VISITA AOS PRESÍDIOS Owen visitou penitenciárias femininas. Segundo o pai, trouxe tristeza para a narrativa. "Ele esteve na prisão de New Hampshire. A biblioteca tinha todos os meus livros! Pobres mulheres!", brinca. A dupla pensou meses sobre as consequências que essa situação poderia render no enredo. No fim, eles optaram por contar apenas os primeiros dias após o surgimento da estranha condição das mulheres, sem ampliar a ação para fora de Dooling. "E, como todas acabariam dormindo, pensamos no personagem masculino para amarrar a história, que é o psiquiatra da prisão, Clint", conta Owen. "Mas ele não é um herói, um personagem que salva outros em várias situações durante a trama." King diz estar muito satisfeito com os personagens que inventaram. "Ele têm imperfeições, são realistas, ninguém é só bonzinho ou totalmente maldoso. O desafio, para mim, é lembrar sempre que cada personagem faz aquilo que acha certo, mesmo que para algumas pessoas ele esteja terrivelmente errado. Você precisa ficar ao lado de cada um deles." Com tantos personagens –o livro tem no começo uma lista de todos, para facilitar a leitura–, "Belas Adormecidas" poderia funcionar como uma série de TV. Owen revela que a ideia inicial chegou a ser um roteiro para uma, mas, quando os dois se uniram para o trabalho, a opção pelo livro foi mais sedutora. Segundo os dois, o processo foi "pacífico" –palavra usada por Owen. Não houve brigas. "Foi como jogar tênis. Um passando a bola para o outro", conta o pai. Owen às vezes escrevia cerca de 30 páginas e perguntava ao pai para onde ele iria a partir daquele ponto. "Já escrevi em parceria antes, até com meu filho mais velho, Joe Hill, mas isso foi totalmente diferente", opina King. "Houve uma mistura..." Owen interrompe o pai. "Sei que as pessoas podem ficar tentadas a ler o livro procurando saber quem escreveu cada parte, mas nem nós temos condições de dizer." King dá sua versão: "Eu penso que o livro foi escrito por uma terceira pessoa, que é a combinação de nós dois. O resultado é totalmente diferente do que cada um escreveria sozinho. Depois de "Belas Adormecidas", Stephen e Owen King pretendem repetir a experiência de escrever um romance em parceria. "Eu quero, pode apostar", diz Owen. "Foi tão estranho propor uma ideia ao meu pai e ele aceitar. Não é algo tão natural como as pessoas podem pensar." King defende que a relação entre os dois, durante o projeto, deixou de lado a ligação de pai e filho. "Tinha de fazer isso. Respeito Owen como escritor. Uma atitude paternalista nunca esteve na minha cabeça, em nenhum momento." Embora concorde com o pai e diga que realmente tiveram uma relação de colegas escritores, Owen afirma que há uma carga adicional nesse processo. "Estou com 40 anos, escrevi outros livros e tenho minha família. Mas, por mais de um ano, conversamos sobre esse livro. Horas e horas de trabalho lado a lado. Quem é o filho que, na minha idade, consegue passar tanto tempo assim com o pai? Além do mais, ele é incrivelmente ocupado." A pergunta é inevitável: o que o pai ensinou ao filho sobre seu ofício de escritor? "Escrever todos os dias. Ou pelo menos tentar. Ele me diz isso desde que eu era criança", responde Owen. "Tento dedicar o máximo de tempo que eu posso a escrever." O próprio King afirma procurar seguir essa diretriz. Mas nem sempre ele consegue. "Tento escrever todos os dias, mas você tem família e coisas chatas para fazer, como ir ao dentista, fazer reunião com advogados ou ser entrevistado por jornalistas estrangeiros", diz, rindo. Owen segue no assunto. "Pessoas acham que livros saem fácil. Eu vi minha mãe escrever das nove da manhã às cinco da tarde e, no resto do tempo, cuidar da casa, cuidar de nós. Claro que existem as histórias de sucesso na literatura, mas é inegável que o tempo que você precisa dedicar a isso é enorme." HERANÇA CRIATIVA King pede a palavra. "Todos os meus filhos trabalham duro. Eles têm um pouco da minha imaginação, e da imaginação da mãe deles, que também é uma romancista. Cresceram nessa atmosfera, com livros por todo lado." Ele diz se lembrar da infância de Owen, numa época em que ele era o único garoto da turma que não via TV. A família morava afastada das antenas e não tinha sinal de TV, então o menino se voltava aos livros. E gibis. "Homem-Aranha, claro! Peter Parker ia a todos os lugares comigo!" O dia a dia de King quando os filhos eram pequenos foi, segundo ele, "normal". "Apenas durante um curto período eu escrevi no porão, porque meu filho Joe tinha quatro anos e um dia pegou o estojo de lápis de cor e desenhou sobre boa parte de um de meus manuscritos." King então alugou um cômodo de uma vizinha, onde concluiu o texto de "O Iluminado". "Mas quero dizer uma coisa", pede. "Depois que passei a ter um escritório em casa, eu nunca fechei a porta. Meus filhos entravam ali sempre que queriam." Além de procurar tempo para escrever diariamente, King se ocupa com o Twitter e preserva o hábito de ler sempre algum livro, um em seguida ao outro. "Mas não leio depressa, quero apreciar a história. Tenho sempre um livro comigo, gosto da companhia. Sabe que Owen gravou para mim em fitas cassete 'Guerra e Paz', de Leon Tolstói, para que eu escutasse no carro?" "Sim, fiz isso com outros livros. Gravei 'O Senhor dos Anéis' para ele. Comecei aos oito anos. Sou bom nisso até hoje, acho tranquilo ler para o público trechos dos meus livros em lançamentos." Quanto ao Twitter, King se empolga. "Twitter é uma ferramenta poderosa para comprimir uma ideia. Todos os meus livros começam com um ideia clara, que fico remoendo muito tempo. Depois eu passo para os personagens, mas a ideia está decidida. Acho que todos os meus livros podem ser resumidos em um tuíte." O jornalista Thales de Menezes viajou a convite da editora Companhia das Letras
2017-08-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925083-stephen-king-lanca-livro-com-o-filho-cacula-owen-leia-a-entrevista.shtml
Edifício Emília representa alternativa para as avenidas esvaziadas
A bela marquise revestida de pastilhas coloridas se encontra desfigurada por grades pontiagudas, que arruinam a fachada deste predinho na rua dos Pinheiros. Poucos imóveis em São Paulo parecem ter levado em conta o resultado estético de seu arsenal de segurança -ou até questionado a eficácia dessas barreiras em evitar assaltos. Mas o que chama a atenção no Emília é a demonstração de que adensamento não é sinônimo de arranha-céu. Em um terreno estreito, onde caberiam apenas duas casas, o edifício de três andares abriga 14 apartamentos entre 104 e 110 metros quadrados. Multifuncional, ainda tem dois espaços comerciais na fachada, uma loja de moda e um ateliê de costura. A calçada agradece. Em uma cidade onde milhões moram a horas de distância de seus trabalhos, enquanto áreas centrais são salpicadas de terrenos vazios ou de casas com poucos moradores, o Emília representa uma alternativa para avenidas esvaziadas como Brasil e Rebouças. Com a fachada estreita, o arquiteto decidiu colocar salas e quartos virados na lateral. Criou um respiro, para garantir luz e ventilação para eles, deixando praticamente metade do terreno livre. Nessa área não construída, ficavam um tanque de areia e um playground, que desapareceram para permitir mais vagas de garagem. O projeto singelo foi capa da revista "Acrópole", que era a principal publicação sobre arquitetura paulistana, em março de 1955. O arquiteto Israel Galman, judeu romeno que chegou ao Brasil aos nove anos com os pais, foi aluno de Vilanova Artigas e estagiário de Henrique Mindlin. Após se formar, logo abriu a sua própria construtora. Projetou, incorporou e construiu mais de 20 prédios em São Paulo, no Guarujá (SP) e em Manaus (AM). Um outro predinho feito por Galman, de projeto superior ao Emília, foi demolido há poucos meses na rua Tucumã, perto do Clube Pinheiros.
2017-08-10
colunas
rauljustelores
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/rauljustelores/2017/10/1924769-edificio-emilia-representa-alternativa-para-as-avenidas-esvaziadas.shtml
USP, a queda de uma gigante e o vilão Enade?
Na edição de 2017 do Ranking Universitário Folha (RUF), a USP caiu para a 3ª posição na classificação geral das universidades, precedida pela UFRJ, que permanece na liderança pelo segundo ano consecutivo. A segunda posição passou a ser ocupada pela Unicamp. A queda de uma gigante como a USP no RUF, universidade que sempre aparece em primeiro lugar nos rankings internacionais, vem sendo atribuída a sua não participação no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). De fato, se a USP participasse do Enade e obtivesse nota similar à Unicamp e à UFRJ, ocuparia a primeira posição no ranking. Contudo, esta análise simplista retira a atenção do que importa: os resultados alcançados pela USP já não dão a esta universidade uma posição dianteira que a mantenha em larga distância com relação às demais. Que a USP mantenha os mesmos resultados ano a ano, isto não é suficiente para que ela ocupe a primeira posição no RUF. Pode-se argumentar que haveria uma distorção na metodologia do RUF, já que a USP permanece na dianteira nos rankings internacionais. Sabemos que a UFRJ e a Unicamp possuem menor prestígio internacional que a USP; dessa maneira, perdem posições nos rankings internacionais. O principal argumento defendido para entender a queda da USP no RUF é que a universidade perde pontos ao não participar do Enade, que passa a ser o vilão da história e um vilão que desvia nosso olhar para o que importa. O desempenho da USP sinaliza para uma crise no sistema universitário brasileiro. Pouca luz é dada à verdadeira questão. Se o indicador do Enade já vinha sendo utilizado em edições anteriores do RUF, por que a USP, que sempre foi a primeira colocada no ranking, nos dois últimos anos vem perdendo posições? A diferença de pontuação da USP, primeira colocada em 2012, ano de lançamento do RUF, com a então terceira colocada, a UFRJ, era de 7,77 pontos. Hoje, com a inversão de posições, a diferença é de 0,18 ponto. A USP mantém a liderança em pesquisa, inovação e mercado, e é a segunda em internacionalização e nona em ensino. Fica evidente que, mesmo não pontuando na nota do Enade, a USP não está mais anos- luz à frente de outras universidades brasileiras. Na metodologia do RUF, o resultado do Enade integra a avaliação de ensino. É notório que o Enade apresenta várias limitações. De um lado, uma parcela de estudantes boicota esse exame, cuja nota não surte efeitos no histórico escolar. De outro, emergem relatos sobre manipulação de resultados do Enade por Instituições de Ensino Superior (IES). Para as instituições, o resultado no Enade impacta diretamente a avaliação dos cursos. Apesar dos questionamentos, o exame é a única avaliação oficial do Ministério da Educação (MEC) aplicada aos concluintes dos cursos de graduação. Por isso, a importância da sua utilização como indicador do RUF, que, com caráter nacional, procura atentar às especificidades do sistema de ensino superior brasileiro. Em sua última aplicação, em 2016, o Enade teve a participação de 195.757 estudantes. A queda da gigante USP é um termômetro para a dramática situação das universidades brasileiras, que atravessam um crescente corte de recursos para ensino e pesquisa. É um equívoco atribuir a queda da posição da USP no RUF ao Enade. Como vimos, se obtido o mesmo resultado da Unicamp e da UFRJ no Enade, a USP alcançaria a dianteira do ranking, mas isso em nada diminuiria o que o RUF aponta: precisamos pensar sobre os rumos e sobre os mecanismos institucionais para que a universidade brasileira continue a crescer. ROGERIO MENEGHINI, 76, é diretor científico do SciELO, professor titular aposentado da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências ESTÊVÃO GAMBA, 42, é doutorando da Universidade Federal de São Paulo PARTICIPAÇÃO Para colaborar, basta enviar e-mail para [email protected] Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
2017-08-10
opiniao
null
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/10/1925158-usp-a-queda-de-uma-gigante-e-o-vilao-enade.shtml
Cem anos após Duchamp, debate sobre os limites da arte ainda gera polêmica
RESUMO Autor argumenta que influência do artista Marcel Duchamp se estende até hoje, cem anos depois da controversa apresentação de "Fonte". A obra, um mictório assinado, inaugurou o chamado ready-made. Outros trabalhos do francês envolveram questões de gênero e o nu, que voltaram a causar polêmica nas artes. * Pode alguém fazer obras que não sejam obras de arte? MARCEL DUCHAMP Há exatos cem anos, em 1917, o francês Marcel Duchamp (1887-1968) apresentou para o Salão dos Artistas Independentes de Nova York um objeto intitulado "Fountain" ("Fonte"). Para participar do evento, era necessário levar o trabalho e pagar uma taxa de US$ 6, pré-requisitos cumpridos pelo artista, que inscreveu a obra sob o pseudônimo de R. Mutt. "Fonte", no entanto, não foi aceita. Material e visualmente, a peça não se diferenciava de um objeto comum. Tratava-se apenas de um mictório invertido, assinado e datado na borda. A pergunta surgiu de imediato: será isso arte? A resposta, naquele momento: "não". Enquanto pinturas, esculturas e mesmo as recém-criadas fotografias eram facilmente digeridas pelo público e pelo próprio circuito artístico, o urinol de Duchamp causou indigestão. Como em outros períodos da história, inclusive no presente, a proposta inovadora e questionadora do "status quo" vigente na arte, não sendo bem recebida nem compreendida, provocou perplexidade, dúvidas e indignação. O gesto criou uma fissura e abriu um portal de liberdade criativa para os artistas vindouros, que, adotando a ação duchampiana como referência, puderam se livrar de séculos de dominação de obras retinianas (atreladas à visão) e olfativas –termo utilizado por Duchamp para aludir ao forte odor de terebintina das pinturas a óleo predominantes no período. Foi uma ruptura com uma concepção que valorizava apenas a técnica e reconhecia como artistas somente aqueles que eram tidos como bons pintores e escultores. Duchamp definiu "Fonte" como um ready-made, que, traduzido literalmente, significa "já feito, pronto, produzido, manufaturado". O novo conceito punha em xeque não só a forma e o conteúdo artísticos convencionais mas também a noção de autoria, inserindo ainda o público no processo artístico, que somente se completaria com a interpretação do espectador. Com o ready-made, Duchamp levou a novo patamar as controvérsias que já vinha alimentando. Em 1913, por exemplo, dois anos antes de o artista migrar de Paris para Nova York, o célebre "Nu Descendo a Escada" obteve grande destaque e provocou enorme agitação ao ser exposto nos EUA. EVOLUÇÃO DA ARTE "Nu Descendo a Escada" ainda dialogava com o cubismo, movimento notabilizado sobretudo pelo espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e que integra a espécie de linha da evolução artística traçada pelo americano Clement Greenberg (1909-94). Para ele, é possível identificar um percurso que vai do Renascimento (fins do século 14 a fins do 16), quando o conceito de arte estava atrelado ao belo e à busca pela reprodução fidedigna da realidade, ao expressionismo abstrato do americano Jackson Pollock (1912-56), cujos quadros se afastavam de qualquer noção figurativa. Segundo Greenberg, a passagem das características miméticas na pintura para as caraterísticas não miméticas começou com o modernismo, conjunto de tendências artísticas inaugurado pelo impressionismo do francês Édouard Manet (1832-83) e que englobou, entre outras correntes, o cubismo, o concretismo e o abstracionismo. Duchamp, porém, seguiu outro caminho: investigou a linguagem da arte e, já no começo de sua promissora trajetória de pintor, dizia-se cansado do cheiro de terebintina e do ato de pintar. Para ele, a arte deveria estar a serviço da mente, estimulando reflexões por parte do público, e não se reduzir a um deleite visual. Parece consequência natural de suas propostas que Duchamp não tenha se enquadrado em nenhuma tendência específica, apesar de sua aproximação posterior com ideias dadaístas e surrealistas –movimentos que estavam fora da linha evolutiva de Greenberg. De fato, Duchamp estava fora de qualquer curva. Com sua inovação, ele ampliou o entendimento de arte além das questões postas por Greenberg, incorporando conceitos hoje recorrentes e fundamentais para a compreensão da produção artística. Apropriação, deslocamento, humor, questionamento da autoria e (inter)participação do público são algumas das chaves introduzidas pelo ready-made. Ao se apropriar de um urinol —proveniente da indústria e produzido em larga escala— e deslocá-lo de sua função natural, o francês desafiou a concepção de originalidade e unicidade do objeto artístico e transferiu uma etapa de sua elaboração para o campo mental. Nas palavras de Duchamp, "o ato criador não é executado pelo artista sozinho; o público estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades intrínsecas e, dessa forma, acrescenta sua contribuição ao ato". Ou seja, o artista opera como propositor de ideias, e os trabalhos se completam com a percepção do espectador. RESSONÂNCIA Apesar do frisson que Duchamp causou nas primeiras décadas do século 20, sua chegada ao ideário artístico global ficou evidente somente nos anos 1950 e 1960, quando aconteceu o que intitulo uma "ressonância mórfica duchampiana" nas artes. Aqui, em consonância com o processo de apropriação e deslocamento, aproveito livremente esse conceito científico e o aplico à argumentação. A ressonância mórfica, ou "lenda do centésimo macaco", é uma teoria difundida pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake. Ele imagina duas ilhas habitadas pela mesma espécie de macaco, sem contato perceptível entre elas. Um símio de uma das ilhas descobre um jeito mais eficaz de quebrar cocos. Por imitação, o procedimento se difunde. Quando o centésimo macaco aprende a técnica, os símios da outra ilha começam a quebrar cocos da mesma maneira e de forma espontânea, a tal ponto que o conhecimento parece incorporado aos hábitos da espécie. A partir dessa imagem fictícia, Sheldrake sugere a existência de campos mórficos, ou seja, estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam o comportamento de todos os sistemas do mundo material, de modo que, por meio da "ressonância mórfica", a informação é coletivizada. Algo como uma ressonância mórfica duchampiana pôde ser percebida em diferentes países, mais ou menos em um mesmo período –guardadas as particularidades de cada local. Pode-se afirmar que o legado de Duchamp está diretamente conectado com o surgimento da pop art na Inglaterra e nos EUA, do novo realismo na França, da arte povera na Itália, das ações do grupo japonês Gutai, do alemão Joseph Beuys e de artistas na América Latina, incluindo brasileiros. Nesse âmbito, destaca-se, no cenário nacional, o trabalho dos artistas neoconcretos do Rio de Janeiro, capitaneados por Hélio Oiticica (1937-80), Lygia Clark (1920-88) e Lygia Pape (1927-2004); de dois membros do grupo Rex de São Paulo, Wesley Duke Lee (1931-2010) e Nelson Leirner (1932-); e as séries "Popcretos", de Waldemar Cordeiro (1925-73) e Augusto de Campos (1931-), exibidas na galeria Atrium, na capital paulista, em 1964 –mesmo ano em que Andy Warhol (1928-87) apresentou na Stable Gallery, em Nova York, a mostra "Brillo Box", considerada pelo filósofo e crítico americano Arthur Danto o ponto de virada que decretou "o fim da arte". Danto declara que, a partir da mostra de Warhol e da elevação de elementos comuns à categoria de obra artística, os critérios formais e visuais não bastavam mais para separar o que é arte daquilo que não é. Diferentemente de "Fonte" de Duchamp, a "Brillo Box" de Warhol não foi contestada. Tendo sido aceita como obra de arte, pôs um ponto final na linearidade histórica evolutiva e progressiva, formalista e materialista, proposta por Greenberg, que definia o que era arte a partir da análise de um estilo, da técnica e do material empregados. FIM E PRINCÍPIO No entanto, o "fim da arte" identificado por Danto é, paradoxalmente, o provável início daquilo que denominamos arte contemporânea, que tem como uma de suas características a impossibilidade de classificação por estilos, movimentos ou "ismos". A partir do final dos anos 1950 e aos poucos, os artistas foram incorporando os temas propostos quase meio século antes por Duchamp em seus ready-mades, ressignificados por eles de acordo com cada contexto local e realidade individual. Duchamp, entretanto, tinha consciência da vulnerabilidade à banalização do próprio gesto e buscou, de certa forma, proteger o ready-made com rigor e definições enigmáticas. Ele criou cerca de 20 desses trabalhos e prescreveu procedimentos que tornam praticamente inviável a produção de outros ready-mades duchampianos. A escolha de um objeto pela absoluta indiferença por parte do artista, sem abordar questões estéticas, conceituais ou históricas, é uma das armadilhas: outros artistas sempre estarão citando o próprio Duchamp em suas ações de apropriação e deslocamento. O francês gostava de manter uma aura misteriosa em torno do ready-made e, até o fim de sua vida, não encerrou a questão. Certa vez, afirmou: "O curioso sobre o ready-made é que nunca arrumei uma definição ou explicação que me deixasse totalmente satisfeito". Contudo, a apropriação de elementos do mundo e seu deslocamento para o universo da arte são as chaves para o entendimento. Segundo o mexicano Octavio Paz (1914-98), vencedor do Nobel de Literatura, "em alguns casos os ready-mades são puros, isto é, passam sem modificação do atestado de objeto de uso ao de 'antiobras de arte'; outras vezes, sofrem retificações e emendas, geralmente de ordem irônica e tendente a impedir toda confusão entre eles e os objetos artísticos". "Fonte" está relacionada com o primeiro conceito; "Roda de Bicicleta", outro famoso ready-made de Duchamp, é um exemplo do estilo retificado. Mais de uma vez Duchamp ressaltou que "o grande problema era o ato de escolher. Tinha de eleger um objeto sem que ele me impressionasse e sem a menor intervenção, dentro do possível, de qualquer ideia ou propósito de deleite estético. Era necessário reduzir meu gosto pessoal a zero. É dificílimo optar por um objeto que não nos interesse absolutamente, e não só no dia que o selecionamos, mas para sempre, e que, por fim, não tenha a possibilidade de tornar-se algo belo, agradável nem feio". DUCHAMP PRESENTE O debate entre o belo e o feio não é mesmo a questão da arte na "era pós-Duchamp". Segundo Paulo Herkenhoff, importante curador brasileiro, "vivemos em um ambiente artístico saturado de Duchamp". O francês é uma das principais influências para os artistas na atualidade, uma personagem tão importante para a história da arte quanto Picasso, por exemplo. No Brasil, aquele 1964, ano do "fim da arte" de Danto e do início da ressonância mórfica duchampiana brasileira, também foi marcado pelo golpe militar. O país vinha de um período de maturação e efervescência cultural e de uma produção intelectual conectada com as vanguardas. Na década de 1950, Brasília foi construída pelos arquitetos Oscar Niemeyer (1907-2012) e Lúcio Costa (1902-98), a bossa nova de João Gilberto e Tom Jobim (1927-94) ganhou o mundo, a literatura local foi revolucionada pela poesia concreta de Augusto de Campos, Décio Pignatari (1927-2012) e Haroldo de Campos (1929-2003) e a Bienal de São Paulo foi criada, impulsionando um diálogo direto com a cena artística internacional. A partir de meados dos anos 1960, a ressonância mórfica duchampiana e a ditadura militar (1964-85) passaram a nortear parcela expressiva da produção artística brasileira. Aos poucos, os nomes que surgiam se distanciaram da heterodoxia estética do concretismo da década anterior e se aproximaram da arte conceitual, abordando constantemente temáticas políticas e de preocupação social. Artistas brasileiros importantes, que iniciaram sua trajetória no fim dos anos 1960 e na década de 1970, possuem estreita conexão, quase visceral, com a obra de Duchamp: Tunga, Antonio Dias, Waltercio Caldas, José Resende, Carmela Gross, Artur Barrio, Regina Silveira, Paulo Bruscky e Cildo Meireles são alguns deles. O projeto Inserções no Circuito Ideológico, de Meireles, por exemplo, é uma das propostas mais criativas a partir dessa chave dupla: Duchamp e política. Frases inscritas em garrafas retornáveis de refrigerante e em cédulas de dinheiro foram o modo encontrado pelo artista para transmitir e espalhar sua mensagem –no caso, sua obra de arte. Bruscky é outro que, desde o início, realiza ações e obras que questionam o sistema da arte, como no projeto performático "O que É a Arte? Para que Serve?". Muitas dessas propostas foram vistas com grande desconfiança pelos militares-políticos e pelo público em geral. Assim como o ready-made de Duchamp, não foram reconhecidas como arte num primeiro momento. Tiveram que esperar alguns anos para serem absorvidas —o que começou a ocorrer, de forma gradual, somente na década de 1980, com o processo de redemocratização do país. POLÊMICAS RECENTES Nos anos 1980, os artistas brasileiros começaram uma inclusão, ainda que tímida e pontual, no cenário artístico global, incluindo museus, instituições, bienais e galerias. O retorno à democracia e a inserção dos artistas brasileiros na cena internacional arrefecem o viés político da produção local, mas não a influência de Duchamp. Os conceitos de apropriação e deslocamento tornaram-se recorrentes e foram amplamente incorporados. Até o final dos anos 1990, os artistas brasileiros pautaram-se com frequência por questões sociológicas, em consonância com os anseios de mudança no país. A situação econômica difícil, a desigualdade social gritante e o "jeitinho" foram apropriados em abordagens que estabeleceram uma "estética da gambiarra", que se tornou um verdadeiro ready-made tupiniquim. Hoje, se o tipo de obra nascida com o ready-made divide espaço com outras abordagens, nem por isso Duchamp deixa de ser o paradigma principal. As polêmicas mais recentes no cenário das artes no Brasil —o abrupto fechamento da mostra "Queermuseu" pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, e os protestos contra a performance "La Bête", do artista Wagner Schwartz, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo— resgataram questionamentos acerca da validade do fazer artístico e da liberdade de expressão absoluta por parte dos artistas. Tais questões evidenciam mais uma vez a influência e o vanguardismo de Duchamp, que, dez anos após ter causado perplexidade com o urinol, surgiu como Rrose Sélavy, seu alter ego feminino. O sobrenome brinca com a expressão francesa "c'est la vie", "assim é a vida". Sélavy fez poucas e marcantes aparições públicas. Na primeira delas, numa foto de 1927, o artista aparece travestido de mulher, introduzindo discussões sobre questões de gênero –aliás, um dos assuntos mais abordados na arte atual. A provável última aparição de Sélavy ocorreu em 1963, em uma performance na qual foi personificada no corpo nu de uma mulher, fotografada jogando xadrez com o próprio artista, dentro da sala do museu no qual ele exibiu sua primeira grande retrospectiva. Aqui, Duchamp se põe em posição de igualdade e em confronto direto com sua própria temática —uma das mais recorrentes na história das artes em todo o mundo: o nu, assunto que continua em pauta. Muitos anos se passaram e, apesar de comemorarmos o 130º aniversário de nascimento de Duchamp, o 100º do ready-made e o 90º de Sélavy, a pergunta continua sendo a mesma: será isso arte? DANIEL RANGEL, 41, mestrando em poéticas visuais na Escola de Comunicações e Artes da USP, é curador da exposição Ready Made in Brazil, em cartaz no Centro Cultural Fiesp de 10/10 a 28/1.
2017-08-10
ilustrissima
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/10/1924904-cem-anos-apos-duchamp-controversia-sobre-o-que-e-arte-ainda-gera-polemica.shtml
Zona leste é o segundo melhor lugar para viver em SP, diz pesquisa
BÁRBARA PEREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A zona leste é vice-campeã duas vezes: é a segunda melhor região para viver em São Paulo, de acordo com os próprios paulistanos, e ficou em segundo lugar no número de novos prédios residenciais nos últimos três anos. Nos dois casos, o primeiro lugar é da zona sul -líder na preferência dos moradores da capital, segundo pesquisa Datafolha feita entre 10 e 12 de agosto com 493 pessoas. Na zona leste, Tatuapé e Vila Prudente disputam a preferência das incorporadoras. Enquanto no primeiro foram construídos 42 empreendimentos nos últimos cinco anos, no segundo foram erguidos 24 condomínios. Em comum, os dois bairros têm boa infraestrutura, acesso fácil a outras regiões da cidade e áreas de lazer. O Tatuapé, por exemplo, é próximo dos parques Ceret (Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador) e Piqueri, além dos shoppings Metrô Boulevard Tatuapé e Anália Franco. "É uma boa opção para quem mora em bairros mais afastados da zona leste, mas trabalha na região central", diz Marcelo Dzik, diretor comercial da Even, que entrega em 2019 o empreendimento Mirada Tatuapé, com imóveis de dois e três quartos com plantas entre 48 e 61 metros quadrados. O prédio ficará próximo das estações Tatuapé e Carrão do metrô. Foi a boa oferta de transporte que fez a enfermeira Leiliane Carvalho Nunes, 25, querer se mudar da zona sul de São Paulo para a zona leste. Ela e o noivo escolheram o bairro da Vila Prudente. "A nossa única exigência era que fosse perto das linhas verde ou azul do metrô", conta. Foi visitando um empreendimento na região que eles encontraram o Maxmitre Vila Prudente. O prédio, lançado em setembro, terá 190 apartamentos de 58 e 77 metros quadrados. Metade das unidades já foram vendidas. Outra opção na região é o Spazio Helbor, com apartamentos de três dormitórios e plantas que vão de 78 a 120 metros quadrados. A planta de cem metros quadrados no empreendimento da Helbor é negociada por em torno de R$ 630 mil. Renato Lobo, vice-presidente de negócios da Brasil Brokers em São Paulo, aposta que a zona leste deve ser destaque em 2018. "Em média, 45% dos imóveis lançados na região são vendidos em 12 meses. A média de São Paulo é de 36%", diz. Segundo ele, ainda há espaço para crescimento.
2017-08-10
sobretudo
morar
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/10/1925116-zona-leste-e-o-segundo-melhor-lugar-para-viver-em-sp-diz-pesquisa.shtml
No centro de SP, Éclair Moi mostra a arte da exatidão na confeitaria
Tenho ido muito ao centro, o que me deixa feliz, o propósito desta coluna (na minha cabeça) era sair dos mesmos bairros de sempre. Como ex-morador da República gosto bastante de ver a região cheia de boa comida. A confeitaria Éclair Moi abriu sua fábrica, com loja na frente, diante de uma oficina de bicicletas, quase do lado do Minhocão, com mesinhas na calçada e um ar de normalidade que não vivi por lá duas décadas passadas. Ver o centro vivo aumenta o prazer pelos doces excelentes. E estava cheia, com pessoas comendo tortas com café. Esperava algo esnobe, pela qualidade dos produtos e encontrei um negócio carregado de gentilezas urbanas. Sempre me admiro pelo exercício silencioso da confeitaria. Vista de fora ela é parte da cozinha, está lá no meio das panelas borbulhando, dos chefs suando e comandando a expedição de pratos para as mesas com seus famintos e ansiosos clientes. Claro, as sobremesas são para comer também e estão no mesmo sistema, mas o pâtissier, o chef-confeiteiro, vive na sua bolha zen, concentrado em equilíbrio de pesos e medidas. Os irmãos Davies, Edward e Nathalie cuidam de tudo. São autodidatas, que eles dizem de forma mais encantadora, "amadores". Quem dera todo amadorismo fosse assim, Nathalie ficou dois anos testando farinhas e manteigas para chegar à massa perfeita das "éclairs", a textura que resiste à mordida sem ser mole nem crocante, uma sensação tátil. Ela salienta que a cozinha salgada admite improvisações, até exige, mas o confeiteiro precisa de seu laboratório organizado, sem surpresas, pois alguns gramas errados de farinha ou de açúcar e tudo acabou. É a área da gastronomia em que o perfeccionismo é mais presente, pontos exatos de temperatura são tão complexos quanto a elaboração de um explosivo. Não estou exagerando. Entrevistei Cédric Grolet, do hotel Le Meurice, em Paris, tempos atrás. Ele parecia relaxado e sorridente. Mas dava para notar uma pontinha de tensão no seu "crazy eye". Quando se prova o que ele faz, percebe-se que tem um sujeito louco atrás da fachada de candura. Lembrei dele na minha degustação doce na Éclair Moi. Pois há macarons e macarons. Quase sempre me decepcionou aqui comer produtos tecnicamente ok, com aparência de bons, mas sem sabor, textura ou equilíbrio. Pistache, por exemplo, é um problemão. O que chega ao mercado é meio sem gosto e o resultado são pastas verdes sem o sabor das castanhas. Anotei uma frase de Edward que explica exatamente a decepção de que fujo: "Quero que as coisas tenham o gosto do nome que elas levam, que o que é de morango não tenha gosto de cor-de-rosa". Chega de creme de pistaches sabor "nada" verde, eu saí de lá bradando e assustando transeuntes. * Éclair Moi Onde: r. General Jardim 277, Vila Buarque, tel. 3129-9736. Quando: seg. a sex., das 11h às 18h. * Na veia Lembrei de um restaurante, nos tempos de Ferran Adrià, em Barcelona, que servia um menu inteiro de doces. Teve outra tentativa no bairro do Marais, em Paris. Ainda está lá, chama-se Dessance, mas acho uma proposta meio temerária, pois tem uma hora que trava. Chega a dar um barato de açúcar: "entrada", "prato" e "sobremesa", tudo sobremesa. Se misturarmos então com vinhos doces, como os intensos Tokays húngaros... Os irmãos Davies pensaram numa fórmula interessante, para que se mergulhe nos açúcares sem fastio. Criaram um drinque feito com espumante bem seco, licor de morango e leve toque de rosas. Chama-se La Reine, soa enjoativo, mas é intensamente refrescante e um ótimo contraponto acidinho para os doces. Que nem são tão doces. Falamos muito disso, da quantidade ideal de dulçor que não mascare os sabores, pois açúcar é um disfarce, como um molho muito temperado ou picante faz que a comida fique monótona, o açúcar pode reduzir belas receitas a seu simples sabor dominante. A "éclair" de framboesa, a "red velvet", tem até um toque salgado, que fica tão bem e que se usa tão pouco no Brasil, o sucré-salé. Os caramelos na manteiga com sal franceses, uma das maiores delícias são a comprovação dessa tese. Vou recomendar espumantes nos vinhos da semana, quanto mais vivazes em acidez melhor, eles são os ideais, mas quem for até a loja pode pedir o drinque que é muito bom. * Vinhos da semana (1) Espumante Angheben Brut Champenoise, R$ 110 (Vinhos e Vinhos) (2) Chandon Reserve Brut, R$ 97,90 (Pão de Açúcar) (3) Miolo Brut, R$ 72,90 (Pão de Açúcar) (4) Espumante Peterlongo Brut, R$ 36,90 (Vinhos e Vinhos)
2017-08-10
colunas
luiz-horta
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luiz-horta/2017/10/1924764-no-centro-de-sp-eclair-moi-mostra-a-arte-da-exatidao-na-confeitaria.shtml
Quadrinhos
null
2017-08-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925351-quadrinhos.shtml
Síndico pode punir morador só usando o bom senso como regra
Condomínios são organismos vivos, ambientes propícios para ocorrências variadas, muitas vezes relacionadas aos maus hábitos dos moradores, que insistem em se comportar de maneira nociva aos vizinhos. Aos síndicos e administradores, cabe a missão de orientar, conscientizar e, por vezes, multar o infrator. Parece incrível, mas os funcionários do condomínio precisam agir como "babás de marmanjos", missão impossível, já que educação e respeito são princípios moldados ao longo de uma vida. O departamento jurídico das administradoras vive quebrando a cabeça tentando encontrar nos regulamentos a fundamentação legal para advertir moradores infratores. Não raramente, os maus vizinhos contestam, dizendo: "Me mostra onde está escrito que isso é proibido" ou "Qual o artigo do nosso regulamento interno que trata especificamente deste tema?". Não me canso de afirmar que as convenções, assim com a lei, não conseguem tipificar todas as ocorrências, mas servem como regra geral, que devem ser complementadas por razoabilidade, bons costumes e regras médias de educação e cidadania. A regra infalível para justificar uma penalidade, ainda que não tipificada no regulamento, é a aplicação da tese dos três "S": saúde, segurança e sossego. Se algo colocar em risco a saúde, a segurança ou o sossego do vizinho, é o que basta para reprimendas. Dias atrás, acompanhei um caso que ilustra bem o tema. Um morador levou para a área da piscina um balde com gelo, garrafas de cerveja, copos de vidro e uma caixa de som portátil. Eles e seus amigos começaram a se divertir e foram abordados por outros moradores, incomodados com o som alto e com os objetos de vidro. Risco ao sossego e à segurança dos moradores. Desrespeitosos, alegaram que o regulamento não proibia expressamente tais praticas -e de fato o regulamento era omisso. Mas o que custa trocar garrafas por latinhas? O que custa trocar copos de vidro por de plástico? Qual a necessidade de escutar musica alta na piscina? O apartamento foi multado por colocar em risco a segurança e o sossego dos demais frequentadores da piscina e, embora não exista item expresso e específico no regulamento, tenho plena certeza de que a regra dos três "S" será suficiente para embasar a manutenção da penalidade, inclusive numa eventual demanda judicial.
2017-08-10
colunas
marciorachkorsky
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marciorachkorsky/2017/10/1925089-sindico-pode-punir-morador-so-usando-o-bom-senso-como-regra.shtml
Neuromarketing ajuda, mas abuso atrapalha, diz neurocientista
IARA BIDERMAN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Há muita gente vendendo o neuromarketing como sendo a salvação da lavoura e o segredo definitivo para aumentar as vendas, mas o neurocientista americano Joseph Devlin afirma: nem toda empresa precisa investir nessa área, e a neurociência não é instrumento para fazer automaticamente o consumidor comprar mais. "Isso seria ficção científica. É preocupante haver pessoas vendendo essa ideia", diz Devlin à Folha. Professor da University College de Londres, Devlin chega ao Brasil para uma série de palestras organizadas pela agência de publicidade Neurosolution. As atividades foram realizadas em São Paulo (dias 2/10 e 3/10), Rio de Janeiro (5/10 e 6/10) e acontecem em Brasília (9/10 e 10/10). Nesta entrevista, ele fala sobre as noções básicas e as questões éticas do neuromarketing. * Folha - Por que usar os conhecimentos da neurociências no marketing? Joseph Devlin - Quando as pessoas tomam decisões, como a de comprar um produto, acreditam ser algo racional. No marketing tradicional, são feitas perguntas ao consumidor -"Você gostou do produto?", "Por quê?"- para entender suas escolhas. Isso é útil até certo ponto, mas as pessoas não sabem explicar os principais motivos que as levam a comprar algo. As decisões passam por uma série de vieses cognitivos e emocionais não verbalizados, que acionam diferentes partes do cérebro. A neurociência tem instrumentos e conhecimento para medir e interpretar o que está acontecendo no cérebro e descobrir o que foi levado em conta na hora de tomar decisões. Com isso, é possível descobrir os desejos não racionais do consumidor e prever comportamentos e tendências. Como fazer isso de uma maneira mais ética? Devemos dar essas informações ao consumidor, para ele ter ideia dos fatores que o influenciam e poder tomar a melhor decisão. Qualquer forma de marketing tenta levar as pessoas a comprar determinado produto em detrimento de outro, sempre há algum grau de manipulação. O que me preocupa em relação ao neuromarketing é vender a ideia de que é possível descobrir tudo o que está acontecendo no cérebro e "apertar botões" para fazer a pessoa comprar algo. Isso não é neuromarketing, é ficção científica, mas o próprio fato de haver pessoas vendendo essa ideia já é preocupante. A indústria e o governo deveriam estabelecer regras para a aplicação do neuromarketing, mas não é algo comum. No Reino Unido, por exemplo, não há nenhuma regulamentação. Usar o conhecimento de fatores não racionais para influenciar o consumidor é uma forma aceitável de manipulação? Como neurocientista, meu papel é dar às empresas algumas ferramentas para medir a eficácia de sua comunicação e entender como suas mensagens são recebidas pelo público, e não dar a chave do segredo para fazer o cérebro tomar decisões. Os conhecimentos de neurociências servem para descobrir qual parte do cérebro é ativada pelas informação e como melhorar a comunicação entre quem vende um produto (seja um produto ou uma campanha de saúde) e quem compra. O neuromarketing é hoje uma ferramenta indispensável nos negócios? Nem toda empresa precisa investir em neuromarketing. Se já há investimento ou disposição para gastar em pesquisa e desenvolvimento de produto, as ferramentas da neurociência são muito úteis, mas isso não quer dizer que beneficiam a todos. O problema hoje é haver muitos profissionais com informações sobre neurociência, algumas até bem fundamentadas, mas que se apresentam ao mercado dizendo que o neuromarketing é a única coisa necessária para a empresa crescer e vender mais. Isso é bobagem.
2017-08-10
sobretudo
loja
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/loja/2017/10/1924923-neuromarketing-ajuda-mas-abuso-atrapalha-diz-neurocientista.shtml
Restaurante em Bordeaux mostra que Gordon Ramsay deu a volta por cima
Faz tempo que risquei da lista de chefs que admiro o Gordon Ramsay, um escocês francófilo que se formou em templos gastronômicos de Paris. Quando eu era adolescente, achava-o fenomenal, um ás em cozinha francesa. Os longos e formais almoços com meu pai nos restaurantes estrelados que o chef tinha em Londres ensinaram-me muito do que sei sobre boa mesa. O cappuccino de cogumelos que servia no extinto Aubergine, em especial, nunca me sairá da memória. Desde os anos áureos de Ramsay, na década de 1990, muita água passou debaixo da ponte. Virou uma das maiores celebridades televisivas do mundo. E, por expandir rápido demais o seu império, errou a mão em alguns casos, tendo que fechar, entre outros, seus dois Gordon Ramsay at the London, nos Estados Unidos. Seu único sucesso inabalável é a joia da coroa: o Restaurant Gordon Ramsay, em Londres, que tem a cotação máxima de três estrelas no guia "Michelin". A sensação, quando assisto a cenas de seu programa "Hell's Kitchen" (ou "Inferno na Cozinha", com direito a labaredas na vinheta de abertura), é de que Ramsay vendeu a alma ao diabo. Ficou riquíssimo graças à televisão e à multiplicação de casas com seu nome, mas distanciou-se da cozinha. Daí minha surpresa quando jantei, um dia desses, no Le Pressoir d'Argent, inaugurado em 2015 em Bordeaux. Chique e caro, impressionou-me pelo anacronismo (muito bem-vindo!) do serviço à moda antiga. Como diz o próprio Ramsay, o Pressoir "deixa qualquer pessoa tocada pela história". O chef famosamente ambicioso parece desejar, com esse restaurante elegantemente decorado, de mesas espaçadas e decanters imensos de cristal soprado à mão, mostrar que ainda sabe fazer alta cozinha francesa. O fato de estar instalado no hotel mais belo e histórico de Bordeaux, uma das capitais francesas da boa mesa, é de certa forma uma provocação. É como se, com francesices como pombo e foie gras no menu, imenso carrinho de queijos e uma prensa de prata para espremer carcaças de lagosta (que dá nome ao restaurante), quisesse mostrar a França aos franceses. Em fevereiro, o Le Pressoir d'Argent ganhou sua segunda estrela "Michelin", um feito e tanto. Sou obrigada a tirar o meu chapéu e admitir que o subestimei. Touché!
2017-08-10
colunas
alexandraforbes
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/alexandraforbes/2017/10/1924733-restaurante-em-bordeaux-mostra-que-gordon-ramsay-deu-a-volta-por-cima.shtml
Com rombo bilionário do setor, fundos de pensão vão ter regra mais dura
Com os principais fundos de pensão em grave situação financeira, a Previc (responsável pela fiscalização e controle dessas entidades) prepara medidas para tentar coibir erros que atingem o bolso de mais de 200 mil empregados e aposentados de estatais. A entidade, que recém decretou intervenção na Postalis (Correios), planeja aumentar o valor das punições por má gestão e implantar regras mais rígidas para nomeação dos administradores. No fim do ano, quando entrar em vigor o plano para cobrir o rombo da Petros, que administra o fundo de pensão da Petrobras, 222,6 mil empregados e aposentados de estatais serão atingidos com contribuições extraordinárias para cobrir os rombos que tiveram início nos governos Lula e Dilma. Para participantes e administradores atuais, a crise é resultado de má gestão e aparelhamento político das fundações, que passaram a apostar em investimentos de interesse do governo, como a empresa de sondas Sete Brasil, hoje em recuperação judicial. Entidades ligadas aos participantes criticam a demora da Previc em agir. Aposentados dos Correios e da Petrobras, por exemplo, vêm denunciando problemas há anos. "Por que só decidiram intervir agora?", diz Maria Inês Capelli, da Associação dos Profissionais dos Correios, que chegou a pedir intervenção no fundo em 2014. Em junho, o buraco dos fundos de pensão deficitários no Brasil somava R$ 78 bilhões, R$ 6 bilhões a mais do que no ano anterior. No cargo desde março, o presidente da Previc, Fábio Coelho, diz que até o fim do ano a entidade lançará decreto aumentando as multas para gestão irregular nas fundações, hoje em R$ 40 mil –valor considerado pelo executivo "muito brando". O novo montante não foi definido. O decreto trará também a possibilidade de advertência aos gestores, para casos de faltas menores. Coelho disse ainda que a autarquia já deu início à aplicação de regras mais rígidas para habilitar dirigentes de fundos, com análise da qualificação, exigência de reputação ilibada e entrevista presencial com indicados a cargo de diretor de investimento. O dirigente não quis comentar a situação específica de cada fundação. Em relatório deste mês, a Previc diz que o futuro dos fundos em crise dependerá da velocidade para implantar plano para cobrir os rombos, chamado de equacionamento. Nesse processo, os participantes de um plano deficitário (os da ativa e os aposentados) e as empresas patrocinadoras são chamados a dar uma contribuição extra. A Petros foi a última a aprovar seu plano, em agosto. Antes, Funcef (da Caixa) e Postalis já haviam adotado a medida. O presidente da Previc diz que o cenário de queda dos juros é outro risco para os planos de previdência deficitários, ao aumentar o valor contábil dos compromissos futuros com o pagamento de benefícios e reduzir os ganhos com investimentos. A autarquia calcula que vencerão, nos próximos cinco anos, R$ 30 bilhões em aplicações em títulos corrigidos pela taxa básica de juros (que caiu seis pontos em um ano), recursos que terão que ser reinvestidos em um cenário de juros mais baixos.
2017-08-10
mercado
null
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1925281-com-rombo-bilionario-do-setor-fundos-de-pensao-vao-ter-regra-mais-dura.shtml
Programa da chef do Dona Onça leva ingredientes frescos à merenda de escolas estaduais
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO DE SÃO PAULO - Estrogonofe? - Não! - Macarrão? - Também não. - Feijoada? - Errou de novo, ri Kemilly Souza Silva, 9. É peixada o seu prato predileto no cardápio da chef paulistana Janaína Rueda, do Bar da Dona Onça, no centro de São Paulo. A cada 15 dias, Kemilly come um prato de filé de peixe branco num molho denso com tomate, cebola, batatas, cenouras, salsão e cheiro verde. Às vezes, repete. Mas não é no restaurante de Janaína, e, sim, na merenda da escola estadual em que estuda, a E.E. Maria José, na Bela Vista, na região central paulistana. Foi lá que teve início há um ano o programa Cozinheiras da Educação, que começou a trocar produtos industrializados por ingredientes frescos nos pratos das crianças. Sonho de Janaína, o projeto foi encampado pelo governo paulista, chegou a 220 escolas e, até o fim deste ano, será quadruplicado. Os planos são que nos próximos anos ele alcance as 2.500 unidades cujas refeições são coordenadas pela administração do Estado. Para as próximas 600, merendeiras das zonas leste e norte da capital estão aprendendo com a chef a fazer os novos pratos. "Não estou aqui só para falar de receita. Meu sonho é melhorar a qualidade da comida popular no Brasil e quero que vocês me ajudem nisso", diz Janaína às funcionárias numa cozinha da Escola Técnica Santa Ifigênia, onde dá as aulas. Nas bancadas estão cubos de contrafilé, patinho, pernil de porco e tigelas com moela de galinha, além de folhas e legumes frescos. As cozinheiras se animam. "Até que enfim um treinamento interessante", comenta Roberta, 47, enquanto fotografa os pratos com seu celular. "Os outros só ensinavam a lavar a mão e a descongelar salsicha." Pior que salsichas e nuggets, só os famigerados "pouch" (pronuncia-se pauche), carne pré-cozida e pasteurizada, que, segundo Janaína, tem cara e gosto de ração de gato. A chef encontrou uma aliada no Departamento de Alimentação da Secretaria da Educação de São Paulo, a nutricionista Giorgia Castilho Russo Tavares, então diretora da seção. "Queríamos melhorar a qualidade da merenda, mas também resgatar o ato de cozinhar, que tem um efeito muito positivo nos hábitos de alimentação das crianças." O Estado tem 8.000 merendeiras e 2,5 milhões de alunos que, segundo Giorgia, podem disseminar a boa nutrição para suas famílias. Vários alunos da rede pública já têm a tarefa de cozinhar em casa, conta ela. "Depois do novo cardápio, eles vieram pedir as receitas para as merendeiras. São pratos baratos, práticos, que vão para dentro da casa dos alunos. E as cozinheiras passaram a se sentir também educadoras." "MOLHOS ESPECIAIS" Mas nem tudo foi fácil, relata a merendeira Angélica Santana, 54, enquanto prepara ovos mexidos, que vai servir com arroz integral, feijão, salada de beterraba e alface. As crianças estranhavam pratos como sardinha, cuscuz ou molho de moela -que até hoje é apresentado com o nome fantasia de "molho especial", para evitar resistências. O arroz integral também demorou a emplacar. "No começo, mal saíam 5 kg por dia. Mas hoje já saem 20 kg", diz ela, que há cinco anos comanda as panelas da escola Maria José. Filha de cozinheira e mãe de cinco filhos, dos quais quatro estudaram ali, ela apoia o programa de Janaína, que também estudou na escola estadual. Foi da chef que ela ganhou a touca de cabelos com estampas de onça, que mostra rindo enquanto serve Tainá, 7. "Acho gostoso e é mais saudável", diz a garota, que come todos os dias a merenda da escola. Ao seu lado, Natália, 6, conta que também gosta "de tudo, menos de alface". Mas Giovana, 7, trocou o almoço por um pacote de Doritos Sweet Chili e um refrigerante com sabor uva, que trouxe de casa. A melhora nas refeições não reduziu a procura por salgadinhos e doces na cantina que fica a seis metros da cozinha, diz José Roberto Jó, 59, que há dez anos aluga o espaço. Nos cálculos da escola, de cada dez alunos três trocam a merenda gratuita pelos produtos da cantina: salgados de hambúrguer ou croissant de pizza (R$ 4), chup-chup de chocolate ou doce de leite (R$ 0,50), doce de amendoim (R$ 0,70) ou bombons (R$ 1). Um pacote de salgadinho frito da marca Cristal, que a cantina vende por R$ 1,20, é mais caro que o custo por refeição do novo cardápio da merenda: de R$ 0,53 a R$ 1,17 por estudante. Além de mais frescos e mais saborosos, os ingredientes do novo cardápio custam menos para o governo, segundo o Departamento de Alimentação. A carne in natura é, em média, 40% mais barata que o "pouch". Por outro lado, a logística é mais complexa: exige carros refrigerados e bom controle de estoque para evitar perdas. Compensa, diz Larissa Silva dos Santos, 9: "Adoro a feijoada. O gosto da merenda ficou muito melhor". "Ficou saudável", adenda Sofia Aparecida, 7, que prefere a macarronada, mas pula para a cantina se for dia de arroz integral: "Minha mãe não faz em casa, não estou acostumada, o gosto é ruim". Mateus Gabriel, 9, também adora o macarrão. "É o dia em que como dois ou até três pratos", conta ele. Já Samira, 7, vai direto para a janela da cantina, onde compra croissant, salgadinho, pipoca ou uma barra do chocolate Twix. "Já experimentei a merenda. Mas achei apimentada." * A PEIXADA DE JANAINA Prato da merenda paulista (para 4 pessoas) Ingredientes Modo de fazer Tempere o peixe com sal e pimenta do reino. Em uma panela refogue bem a cebola até murchar, acrescente o alho e refogue por mais 2 minutos. Acrescente salsão, tomates, acerte o sal e refogue mais 3 minutos. Coloque 500 ml de água. Assim que a água levantar fervura, acrescente as batatas e a cenoura já em cubos, acerte de novo o sal se for necessário e cozinhe por 6 minutos. Finalize colocando o peixe já temperado, por mais 3 ou no máximo 4 minutos. Sirva com arroz branco, salada de banana ou de repolho e farinha de mandioca. * O QUE CHEGA A UMA ESCOLA (Alimentos frescos, quantidades aproximadas em um mês)
2017-08-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1924803-programa-da-chef-do-dona-onca-leva-ingredientes-frescos-a-merenda-de-escolas-estaduais.shtml
Cassado, Demóstenes Torres quer retornar à política em 2018
Em seu apelo final antes de ser cassado, em 2012, o então senador Demóstenes Torres suplicou aos pares: "Não acabem com a minha vida". Não adiantou. Os senadores o expulsaram da Casa por quebra de decoro parlamentar e ele "entrou pelo portão do inferno", como hoje define. Mas a vida não acabou. O processo por corrupção passiva e advocacia privilegiada em favor do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi arquivado pelo Tribunal de Justiça de Goiás, em junho deste ano. No mesmo mês, Demóstenes retomou o cargo de procurador de Justiça no Ministério Público e, em julho, ingressou no PTB para preparar seu retorno à política. Seu novo partido quer lançá-lo candidato a governador de Goiás ou ao Senado para provar que, "na política como na vida, os bons ficam e os maus vão saindo", na definição do deputado Jovair Arantes (PTB-GO). No DEM, do qual se desfiliou para evitar a expulsão, Demóstenes era visto como o paladino da ética até ser pego em áudios com Carlinhos Cachoeira que sugeriam favorecimento ilícito. Em 2016, já na era da Lava Jato, as provas foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, em um julgamento que o ministro Gilmar Mendes considerou "de escola". Resta a Casa que o cassou o reabilitar. Demóstenes, 56, pede a revisão da perda do mandato para deixar de ser inelegível, condição a que está submetido até 2027. O Senado afirmou, porém, que a petição está parada sem prazo para análise. Demóstenes promete ir ao Supremo se tiver o pleito negado ou escanteado. Defende-se com um expediente hoje corriqueiro entre os acusados na Lava Jato: a suposta arbitrariedade da acusação. "Fui um dos primeiros, ou ao menos o mais notável caso de excessos praticados em uma investigação", afirmou. "Interceptações clandestinas foram vazadas sistematicamente com um objetivo claramente político. Devolver o mandato para alguém que passou por um massacre e que depois se mostrou comprovadamente inocente é um sinal de amadurecimento político", vaticinou. Demóstenes não quis falar com a reportagem por telefone, mas por e-mail. Disse que pretende retomar a vida pública para defender o "o belíssimo trabalho que fiz pelo Brasil". "Entrei pelo portão do inferno e, ao contrário do que diz Dante, a esperança voltou. Fui triturado, passei por um moedor de carne e saí do outro lado. O que me motiva a voltar é escrever essa parte final da minha história." O ex-senador reconheceu que, em momento de desgaste da classe política tradicional, o seu histórico não é um ativo. "É óbvio que a cassação pode atrapalhar o desempenho eleitoral", admitiu. Mas disse pretender reverter eventual hostilidade com a "verdade" sobre seu caso e com "ideias e projetos para o futuro de Goiás e do Brasil". Ele se orgulha de ter sua "digital na lei que instituiu a delação premiada", mas considera a forma como o instituto é usado na Lava Jato, com colaboradores presos, comparável à "tortura". Aliados de Demóstenes dizem que seu plano é emplacar a candidatura ao Senado e que o PTB, ao ventilar seu nome para o governo, tenta pressionar o PSDB por um espaço na chapa majoritária. A disputa pelo governo tem hoje como potenciais candidatos o senador Ronaldo Caiado (DEM) e o vice-governador José Eliton (PSDB). Interlocutores do governador tucano Marconi Perillo, que apoia Eliton, afirmam que uma candidatura de Demóstenes seria estratégica para conter Caiado e levar a eleição ao segundo turno. Fato é quem, cinco anos depois, a vida de Demóstenes está novamente nas mãos de seus ex-colegas. "Tenho esperança de que, da mesma forma que os senadores me julgaram levando em consideração circunstâncias momentâneas, que desmoronaram com o passar do tempo, também possam me reconduzir à cadeira que me foi concedida pela população de Goiás", afirmou. "Apenas quem disputou uma eleição sabe os desafios que enfrentamos."
2017-08-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925313-cassado-demostenes-torres-quer-retornar-a-politica-em-2018.shtml
Doleira Nelma Kodama diz que Dirceu ainda agia como ministro na prisão
Nelma Kodama deixa aparecer um objeto preto em seu tornozelo quando tira as botas de cano alto para realizar um eletrocardiograma. "Isso aqui é um aparelho para medir pressão. Está conectado a uma central e, se eu tirar, vão pensar que morri", diz ela à enfermeira. Na verdade, o dispositivo é uma tornozeleira eletrônica que a doleira usa desde junho de 2016, quando deixou a custódia da Polícia Federal em Curitiba. * Ela foi a primeira pessoa presa na Operação Lava Jato, no dia 14 de março de 2014, quando tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros. A imprensa noticiou que a doleira levava o montante na calcinha, o que ela nega. "Esse dinheiro estava dividido em 100 mil euros em cada bolso de trás da minha calça jeans. Aliás, colocar dinheiro na calcinha é anti-higiênico", diz. * Nelma era uma das principais doleiras de SP e acabou condenada por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Diz que entrou no ramo, nos anos 1990, quando começou a trabalhar para a auditora fiscal Elizabeth Badaró, mulher do ex-juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, preso na Operação Anaconda. "Tudo o que eu sei aprendi com a Badaró. Costumo dizer que faço parte da linhagem dos antigos doleiros de São Paulo." * A doleira diz que chegou a movimentar R$ 400 mil por dia. Já escondeu R$ 20 milhões nos dutos do ar-condicionado de um de seus escritórios e jogou US$ 20 mil pela janela por pensar que a polícia bateria em sua porta. * Ela decidiu conceder entrevista para Bruna Narcizo depois de ficar "muito chateada" ao saber que seria retratada no filme "Polícia Federal: a Lei é Para Todos", sobre a Operação Lava Jato. "Vão dizer: Ah, mas você é pessoa pública. Não sou! Pessoa pública é o Roberto Carlos. Aliás, eu tenho o direito de ser preservada porque sou colaboradora da Justiça", diz. * Nelma ficou presa com investigados como Marcelo Odebrecht, José Dirceu, João Santana, Nestor Cerveró, Fernando Baiano e executivos da Camargo Corrêa e da OAS. * "Ali não é o doleiro, o deputado ou o empresário. É o ser humano. Se você não limpar sua cela, vai ficar suja. Alguns demoravam um pouco para entender que estavam presos. Não vou citar nomes, porque seria indelicado. Mas muitos chegaram achando que sairiam no dia seguinte. E não é assim", conta. * Com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) diagnosticado por um psiquiatra, Nelma preferiu ficar responsável pela faxina. "Às 11h da noite eu tava passando pano para ficar limpo. Eu colocava cartaz: não fazer xixi no local do banho. Porque homem você sabe como é, né? Mas porra, tomar banho com cheiro de xixi não dá!" * Nelma se lembra da chegada dos presos da Odebrecht, na 14ª fase da Lava Jato. "Eles entraram nas celas tarde da noite e fazendo muito barulho. Saíram bem cedo no dia seguinte. Se secaram com nossas toalhas e deixaram elas jogadas no chão." Diz que ficou muito brava. "Chamei um dos agentes e disse que ele deveria obrigar aqueles caras a lavarem as toalhas quando voltassem. E foi o que aconteceu." * Ela conta que os presos da construtora -inclusive Marcelo Odebrecht- usavam um uniforme padrão fornecido pela empreiteira: camiseta branca, calça de moletom azul marinho e tênis Nike. * Certa vez, se indispôs com Marcelo Odebrecht. "Eu estava no parlatório [local com vidro onde os presos falam com os advogados] e o Marcelo em outro. Ele gritava tanto com seus advogados que eu levantei e disse para o agente que só voltaria quando ele parasse". * Mas quando Marcelo voltou para a custódia da PF, depois de 212 dias preso no CMP (Centro Médico Penal), eles se aproximaram. Nelma diz que ele comia seis bananas pratas das 6h30 até às 13h, enquanto praticava a primeira leva de exercícios do dia. Ela fazia questão de deixar as frutas na bancada e preparava as saladas que ele comia. * A doleira conta que, na cadeia, as porções de comida levadas pelas famílias eram chamadas de 'jumbo', 'Sedex' ou 'sacola'. Marcelo, porém, chamava suas entregas de 'logística' e perguntava aos outros presos se alguém queria pedir algo, dizendo que "a logística vai vir dia tal". "Minha mãe levava minhas coisas de ônibus. A diferença entre eu e ele são muitos zeros." * "O [João] Vaccari [ex-tesoureiro do PT] e o [José] Dirceu me chamavam de imperatriz. E nós chamávamos o Zé Dirceu de ministro. Lá dentro, ele ainda agia como ministro. Um dia, me mandou recolher as roupas dele do varal. 'Peraí, eu não recolho as do meu ex-marido, vou recolher as suas? Ô, senhor ministro! Se liga, mano!' Ele ficou em choque porque eu dei uma de maloqueira", diz. Conta que Dirceu era tranquilo, inteligente, "mas às vezes dava umas escorregadas". * Nelma foi amante do doleiro Alberto Youssef por nove anos. "Fomos muito felizes. Éramos perfeitos, jovens, corajosos. Ele era o ying e eu, o yang. Beto foi o meu grande amor", afirma. Quando depôs numa CPI, em Brasília, ficou célebre ao cantar a música "Amada Amante", do cantor Roberto Carlos, para os deputados. Se separaram em julho de 2009. * Ela e o doleiro ficaram 19 meses presos juntos. Quando Nelma conseguiu ir para o regime de prisão domiciliar, em junho de 2016, fazia dois meses que os dois não conversavam. Ela diz que brigou com Youssef porque ele tinha ciúmes das visitas que ela recebia. "Eu parti para cima dele e o Marcelo [Odebrecht] teve que me segurar." * "Fui embora e nem cheguei a me despedir. Isso me dói profundamente", diz, em um dos raros momentos em que se deixa abater. Se conheceram quando Nelma comprou US$ 1,4 milhão dele, em 2000. "O pai dele morreu. Eu disse para ele não se preocupar em me pagar logo. Quando finalmente entregou [os dólares], passou a me ligar todos os dias para passar a cotação." * "Ele mandava jato fretado para eu ir jantar em Londrina [onde vivia] e eu sempre recusava, mas comecei a balançar, né?", diz ela. "Chegou uma hora em que pensei: 'Tá no inferno, abraça o capeta'". Pegou um voo para se encontrar com Youssef. "Resolvi naquele dia que seria a mulher dele." * "Nosso sonho era ter um filho homem [Youssef era casado e tem três filhas] que se chamaria Enzo", diz ela. Em abril de 2001, engravidou do doleiro, mas perdeu o bebê. "Tive algumas tristezas, não muitas, mas dá pra enumerar: essa é nível 1, essa é nível 5. Perder o bebê foi uma tristeza nível 10". Nelma diz que, durante os nove anos com Youssef, não usou contraceptivos. "Nunca mais tive a honra de engravidar. Deus sabe o que faz. Meu filho teria 15 anos e veria o pai e a mãe presos". * "Meu sonho era passar Natal e Réveillon com ele, que ficava com a família", diz. "Na cadeia nós passamos. Juntos, mas já separados." * Ela já fez três cirurgias desde que foi presa. Teve um problema no estômago, pedra na vesícula e um nódulo nas costas. Hoje, seu telefone celular está configurado para ter letras em tamanho maior do que o normal. "Fiquei quase cega por conta da luz fraca na prisão", diz. * Nelma está sempre sorrindo, falando e brincando. Conta piadas de si mesma. "Eu vou ter que fazer aquele exame que precisa correr? Porque eu já corri tanto da polícia", disse ela para uma assistente do hospital em que fez exames há algumas semanas. "Não me chama de 'meu bem', porque a Receita vem atrás", afirmou a outra. * "Não tenho que usar Chanel para convencer. Amei muito. Comi tudo o que eu quis comer. Mas, quando entrei em um espaço de dois por um [metros], me vi como só a Nelma. O Marcelo não era mais o príncipe. Todo mundo se ajudava. E aprende a valorizar pequenas coisas. Quando tomava banho, eu fechava o olho. E imaginava que estava na minha casa".
2017-08-10
colunas
monicabergamo
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/10/1924997-doleira-nelma-kodama-diz-que-dirceu-ainda-agia-como-ministro-na-prisao.shtml
Sala ganha novos móveis e cores mais sóbrias sem perder essência rústica
DE SÃO PAULO Móveis novos, cores claras e decoração sem excessos deram um ar moderno para uma sala de 450 metros quadrados na Chácara Flora (zona sul de São Paulo). O objetivo era renovar o espaço, mantendo a sua essência de casa de campo, segundo a designer Ana Cecília Fioravanti, da JA Interiores, responsável pelo projeto de reforma. Não foram realizadas intervenções radicais no espaço. Praticidade foi o lema. O novo piso de madeira de demolição, por exemplo, foi colocado por cima dos azulejos de cerâmica antigos. A estrutura original do imóvel também foi mantida. "A família queria continuar na casa durante as obras, não queria muita quebradeira", diz a designer. Houve pequenas mudanças que deram uma nova cara ao lugar. A maior parte dos móveis foi trocada. A parede foi repintada em tom mais claro para valorizar as obras de arte. A antiga lareira de alvenaria ganhou mármore e uma coifa de ferro. Já a varanda foi fechada com esquadrias de PVC e integrada à sala por meio de uma porta de vidro. O maior desafio foi fazer o novo projeto de iluminação, já que o teto da casa é irregular e alto. A solução foi instalar trilhos suspensos, não fixados no teto. A obra durou cerca de sete meses.
2017-08-10
sobretudo
vida-pratica
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/vida-pratica/2017/10/1925104-sala-ganha-novos-moveis-e-cores-mais-sobrias-sem-perder-essencia-rustica.shtml
Fake News
A diferença entre o boato de antigamente e as "fake news" atuais é que o boato terminava quando a verdade era publicada, já as "fake news" começam pela publicação e se espalham através do Facebook, Twiter, Whatsapp e outros restelos virtuais. Trump foi eleito com grande ajuda das notícias falsas. As eleições de 2018 vêm aí e é de se esperar que as "fake news" repiquem por nossas redes como bolas de pinball. Por isso, antes que os Trumpinhos brasucas comecem a divulgar suas mentiras, divulgarei aqui as minhas. (Sempre acreditei que a ficção era uma poderosa arma de transformação: as "fake news" vieram para provar que eu estava certo). 1) "Não votem em nenhum deputado que represente a bancada BBB (Boi, Bala, Bíblia)!!! Você acha que eles estão lá para defender o agronegócio, o cidadão de bem que quer se armar e os valores religiosos contra a destruição da família brasileira promovida por museus, mas eles são patrocinados pela Globo! Sim! Um amigo meu namora a prima de um câmera do "Vale a Pena Ver de Novo" e ele REVELOU A VERDADE QUE A GLOBO ESCONDE!!!! A ideia é fortalecer deputados BBB para fazer um Big Brother Brasil só com representantes da bancada: fazendeiros, militares, pastores!!! Assim a Globo comunista vai humilhá-los mostrando-os brigando por causa da louça (de sunga) e caindo em tentação embaixo do edredom! (Prova de que a Globo é comunista é que a eliminação do BBB chama-se "Paredão"!!!). 2) "A candidatura do Bolsonaro é patrocinada pelo PT!!! O Lula quer que Jair Bolsonaro vá com ele para o segundo turno pois sabe que seria sua única chance de vitória!!! Todo dinheiro arrecadado pelo Lulinha com as suas fábricas de tomadas de três pinos vai para a campanha do Bolsonaro!!! Maria do Rosário é quem lidera a campanha!!! Jean Wyllys é o marqueteiro!!!! Se você votar no Bolsonaro estará ajudando a eleger o Lula!!!". 3) "Se você é contra o casamento gay e o aborto, lute pela legalização do casamento gay e do aborto!!! Sim!!! Esses homossexuais safados e essas aborteiras sem vergonha só querem casar e abortar para infringir a lei!!! O que eles buscam é a contravenção!!! Se o aborto e o casamento gay forem permitidos o aborto e o casamento gay acabam no mesmo dia!!! 4) Olavo de Carvalho avisou aqui na Folha, quarta-feira!!! Esta promoção ostensiva da pedofilia que se espalha pelo Brasil é um projeto do grande capital para acabar com a família dos trabalhadores e transformá-los "numa poeira de átomos soltos" que será facilmente aspirada pelas narinas platinadas dos banqueiros através dos canudos do multiculturalismo!!! Se você é contra a promoção da pedofilia, seja a favor da taxação das grandes fortunas, da reforma agrária, da distribuição de renda!!! Do contrário, em breve seus filhos serão efebos efeminados posando nus para artistas degenerados no IMS a soldo dos grandes bancos promotores da "sexualização prematura da criançada"!!! 5) Lembre-se: tudo isso é verdade. Você leu na Folha. Ou no Facebook. Ou no Twitter. Enfim, tá escrito, tá na internet, tá todo mundo falando, como pode ser mentira? Ou você acha que as coisas são como a imprensa publica? Isso é o que ELES querem que você acredite. Itaú é um nome indígena!!! O logo do Santander é vermelho!!! Se você falar rápido dirá "Satan under"!!! O demo por baixo!!! Compartilhe sem dó!!!
2017-08-10
colunas
antonioprata
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2017/10/1925004-fake-news.shtml
Aprovação de Doria cai nove pontos, e maioria rejeita seu plano presidencial
Na primeira pesquisa do Datafolha após a intensificação de sua articulação visando a candidatura presidencial do PSDB em 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria, despencou quase dez pontos percentuais na aprovação de sua administração. Segundo o levantamento, o tucano tem 32% de aprovação, 26% de rejeição e 40% de avaliação regular entre os paulistanos. Há quatro meses, Doria pontuava 41% de ótimo/bom, 22% de ruim/péssimo e 34% de regular. Com margem de erro de três pontos para mais ou menos, entre os 1.092 entrevistados de 4 a 5 de outubro, a curva é francamente desfavorável ao prefeito: fora do empate técnico em todas as simulações. Pela primeira vez, a avaliação regular supera a positiva desde que sua gestão começou, em janeiro. Desde a última pesquisa, Doria passou a percorrer o país em reuniões e estreitou relações com siglas como o DEM, cuja parcela ligada ao prefeito de Salvador, ACM Neto, vê o tucano como melhor candidato à Presidência que o seu padrinho, o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Com efeito, acham que Doria será candidato a presidente 37% dos paulistanos, contra 21% em junho. Mas 58% preferem que ele permaneça na prefeitura, contra apenas 10% que o desejam ver disputando a Presidência ou 15%, o governo do Estado. Apenas 18% dos ouvidos votariam com certeza no tucano para a Presidência, enquanto 26% o fariam para o governo estadual. A maioria não votaria nele de jeito nenhum para o Planalto (55%), e 24% talvez o apoiassem. Para a disputa do Palácio do Bandeirantes, os índices caem para 47% e 26%, respectivamente, sugerindo uma maior tolerância do eleitorado à ideia que mais agrada ao grupo de Alckmin. Mesmo entre quem votou no prefeito, 63% preferem ele na cadeira, embora 44% acreditem que ele disputará a Presidência. Sua aprovação nesse grupo sobe para 52%, e é seu eleitorado natural, mais rico e escolarizado, aquele que mais deseja sua permanência. Quando José Serra (PSDB) era prefeito e almejava o Planalto em junho de 2005, 67% diziam que ele deveria ficar no cargo, mas 28% acreditavam que ele sairia de qualquer forma. Ele por fim saiu, mas para o Bandeirantes, que conquistou em 2006. Criticado por suas viagens nacionais, Doria sustenta que sua presença física é dispensável num mundo conectado e que São Paulo precisa ser "global". A população não concorda, segundo o Datafolha. Para 49% dos paulistanos, suas viagens pelo país trazem mais prejuízos do que benefícios à cidade, enquanto 35% aprovam a iniciativa. Já os que veem benefício pessoal ao tucano nas viagens são 77%, contra 14% que enxergam o contrário. De todo modo, metade dos paulistanos acha que o prefeito viaja mais do que devia, enquanto 40% apontam que a frequência é adequada, explicitando uma divisão de opiniões sobre o tema na cidade. Datafolha avaliação do prefeito Joao Doria PROBLEMAS DE GESTÃO A resposta para a queda da avaliação de Doria, que de todo modo não transpira um quadro tão ruim quanto o de vários de seus antecessores, passa por problemas de gestão –justamente o ponto de venda do tucano em 2016, quando elegeu-se no primeiro turno prometendo uma administração mais técnica e menos política. Um dos sintomas mais visíveis para a população é a questão dos semáforos, que enfrentam apagões constantes devido a problemas relativos aos editais para sua manutenção desde o começo do ano. Para 50% do entrevistados, a rede é ruim ou péssima, enquanto 32% a veem como regular e 18%, como boa ou ótima. Até agora, além dos semáforos, Doria tem enfrentado também uma série de reclamações de mato alto em praças e de buracos nas ruas. A percepção negativa da gestão nos bairros permaneceu estável, com 75% dos ouvidos dizendo que Doria fez menos que o esperado por sua vizinhança. Esse índice estava em 74% em junho. Na cidade como um todo, acreditam que o prefeito fez menos do que poderia 64%, contra 53% em junho e 39% após o seu primeiro mês no cargo. Nem tudo é má notícia para o tucano, contudo. Comparando com os governos Gilberto Kassab (2006-2012) e Fernando Haddad (2013-2016), as queixas da população se diluíram um tanto. A saúde, que foi alvo da ação mais bem sucedida de Doria até aqui na forma do Corujão para erradicar filas de exames médicos pendentes da gestão passada, ainda é a maior queixa da população –25% dos paulistanos a veem assim. Esse índice está estável em relação a aferição de abril, tendo oscilado negativamente de 29% desde fevereiro. Segundo a pesquisa Datafolha de agora, o maior acerto da gestão Doria está na área de limpeza e coleta de lixo –alvo de sua ação Cidade Linda, de zeladoria em pontos visíveis da cidade. Para 11% dos ouvidos, o governo vai bem na área, contra 15% que achavam isso em abril. As doações empresariais à cidade continuam sendo malvistas pelos moradores. Para 46% dos paulistanos, elas não são transparentes (eram 45% em junho). Já 9% as veem como transparentes. O centro, alvo da ação contra a cracolândia encabeçada pela prefeitura e governo do Estado, é a região da cidade em que o prefeito recebe as melhores avaliações. A pesquisa Datafolha ocorre também no momento em que o prefeito consegue avançar na Câmara os principais pontos de seu programa de concessões e privatizações. Já foram aprovados e no aguardo da publicação dos editais as concessões, por exemplo, de terminais de ônibus, Bilhete Único, parques e o Mercadão, por exemplo. As privatizações de Anhembi e Interlagos ainda precisam passar pela avaliação dos vereadores.
2017-08-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925262-aprovacao-de-doria-cai-nove-pontos-e-maioria-rejeita-seu-plano-presidencial.shtml
De advogado a professor, diplomados viram moradores de rua em São Paulo
Moradores de rua também têm sua "classe média", gente outrora mais abastada que entrou numa espiral de decadência da qual não conseguiu sair e, hoje, acode aos albergues da Prefeitura de São Paulo em busca de segurança e de apoio para sobreviver com as próprias pernas. É um subgrupo que não pratica a mendicância, evita dormir ao ar livre e usufrui da estrutura pública de assistência social por meses, às vezes, anos. Sua penúria tem as mesmas origens de quase toda população excluída –desemprego, despejo, separação conjugal, doenças psiquiátricas e vício em álcool e drogas. Mas seu tombo social costuma ser maior: até se verem sem nada e atingirem o esgotamento, passaram a maior parte da vida com trabalho e carteira assinada, fizeram cursos universitários, tiveram uma família, falam duas línguas ou mais e viajaram o mundo por conta da carreira ou por aventura. "A gente vê que muitos moradores de rua são qualificados –tem ex-advogado, dono de posto de gasolina, piloto de avião", diz o secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Filipe Sabará, que substituiu a vereadora Soninha Francine (PPS) no comando da pasta na gestão João Doria (PSDB) há seis meses. "E normalmente o maior problema é emocional, a pessoa entra num ciclo de miséria e não acredita mais nela mesma. A mente não acredita mais que pode dar a volta por cima". Segundo ele, há, nessa categoria, uma alta incidência de homens abandonados pela mulher e pela família, por causa do uso abusivo de álcool e drogas, que, por uma questão de orgulho, se tornam invisíveis para a sociedade e somem do mapa sem deixar rastros. Muitos não querem ser encontrados. Outros têm celular e podem ser contatados com mais facilidade. "Meus problemas começaram quando minha mulher me deixou e voltou para a Ásia", diz o coreano Oh Eu Kweon, 55, ex-comerciante que vive hoje num albergue municipal na rua Prates, no centro de São Paulo e faz bicos para viver. De acordo com a prefeitura, vivem hoje em situação de rua entre 20 mil e 25 mil pessoas, um aumento de cerca de 40% em relação ao último levantamento oficial feito, em 2015, pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que detectou 15,9 mil pessoas nessa condição, entre albergados e errantes. A crise econômica explica esse crescimento exponencial de mais de 2.000 almas por ano. A imensa maioria dessa população é de homens, 88,6%. As mulheres caem em desgraça mais raramente e com frequência vão para as ruas acompanhando seus maridos ou companheiros. Do total da população em situação de rua, mais ou menos a metade se instala nos albergues públicos, que oferecem cerca de 12 mil vagas. Nesses locais, há quatro refeições por dia, banho, acompanhamento psiquiátrico e de outros problemas de saúde, cursos profissionalizantes, regularização de documentos e encaminhamento para encontrar trabalho. "É um lugar que dá oportunidade para se recuperar, escapar da violência e procurar emprego", afirma o professor de inglês André da Mata, 46, morador do albergue Arsenal da Esperança, o maior da cidade, com 1.200 lugares. Diferentemente do que se costuma imaginar, a maior parte dessa população trabalha. Entre os acolhidos em albergues, 17,9% estão empregados com ou sem registro em carteira e 57,7% atuam por conta própria, em geral no comércio de rua ou na catação de lixo e fazendo bicos. Mesmo entre aqueles que moram na rua, 4,8% estão empregados. A população de rua é muito heterogênea e o indicador mais palpável da classe média é a alta escolaridade. O último levantamento da Fipe detectou que apenas 9% das 15,9 mil pessoas em situação de miséria tem curso superior completo ou incompleto. (A grande maioria dessa população, 80,6%, não terminou o ensino médio, 9,6% é analfabeta). Entre 2010 e 2015, houve um crescimento do número de pessoas formadas em universidades vivendo em situação de rua, tanto na população acolhida em albergues quanto na que dorme nas calçadas, de 1,9% para 4%. "A gente encontra famílias de classe média, ex-empresários e gente que teve uma boa vida num passado recente", diz o padre Julio Lancelotti, coordenador da Pastoral dos Moradores de Rua. "O que pode explicar isso é a história de vida de cada um, mas normalmente essas pessoas enfrentam uma sucessão de perdas, que envolve a sanidade, a profissão e os laços familiares." A Folha ouviu cinco desses homens aparentemente bem preparados que perderam o rumo. MIGUEL DI DOMENICO, FERRAMENTEIRO, 56 Há pouco mais de mês, uma combinação perversa levou o ferramenteiro argentino Miguel Di Domenico, 56, a morar nas ruas e praças do centro de São Paulo. Misturou-se um problema de saúde –um coágulo no coração que o levou a ficar um ano sem trabalhar e a uma internação no Instituto Dante Pazzanese, na zona sul– com um golpe que afirma ter tomado de um sócio na sua pequena empresa. Somou-se a isso o afastamento de mais de uma década da ex-mulher e das duas filhas, hoje com 19 e 24 anos, e a equação destrutiva se fechou. Miguel se viu sem ninguém, sem dinheiro e sem ajuda, que também não pediu a nenhum amigo por orgulho. Com apenas uma mochila de roupas e um saco de tralhas, partiu para uma jornada sem rumo pela cidade. No último dia 12, Domenico, que morou na Itália muitos anos e, nos velhos tempos, fazia negócios com prata em países como Espanha e Suíça, zanzava pela praça da Sé atrás de uma vaga de pernoite em algum albergue da prefeitura. Buscava, também, um prato de comida em meio ao cenário de disputa de almas em que a praça se converte durante a noite, onde grupos de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus dividem espaço com católicos e assistentes sociais da administração pública para acudir os homens e as mulheres das ruas. O argentino parecia um pouco atordoado, mas conformado com seu destino. Enquanto não consegue uma vaga definitiva em um albergue, ele tem passado seus dias andando pelas ruas e deitado nas calçadas –começou sua jornada errante na rua Boa Vista, perto de um posto policial, onde se sentiu mais seguro, e agora começa a entender a nova vida. "É um lugar novo para mim e nunca pensei que pudesse chegar a essa situação –tudo o que podia dar errado deu errado", diz Domenico com um sorriso plácido no rosto e com sotaque italiano. "É um submundo desconhecido que ainda estou tentando entender e que você só conhece mesmo quando vive." ANDRÉ DA MATA, PROFESSOR, 46 Em março deste ano, o artesão de bijuterias e professor de inglês André da Mata, 46, ficou 20 dias largado nas ruas de São Paulo, jogado no mundo, sem tomar banho ou trocar de roupa. Por conta de sua dependência em álcool, decidiu se internar no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), do governo do Estado, onde ficou mais 33 dias. Atualmente hospedado no albergue Arsenal da Esperança, ele toma medicamentos para suportar a abstinência. Diz que, enquanto se trata, está juntando dinheiro com a venda de seu artesanato para comprar uma barraca. "Durmo na rua, mas me defino como um viajante", afirma. "Leio muito Humberto Rohden, autor de 'A Experiência Cósmica', e a Bíblia, além de fazer meditação." Mata nasceu em Jacareí (SP), cresceu em Brasília e diz que sempre foi um homem errante. Fez curso de letras, mas não terminou. A primeira oportunidade para uma longa viagem apareceu em 1995, após ser batizado na Igreja mórmon. Foi convidado a servir como missionário e ficou dois anos em Nova York. Depois de uma rápida escala em Brasília, onde trabalhou algum tempo na agência de turismo do pai, foi para Salt Lake City, nos EUA, sede da igreja. "Viajei por 25 Estados americanos e passei seis anos por lá sobrevivendo com a venda de artesanato". Esse período terminou com uma deportação para o Brasil, mas Mata não perdeu tempo. Assim que chegou em Brasília embarcou para Israel, onde passou alguns meses, e depois circulou quatro anos pela Europa. Morou na Itália, França, Suíça, República Checa e Espanha, onde acabou sendo deportado novamente. Entre 2008 e 2014, trabalhou no setor hoteleiro e deu aulas de inglês em Brasília e no Rio Grande do Sul. "Há três anos, me desiludi com tudo, vendi um carro que meus pais tinham me dado e fui para a Chapada Diamantina orar e meditar para encontrar meu eu divino", diz. "Acho que lá começou minha nova história." Mata espera se recuperar do alcoolismo para retomar sua jornada. RAMON COSTA OLIVEIRA, REPRESENTANTE COMERCIAL, 41 O baiano Ramon Costa Oliveira se orgulha de seus feitos na natação e de seus tempos de atleta. Fez quatro travessias marítimas da Grande Salvador percorrendo 14 quilômetros de distância e, em uma delas, conseguiu um honroso 6º lugar. Cursou até o segundo ano de educação física antes de ser cativado pela atividade de representante comercial que exerceu até três anos atrás. No seu caminho profissional passou por seguradoras, como a SulAmérica, e grandes empresas alimentícias como Bunge e Master Foods. "Era um bom nadador e sempre soube fazer negócios", diz Oliveira. "A minha decadência começou por causa do contato com as drogas e o álcool." Seu último trabalho depois de deixar a representação da Master Foods, em 2010, foi no negócio de venda de sacos de lixo. Tinha três funcionários contratados e atuava na região de Sorocaba e Itu, no interior de São Paulo atendendo o comércio varejista. "O problema é que veio a crise e o custo do negócio subiu muito. Fiz alguns investimentos mal planejados e fiquei preso aos financiamentos", explica. Juntou-se a isso a separação da mulher. Oliveira tem um filho adolescente. Como resultado, teve que demitir seus funcionários e encerrar sua empresa no final de 2014. Desde então vive uma peregrinação para tentar arrumar um novo emprego. "Fiquei completamente liso", diz. Chegou a voltar para Salvador para se recolocar no mercado e ficar mais perto do filho, mas não conseguiu nada. "Depois que fechei a empresa, cheguei a ficar dormindo várias semanas no carro", lembra. Logo depois teve que vender o carro. Enfrentou também uma recaída no uso de drogas. Acabou voltando para São Paulo no começo deste ano e ficou 12 dias dormindo na rodoviária do Tietê, por não ter onde morar. Foi resgatado por assistentes sociais da prefeitura e, atualmente, está no albergue da rua Prates. "Continuo em busca de trabalho e por enquanto estou tranquilo", conclui. "Mas no momento em que me vem a frustração, sinto que meus vícios podem voltar." OH EU KWEON, VENDEDOR, 55 O coreano Oh Eu Kweon, 55, viu sua vida ruir nos últimos três anos, quando todas as portas de trabalho se fecharam para ele. Trabalhou sempre com importações e exportações, primeiro na Coreia, onde estudou computação, e depois na América do Sul, por conta de relações de comércio. Decidiu emigrar para a região por causa do clima quente e porque viu oportunidades para se desenvolver profissionalmente. Morou primeiro no Paraguai e, depois de duas viagens de turismo para o Brasil, quando fez alguns contatos de negócios, decidiu se radicar em São Paulo no final dos anos 1980. Antes, voltou à Coreia para se casar e ter uma mulher para cuidar dele, como diz. Retornou casado e conseguiu a identidade de estrangeiro em 1989. "É muito difícil ver um coreano nas ruas, mas eu desandei por causa de algumas decepções e do álcool, que sempre me atraiu", afirma Kweon, que declarou ter bebido umas boas doses de cachaça Corote para conseguir dar entrevista. "Não sei dizer onde eu falhei, mas fiz coisas que não funcionaram." Ao longo de sua vida profissional, Kweon trabalhou em várias lojas na rua 25 de Março e no Bom Retiro como vendedor e gerente. Envolveu-se no ramo de confecções e depois entrou no comércio popular de bijuterias, setor dominado hoje pelos coreanos da rua 25 de Março. A situação para Kweon começou a desandar na última década, quando a mulher decidiu voltar para a Coreia por causa de dificuldades para aprender português e para se adaptar, ele conta. Os dois tiveram um filho brasileiro, que acompanhou a mãe. Além disso, perdeu um bom emprego porque seu patrão foi à falência depois de ter vários contêineres de bijuteria retidos pela Receita Federal. Nos últimos tempos, Kweon depende dos albergues municipais para viver com alguma segurança. Perdeu todos os documentos e conta com a ajuda dos assistentes sociais para conseguir as segundas vias. "Gosto daqui, mas sinto vergonha e sofro preconceito por ser oriental", afirma. RICARDO LUDKE, GERENTE, 57 Com dois cursos superiores incompletos –tecnologia em cooperativismo e processamento de dados–, ambos feitos em Santa Maria, onde cresceu, o gaúcho Ricardo Ludke, 57, teve uma boa carreira ao longo dos anos 1990, na rede de supermercados Real, hoje Big. Era gerente do setor de self-service e servia refeições para 1.700 pessoas por dia. Casou, teve um filho, mas a vontade de se aventurar falou mais alto. Deixou o emprego e migrou para a Bahia, terra da mulher. Tentou a sorte em Salvador, mas como não conseguiu um bom trabalho, decidiu tentar de novo em Boston (EUA). Emigrou em situação ilegal e deixou a mulher e o filho no Brasil para resgatá-los quando estivesse em melhores condições financeiras. Ao longo de seis anos, tentou a vida no exterior à base de subempregos. Trabalhou como jardineiro, lavador de carros, pedreiro e aprendeu a falar inglês fluentemente. Não conseguiu dinheiro para resgatar a família e, no começo de 2006, voltou para o Brasil. "A crise nos Estados Unidos começou a me afetar, faltavam vagas mesmo em serviços gerais e havia muita concorrência", lembra. Com algumas economias, decidiu voltar a Santa Maria e montou uma creperia, que sobreviveu por poucos anos. Desde 2010, Ludke vinha trabalhando em churrascarias e restaurantes pelo Brasil como garçom e preparador de carnes. Ganhava entre R$ 2.000 e R$ 3.000 por mês. "O álcool foi meu problema e a rotina de trabalho me levava a beber mais –nos dias de folga não fazia outra coisa." Trabalhou em churrascarias em Brasília e em SP. O último emprego foi em um restaurante em Caieiras, na Grande SP. Quando foi demitido, morou uma semana nas ruas antes de arrumar vaga no albergue da rua Prates, no centro. Ludke tem quase 20 anos de contribuição para o INSS e, recentemente, tentou obter o Bolsa Família, mas não conseguiu. Vem fazendo tratamento contra o alcoolismo no Caps (Centro de Atenção Psicossocial). Perdeu contato com a mulher e o filho. "Temo muito a violência das ruas e ainda quero me acertar", diz.
2017-08-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925287-de-advogado-a-professor-diplomados-viram-moradores-de-rua-em-sao-paulo.shtml
Livros de autores britânicos celebram cem anos da Revolução Russa
Os cem anos da Revolução Russa são comemorados de diferentes ângulos em dois lançamentos de peso, ambos de autoria de historiadores britânicos. Em "Uma História Cultural da Rússia", Figes descreve, a partir da trajetória de artistas e escritores, as linhas de força que sempre opuseram nacionalistas eslavófilos e cosmopolitas ocidentalizantes na terra dos czares e dos sovietes. E os acontecimentos que levaram à criação da União Soviética são sintetizados por Moynahan em "Camaradas", crônica do convulsivo ano de 1917 que costura biografias de personagens como o monge Rasputin, o czar Nicolau 2º e os revolucionários Kerensky, Lênin e Trótski. Uma História Cultural da Rússia. Autor: Orlando Figes. Tradução: Maria Beatriz de Medina. Editora: Record (2017, 882 págs., R$ 109,90) Camaradas: 1917 - Rússia em Revolução. Autor: Brian Moynahan. Tradução: Bruno Gambarotto. Editora: Grua (2017, 480 págs., R$ 68) * DISCO Vertigem celestial Criado há 11 anos, o quarteto brasileiro de flautas Quinta Essentia interpreta "A Arte da Fuga", conjunto de fugas compostas por Bach sem indicação de instrumento. Aqui, os diferentes timbres da família das flautas doces (utilizando instrumentos históricos) mergulha numa atmosfera arcaica, litúrgica, os contrapontos vertiginosos da mais abstrata e celestial obra do deus da música. A Arte da Fuga. Artistas: Quinta Essentia Quartet. Gravadora: Ars Produktion (2017, R$ 69,30) * FILME Terror ético Nesse "thriller" ambientado nas montanhas da Patagônia, Darín é o lobo solitário que guarda propriedade familiar e seus segredos. A chegada do irmão e da cunhada, interessados na venda do terreno, desvela um passado incestuoso e um presente de corrupção moral. Suspense atravessado por questões éticas. Neve Negra. Direção: Martin Hodara. Elenco: Ricardo Darín, Laia Costa, Leonardo Sbaraglia e outros. Produtora: Pampa Films (2017). Na Netflix
2017-08-10
colunas
manueldacosta
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/manueldacosta/2017/10/1924550-livros-de-autores-britanicos-celebram-cem-anos-da-revolucao-russa.shtml
Por apoio a Lula, PT pode se aliar a algozes de Dilma
Isolado pelo processo de impeachment de Dilma Rousseff, o PT pretende abrir mão de lançar candidatos a governador em até 16 Estados em 2018 para apoiar nomes de outros partidos. Em troca, os petistas querem espaço em palanques regionais fortes para sua chapa presidencial –encabeçada, a princípio, pelo ex-presidente Lula. Em busca de candidatos competitivos, dirigentes do PT estudam se aliar até a siglas que trabalharam pela queda da então presidente, como PMDB, PTB e PSB. Veja as candidaturas a governador discutidas para as eleições de 2018 A ideia é apoiar "dissidentes" dessas siglas que pretendam se candidatar a governador e abram espaço para a campanha nacional petista. Essa estratégia valerá tanto para uma candidatura de Lula quanto para outro nome do PT, caso o ex-presidente tenha sua condenação confirmada e não possa concorrer. Um mapa traçado a partir de informações de integrantes da direção petista mostra, a um ano do primeiro turno de 2018, que o partido pode reduzir a 11 o número de Estados em que lançará candidatos a governador. Em 2014, o PT lançou 17 nomes. O partido só deve começar a discutir esses cenários oficialmente no fim do mês. Dirigentes, entretanto, já afirmam que suas prioridades serão as eleições para presidente, deputado e senador. A estratégia de pegar "carona" em candidaturas mais fortes nos Estados é uma maneira de compensar o isolamento da sigla com a Lava Jato e o impeachment de Dilma, que deixou sequelas na relação entre os petistas e as principais legendas do país. Por isso, os petistas preveem dificuldades para construir uma coligação nacional ampla em torno de Lula ou de outro presidenciável. Para contornar uma possível falta de musculatura, os dirigentes da sigla querem abrir mão de projetos locais próprios e apoiar o maior número possível de candidatos de outras legendas que se proponham a dar palanque para Lula em seus Estados. São citadas as candidaturas de Renan Filho (PMDB), em Alagoas; Roberto Requião (PMDB), no Paraná; Paulo Câmara (PSB), em Pernambuco; Renato Casagrande (PSB), no Espírito Santo; e Armando Monteiro (PTB), em Pernambuco. Os partidos de todos esses candidatos apoiaram o impeachment e integraram o governo Michel Temer, mas os candidatos são considerados simpáticos ao PT e, principalmente, ao ex-presidente. Apesar do enfraquecimento, o PT ainda é considerado um aliado importante. Como elegeu a maior bancada de deputados em 2014, emprestará uma fatia significativa do tempo de propaganda de rádio e TV às chapas que tiverem seu apoio. Além disso, muitos postulantes a governador querem se aproximar de Lula, uma vez que o ex-presidente ainda detém popularidade alta em muitos Estados -em especial no Nordeste. ADVERSÁRIOS O PSDB deve seguir uma lógica semelhante na montagem de seus palanques estaduais, mas com o objetivo de atrair mais partidos para sua coligação nacional. Em troca de uma aliança com seu presidenciável, os tucanos devem apoiar candidatos do DEM a governador na Bahia (ACM Neto), no Amapá (Davi Alcolumbre) e no Rio (Cesar Maia). Jair Bolsonaro, que trocará o PSC pelo Patriota, ainda não construiu o cardápio de candidaturas que dará sustentação a seu projeto presidencial. Adilson Barroso, presidente do futuro partido do parlamentar, quer lançar candidatos a governador em quase todos os Estados. O dirigente cita negociações em Minas Gerais, Pernambuco, Acre, Maranhão e São Paulo -onde um "famoso do meio da comunicação" está em "fase adiantada de acerto" para tentar ser governador pela legenda. A Rede, de Marina Silva, deve seguir a mesma estratégia, com candidatos próprios a senador, governador ou vice-governador em todos os Estados. Os nomes ainda não foram definidos. Mais adiantada está a articulação em torno de Ciro Gomes. As campanhas regionais do PDT preveem a disputa à reeleição de dois governadores (no Amapá e no Amazonas), além de outros 11 possíveis candidatos próprios. Em ao menos três Estados, Ciro pode dividir palanque com Lula. Na Bahia, o partido pleiteia a vaga ao Senado na chapa do atual governador Rui Costa (PT). No Piauí, pode indicar o vice-governador ou o senador de Wellington Dias (PT). Cid Gomes, irmão do presidenciável, deve disputar o Senado na chapa de Camilo Santana (PT), que tentará se reeleger governador.
2017-08-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925301-por-apoio-a-lula-pt-pode-se-aliar-a-algozes-de-dilma.shtml
A morte da bezerra
A melhor solução quando um cronista não tem assunto é escrever sobre a morte da bezerra. No entanto, se fosse seguir a regra, eu matava todas as bezerras do mundo. Felizmente tenho bezerras preferenciais. São duas fotos e dois fatos que frequentam minha necessidade de pelo menos matar duas delas. A primeira é a foto do presidente Clinton, Arafat (líder palestino) e Yitzhak Rabin (primeiro ministro de Israel). Os três apertam as mãos selando uma paz que nunca houve. Lembro da delicadeza de Clinton com a mão no ombro de Arafat, convidando-o a entrar primeiro na sala da reunião que parecia o fim de uma guerra que ainda não acabou. Rabin foi assassinado por um judeu, Arafat pode ter sido envenenado e Clinton ficou desmoralizado pelo boquete mais famoso da história. Pulo no tempo e vejo Donald Trump e Putin de mãos dadas tentando resolver o problema da Coreia do Norte, que pode se transformar num abacaxi atômico. Ao longo da história, Brutus apunhalou César pelas costas, tentando moralizar o império mais imoral da história. Como se vê, não faltam bezerras para qualquer cronista sem assunto. Acredito que há bezerras suficientes para o cronista sobreviver no duro ofício de comentar atos e fatos -que foram, aliás, o título de um livro que escrevi em 1964, que me rendeu seis prisões consecutivas, um autoexílio em Cuba e, como sobraram algumas bezerras, consegui comprar uma casa em Teresópolis. Sou pessimista desde o dia em que o dr. Heitor Machado Silva ajudou a me botar neste mundo. Sempre disse que o otimista era um cara mal informado. O que há de bezerras dando sopa, desde que Noé colocou duas numa arca que devia até hoje estar no fundo do mar, em situação pior do que a do Titanic! Que as bezerras me perdoem, à custa delas pretendo comprar um carro novo.
2017-08-10
colunas
carlosheitorcony
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/2017/10/1925274-a-morte-da-bezerra.shtml
Fazenda de chá moldou história do bairro do Morumbi, em São Paulo
LARISSA TEIXEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Um dos últimos bairros a serem urbanizados em São Paulo, o Morumbi, na zona oeste, preserva memórias de um município rural. A região, hoje uma das mais ricas da cidade, já foi conhecida como Fazenda Morumbi, propriedade de aproximadamente 8.000 m². O terreno abrigava uma capela e uma casa luxuosa construída em 1813 pelo regente Diogo Antônio Feijó. Ainda no início do século 19, dom João 6º, grande apreciador de chá, doou o terreno ao agricultor inglês John Rudge, que lá instalou a primeira fazenda de chá do Brasil. "Os cultivos de chá e as videiras, para a produção de vinho, adequaram-se muito bem à região, que tinha um clima mais frio", conta Silvia Cristina Siriani, professora de história da FMU. Por volta de 1840, o terreno foi vendido e a casa passou de mão em mão até que, no início do século 20, uma infestação de pragas destruiu as plantações -ponto de partida para a divisão da propriedade em lotes menores. Em 1948, o processo de urbanização foi iniciado pelo engenheiro Oscar Americano. "O loteamento do terreno começou a atrair famílias com alto poder aquisitivo, interessadas em tranquilidade, luxo e maior distância do centro", diz Levino Ponciano, autor do livro "Bairros Paulistanos de A a Z". A construção do estádio do Morumbi, no fim dos anos 50, e a mudança da sede do governo do Estado para o Palácio dos Bandeirantes, em 1964, impulsionaram mais o crescimento e a ocupação do bairro. Hoje, a área da antiga Fazenda Morumbi abriga tanto edifícios de luxo quanto a comunidade de Paraisópolis, segunda maior favela da cidade de São Paulo. A Casa da Fazenda foi preservada até 1920, quando sua estrutura ruiu parcialmente e precisou ser reconstruída. A obra foi então planejada pelo arquiteto modernista Gregori Warchavchik (1896-1972). Na década de 1990, iniciou-se um novo processo de restauração com base na construção original, em taipas de pilão. Em 2005, a casa e a capela foram tombadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Em seus jardins, ainda há plantas nativas como o palmito-juçara e o jerivá, palmeiras da mata Atlântica.
2017-08-10
sobretudo
morar
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/10/1925123-fazenda-de-cha-moldou-historia-do-bairro-do-morumbi-em-sao-paulo.shtml
Em alta, modelo trans Valentina Sampaio estreia no cinema
Paris esbanjava euforia na tarde de domingo passado (1º) para celebrar a beleza da cidade e das mulheres no desfile da grife de cosméticos L'Oréal. Entre as beldades que posavam para fotos ao lado das atrizes Helen Mirren e Jane Fonda, estava Valentina Sampaio, 20, única brasileira em uma seleção que incluía tops como Doutzen Kroes, Joan Smalls e Barbara Palvin. Transexual e com pouco mais de um ano de carreira no exterior, a modelo já estampou capa da "Vogue" francesa, campanha da Balmain e, no sábado (7), estrearia no cinema em "Berenice Procura", de Allan Fiterman, dentro do Festival do Rio. A via-crúcis de Isabelle, cantora a cuja identidade Valentina dá corpo e alma no longa, em nada se compara à trajetória da modelo, segunda filha de um pescador e uma professora primária da pequena Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza (CE). Ao contrário de sua personagem, renegada pela família biológica, a modelo e atriz foi aceita desde cedo pelos pais e pelas pessoas que acompanharam sua mudança. Ainda na escola, aos dez anos, passou a ser chamada pelo nome social. O da certidão de nascimento ela não revela e, hoje, tenta colocar no registro social aquele que escolheu para a vida. "Percebi que havia algo diferente em mim quando me colocavam roupas de menino e eu não me reconhecia. Sempre me senti mulher, e isso logo ficou claro para todo mundo", conta à Folha. Foi só após se mudar para Fortaleza, onde cursou moda em uma faculdade e começou por brincadeira uma carreira em frente à câmera, que sentiu o incômodo dos outros sobre sua condição. "Estava tudo bem, até que comecei a perder trabalhos, já agendados, quando o dono da marca ou da loja descobria que eu era transgênero. Sempre diziam, 'O que meus clientes vão pensar?', e comecei a me sentir errada", relembra a modelo. "Daí percebi que isso seria um motivo para lutar por mim." O nocaute veio em 2015, quando o diretor Allan Fiterman escalou Valentina para o papel em seu filme. A modelo se preparou por três meses, com aulas de atuação, corpo e canto, e encarou o set antes mesmo do estouro na moda, que ocorreu em 2016, quando a L'Oréal a convidou para gravar um vídeo para o Dia Internacional da Mulher, e a "Elle" brasileira lhe deu a primeira capa. O filme trata de Berenice (Claudia Abreu), taxista que, violentada pelo marido (Eduardo Moscovis) e cansada do trabalho, se envolve numa trama policial para investigar a morte de uma cantora transgênero chamada Isabelle. "Não queria atrizes para o papel, por achar mais interessante mostrar trans fazendo o papel de trans. Mas não poderia ser alguém 'fake'. A Valentina tem uma pureza que a torna genuína", explica Allan Fiterman. Ele também é um dos diretores da novela "A Força do Querer", da TV Globo, cuja trama levanta a temática dos transgêneros. Participam do longa a atriz Vera Holtz, o ator Emílio Dantas, o cantor Johnny Hooker e as transexuais Carol Marra, também modelo em ascensão, e Thalita Zampirolli. A reportagem apurou que o filme foi incluído na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a ser realizada entre os dias 19 deste mês e 1º de novembro. TRANS-FORMAÇÃO Valentina figura ao lado da brasileira Lea T. e da bósnia Andreja Pejic no olimpo de uma safra de modelos transexuais, masculinos e femininos, que tomaram revistas e campanhas nesta década. Além do trio, a americana Hari Nef estrela campanha de um perfume da Gucci, e três transexuais estampam peça publicitária da grife Proenza Schouler lançada em abril. "Seria mentira dizer que não há mais preconceito [contra trans], mas a moda se tornou uma das áreas mais abertas para a mudança de pensamento sobre sexualidade e beleza", diz Valentina. Aberta, sim, mas ainda não ao ponto de realizar o maior sonho da modelo: tornar-se a primeira transexual no time das tops "mais sexy do mundo", o das "angels" da grife Victoria's Secret. No último mês, aventou-se a possibilidade de Valentina integrar o "casting" do desfile anual da marca, que tem as brasileiras Adriana Lima, Alessandra Ambrósio e Laís Ribeiro no portfólio. O boato, porém, não se confirmou. "Tudo acontece na hora certa. Há até pouco tempo, ficava ansiosa para receber um telefonema [da Victoria's Secret]. Hoje, rezo todos os dias e agradeço a Deus pelo que me aconteceu", afirma. A modelo se diz religiosa e vê com assombro propostas de "cura gay" que ganharam o noticiário recente. "É tão absurdo pensar que esse discurso coloca minha sexualidade como doença. Doentes são os que pensam assim." Ela completa: "Nunca me senti diminuída e recomendo a quem se sinta atingido que não o faça; somos especiais assim, do jeito que nascemos".
2017-08-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1924928-em-alta-modelo-trans-valentina-sampaio-estreia-no-cinema.shtml
Honda CG 2018 chega ao mercado com mudanças no sistema de freios
GUILHERME SILVEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Com 41 anos de estrada, a Honda CG apresenta seu modelo 2018 com ciclística aprimorada e pequenas mudanças visuais. As alterações reforçam a segurança. A motocicleta, amplamente usada para frete urbano, lidera as vendas no Brasil. Até setembro de 2017, a família CG respondeu por 74,27% de todo o mercado de duas rodas. Segundo a Fenabrave, foram 195.148 unidades emplacadas nestes nove meses. A Folha avaliou a nova CG 160 fora de seu habitat, em um circuito fechado no interior de São Paulo. Apesar da baixa cilindrada, surpreendeu pelo rodar suave e ágil. A maior novidade da linha 2018 aparece na versão Start, que passa a ter frenagem combinada (CBS) no simplório sistema a tambor. Antes, o item só estava disponível nas opções mais caras, com freios a disco. Funciona assim: ao acionar o pedal de freio traseiro, o CBS distribui parte da força aplicada à roda da frente. Em pesquisa feita em São Paulo no evento Motocheckup, em maio, o freio traseiro foi o item que teve maior índice de reprovação: 32% das motocicletas avaliadas tinha problema nessa peça. "A dosagem correta na frenagem das motos fica em torno de 70% na dianteira e de 30% atrás, que atua como um 'leme'. Muitos motociclistas pouco usam o freio dianteiro, o que compromete a segurança", diz Alfredo Guedes, engenheiro da Honda. DOIS CABOS O sistema CBS é mecânico na CG Start: funciona com dois cabos ligados a uma alavanca. Ao pressionar ao máximo o pedal de freio traseiro, o equipamento transmite até 34% da força para a roda da frente. A 80 km/h, as paradas foram seguras. Demais mudanças na versão Start aparecem nas rodas raiadas com acabamento fumê e nas lentes transparentes dos piscas laterais. O mostrador digital poderia oferecer relógio e conta-giros, itens que a versão Fan acaba de receber. Na Titan, versão mais cara da linha CG, o mostrador tem fundo "Blackout". Com potência de 15,1 cv usando etanol –as versões Fan e Titan são flex–, a CG 160 encarou bem os aclives da pista, com disposição em retomadas e acelerações. A CG 160 Start só aceita gasolina e tem preço sugerido de R$ 7.990. A Fan custa R$ 8.990, e a Titan, R$ 10.190. Todas as opções têm garantia de três anos.
2017-08-10
sobretudo
rodas
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/rodas/2017/10/1925109-honda-cg-2018-chega-ao-mercado-com-mudancas-no-sistema-de-freios.shtml
Dinheiro público ajudou Nuzman a se perpetuar no poder no esporte
Tida como principal legado da gestão de Carlos Arthur Nuzman à frente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), a Lei Piva financiou as entidades esportivas e as tornou dependentes de seus recursos, que são públicos. Levantamento feito pela Folha indica que 10 das 30 confederações esportivas olímpicas nacionais tiveram o exercício de 2017 totalmente custeado com verba da lei. Destas, sete afirmaram não ter outra fonte de renda senão os aportes oriundos da norma, sancionada em julho de 2001 após pesado lobby de Carlos Artur Nuzman no Congresso Nacional. A legislação instituiu que 1,7% da arrecadação bruta das loterias federais vai para o COB. O CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) recebe 1% da receita com jogos de azar. Para 2017, por exemplo, o COB trabalhava com estimativa de R$ 210 milhões, dos quais R$ 85 milhões seriam dirigidos às confederações. A gestão do repasse desse dinheiro é do comitê. Nos 16 anos entre a sua criação e a última quinta (5), quando Nuzman foi preso temporariamente pela Polícia Federal por suposta participação na compra de votos para eleger o Rio sede dos Jogos de 2016, a Lei Piva ajudou a consolidar o domínio de poder do cartola dentro do COB. Nuzman instituiu salários a presidentes de confederações -e ainda a diretores delas- com recursos da lei, por exemplo. Ao longo dos anos, o esporte olímpico nacional ficou cada vez mais "pivadependente" e as confederações, com cada vez menos autonomia. DINHEIRO PÚBLICO Entre as 29 confederações consultadas, levantamento de peso, esgrima, boxe, pentatlo moderno, ciclismo remo e hóquei sobre a grama disseram que suas receitas vêm 100% de verba pública. Vale um parêntese. Apenas boxe, com ouro nos Jogos do Rio-2016, e o pentatlo moderno, com um bronze em Londres-2012, foram ao pódio nas últimas duas Olimpíadas. Outras sete -triatlo, vela, tênis de mesa, desportos no gelo, wrestling, badminton e tiro esportivo- contaram com dinheiro da Lei Piva para compor 50% ou mais do orçamento para este ano. Somente o rúgbi disse que a fatia advinda da lei representa menos de 20% de seus ganhos -o vôlei não deu detalhes da divisão. Confederações de canoagem, basquete, hipismo e tiro com arco não responderam à reportagem. "Sem os recursos da Lei Piva, a CBHG não teria condições de continuar funcionando", disse a confederação de hóquei sobre a grama. A modalidade foi a única que deixou de levar equipe para os Jogos do Rio. A equipe feminina nacional, por não figurar nem ao menos entre as 40 primeiras do ranking mundial, não pôde competir. Durval Balen, líder do tiro esportivo nacional, que obteve uma medalha de prata com Felipe Wu na Rio-2016, afirmou que a entidade "jamais teve patrocínio, seja de empresas públicas ou privadas". "Ter recursos da Lei Piva é vital para a confederação manter as suas atividades. Sem estes, estaria inviabilizado, por exemplo, o trabalho de preparação dos nossos atletas das disciplinas olímpicas e pagamento dos salários de treinadores", disse. Devido a problemas de Justiça ou de prestações de contas, o taekwondo, os esportes aquáticos e o basquete tiveram recursos da Lei Piva bloqueados nesta temporada. Por causa das restrições, o COB tem ajudado diretamente na preparação dos atletas das respectivas entidades. De 2016 para 2017, o COB mudou seu modelo de distribuição de verbas da lei. Criou um sistema de pontos e fez cortes nos repasses. O que desagradou as confederações mais dependentes dela. "[Sem recursos] Seria impossível realizar as operações. Com o corte de recursos neste ano, a CBTM teve de diminuir em quase 50% o quadro de funcionários", diz a confederação de tênis de mesa. Os valores previstos pela norma são repassados pela Caixa Econômica Federal. Consultado, o banco disse que o suposto envolvimento de Nuzman no esquema de compra de votos não vai atingir os pagamentos. "Os repasses de recursos das loterias federais às instituições beneficiárias são executados em estrito cumprimento à legislação vigente, não constituindo prerrogativa desta empresa pública atuação diversa da prevista em lei", assinalou a estatal. RISCO Tramitam no Congresso alguns projetos de lei que pedem alterações na Lei Piva. Uma delas é do deputado federal Ezequiel Texeira (PTN-RJ), que queria estabelecer teto para utilização dos recursos vindos da arrecadação na manutenção burocrática do COB, CPB e confederações. Outras visam tirar dos comitês olímpicos e paraolímpicos a responsabilidade de operar os repasses. "Se cortar a Lei Piva, o esporte nacional de alto rendimento para", afirmou o presidente da confederação de vela, Marco Aurélio de Sá Ribeiro. "No futuro, eu acho que todas as confederações têm que fazer o dever de casa e ir atrás de outros recursos. Minha ideia é que a Lei Piva caia para 20% dos meus recursos em 2020", complementou. A vela brasileira tem 59% de suas receitas bancadas pelo dinheiro da Lei Piva e outros 41% de patrocinadores. "A lei é muito boa por um lado, mas por outro pôs as confederações como agência pegadoras de dinheiro público", finalizou o dirigente.
2017-08-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925293-dinheiro-publico-ajudou-nuzman-a-se-perpetuar-no-poder-no-esporte.shtml
Argentina paga o preço por três anos de caos e pode ficar fora da Copa
De cabeça baixa, os jogadores da Argentina atravessaram o corredor do estádio Centenário, em Montevidéu. Ignoraram os jornalistas. Todos passaram batidos por grupo de quatro crianças que imploravam por uma foto. Todos, menos um: Messi. Com o mundo desabando em seus ombros, o atacante cinco vezes melhor do mundo tenta salvar uma seleção em que ninguém se entende e que corre o sério risco de não disputar o Mundial pela primeira vez desde 1970. A Argentina precisa vencer o Equador na terça (10), em Quito, para pelo menos se garantir na repescagem contra a Nova Zelândia. O empate pode servir, desde que haja um ganhador na partida entre Peru e Colômbia e o Paraguai não vença a Venezuela. Como a Argentina chegou a essa situação? "Se você souber a resposta, me avise. É uma frustração grande. Talvez falte fazer o primeiro gol nos jogos. Sair na frente. Depois dos 15 minutos, com placar empatado, os jogadores ficam apavorados", disse à Folha Jorge Burruchaga, campeão mundial em 1986 e vice em 1990. Em campo, nem o jeito reservado de Messi é capaz de esconder a irritação que sente. Ao final do empate em 0 a 0 com o Peru na última quinta (5), ele fechou os olhos e bufou de frustração. Apesar de ter criado todas as chances do time, foi massacrado por parte da imprensa local, como acontece sempre que a equipe não vence. "Espera-se tudo de Messi, que faça tudo em campo. Até ele, que é o melhor do mundo, precisa de apoio", diz Carlos Bilardo, técnico campeão na Copa de 1986 e hoje apresentador da rádio La Red, de Buenos Aires. Bilardo é o maior crítico do atual comandante da seleção, Jorge Sampaoli. Mas agora prefere se calar. A campanha ruim é resultado do caos em que mergulhou o futebol do país desde a morte de Julio Grondona, presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino) de 1979 até sua morte, em 2014. A entidade teve junta diretiva que não conseguia um nome de consenso para ser o novo mandatário. A eleição de Mauricio Macri para a presidência da república sinalizou o fim do "Futebol para Todos", programa do governo que comprava os direitos de transmissão do futebol e os distribuía para emissoras de TV amigas do regime. Por falta de pagamento de salários, jogadores do país entraram em greve neste ano. A crise financeira fez a comissão técnica de Gerardo Martino, que se demitiu em maio de 2016, entrar na justiça para receber os atrasados. Todos os problemas foram parar dentro de campo. "Sampaoli tem até um verdureiro na comissão. Se eu tenho uma pessoa como Sampaoli, que ganha 7 milhões de pesos por mês [R$ 1,3 milhão], que ela apresente uma solução!", reclamou Alejandro Fantino, um dos apresentadores de TV mais populares do país, após o empate com o Peru. Ele chamou o técnico de "fotocópia do [tenista] André Agassi". Figuras de TV costumam ir longe no futebol local. Um dos homens mais poderosos do esporte é Mauricio Tinelli, também apresentador e cartola do San Lorenzo. DIGA QUE FICO "A gente precisa parar com essa história de que a solução é pegar a bola, dar a Messi e rezar para ele resolver. A seleção tem de aprender a tirar o melhor dele", analisa Mario Kempes, artilheiro e campeão da Copa de 1978. Em 2014, Alejando Sabella percebeu que a Argentina só iria longe no Mundial se acertasse a defesa, mesmo que o ataque fosse sacrificado. Chegou à final. Ele se demitiu após o torneio e hoje, com problemas de saúde, está longe do futebol. Os que o sucederam não obtiveram sucesso. A Argentina teve três técnicos nas eliminatórias, fruto da falta de planejamento e vaidades. Martino não queria ser sucedido por Sampaoli, seu desafeto. Mesmo após decidir sair, se segurou até o rival achar emprego na Espanha. Entrou Edgardo Bauza. Durou sete meses. Disputou 24 pontos e ganhou 11. Sampaoli estreou em setembro. Nenhum dos três acertou o ataque. Nem Messi, que renunciou à seleção, farto das críticas após a Copa América de 2016. Depois voltou atrás. Ele já teve Aguero, Higuaín, Dybala, Correa, Tevez, Lavezzi, Pratto, Alario, Benedetto e Icardi como companheiros de ataque. Em 17 jogos, a Argentina fez 16 gols. O 2º pior ataque das eliminatórias. "Menosprezamos o Peru. Sempre foi equipe difícil, bem montada. Não podemos viver no passado e achar que vamos a Quito golear o Equador. Essa época acabou. A Argentina precisa ser organizada. Ter calma e planejamento", finaliza Bilardo.
2017-08-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925298-argentina-paga-o-preco-por-tres-anos-de-caos-e-pode-ficar-fora-da-copa.shtml
Idosos que têm cães caminham 23 minutos a mais, segundo ingleses
Os benefícios já estão para lá de comprovados: ter um pet reduz o estresse, espanta a depressão, ajuda a controlar a pressão arterial e reforça nosso o sistema imunológico. Mas por quê? Há duas explicações básicas e concomitantes. A primeira aponta para o efeito que a interação com os animais exerce sobre nosso sistema endócrino: tê-los por perto e gozar do carinho que eles nos dão reduz a liberação dos hormônios do estresse (que também levam à hipertensão e à imunossupressão) e aumenta a produção e a descarga dos mediadores químicos responsáveis pela sensação de prazer e felicidade, como serotonina, dopamina e ocitocina. A segunda explicação diz respeito ao impacto que os animais têm, especialmente os cães, sobre nosso estilo de vida. Nos últimos 20 anos, 29 grandes estudos foram conduzidos sobre o tema. A maioria concluiu que pessoas que têm bichos de estimação são menos sedentárias, e a ideia correu o mundo. Mas, olhadas de perto, é possível perceber que as conclusões das pesquisas resultam do relato dos entrevistados sobre seu nível de atividade física, sem que isso tenha sido de fato aferido pelos estudos. Para tirar a limpo essa história e quantificar esse efeito-cão sobre o sedentarismo dos donos, pesquisadores ingleses colocaram monitores de atividade física em 86 pessoas com mais de 65 anos e coletaram dados da rotina delas por três semanas. Resultado: idosos que tinham cães de estimação deram, a cada dia, uma média de 2.762 passos a mais do que aqueles que não conviviam com animais, e gastaram 23 minutos adicionais em caminhadas. Os números representam um acréscimo de 20% a 30% no nível de atividade física diária dessas pessoas. Nada mau para quem tem mais de 65 anos.
2017-08-10
colunas
silviacorrea
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/silviacorrea/2017/10/1924586-idosos-que-tem-caes-andam-23-minutos-a-mais-que-os-outros.shtml
Sob Donald Trump, hino nacional dos EUA parece glorificar guerra
No brilho dos disparos dos canhões e das bombas explodindo no ar, tremula a bandeira estrelada. Os versos iniciais do hino dos EUA descrevem uma cena de batalha —o ataque britânico ao forte McHenry, em 1812. Dois séculos depois, em discurso na Assembleia-Geral da ONU, Donald Trump definiu como "caráter americano" a qualidade de "emergir vitorioso das guerras mais sangrentas" e falou da "devoção [que] se mede nos campos de batalha, das praias da Europa aos desertos do Oriente Médio e selvas da Ásia". O patriotismo bélico do presidente ecoa a natureza militar do "Star-Spangled Banner", o hino do país, e reflete o discurso que domina o país na ressaca do massacre em Las Vegas e dos protestos de jogadores de futebol americano que se ajoelham no campo na hora da canção, em crítica simbólica à violência policial. "É interessante ver como um símbolo patriótico pode refletir o presente", diz Mark Clague, historiador que estuda mudanças na leitura da composição ao longo das últimas duas décadas. "Muitas das questões que nos fazemos hoje sobre polícia, autoridade, direito ao porte de armas e violência têm a ver com aquilo que escolhemos ser enquanto nação", afirma. "Uma canção, ao contrário de uma bandeira inerte, volta à vida quando cantada. Ela faz o passado dialogar com o presente e pode moldar também o futuro." Desde o acirramento dos conflitos raciais no país, que explodiram com a sequência de jovens negros mortos por policiais, Clague aponta uma interpretação cada vez mais frequente dos versos do hino nacional, visto por muitos como um manifesto racista em defesa da supremacia branca. Ele lembra, no entanto, que o entendimento vem mudando ao longo da história. Em sua campanha à Presidência no século 19, Abraham Lincoln alterou os versos. Na época, cada questão social inspirava novas estrofes do hino, publicadas nos jornais em defesa de uma ou outra causa. Segundo Clague, houve nas 80 versões conhecidas da canção tanto versos em defesa dos direitos das mulheres quanto a favor da proibição do álcool, além de elogios da escravidão. Mas o dado mais espantoso, na visão do historiador, é a forma como o hino, turbinado pelos discursos de Trump e sua defesa dos símbolos patrióticos, acaba soando hoje como a "glorificação da guerra e da violência". "Essa visão da guerra como algo patriótico e indolor é um dos perigos da canção", diz Clague. "A ideia de que uma guerra tem mais a ver com fogos de artifício do que com sangue derramado deixa todos confortáveis demais com a noção de luta e de conflito armado."
2017-08-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925337-sob-donald-trump-hino-nacional-dos-eua-parece-glorificar-guerra.shtml
Visitas passam a ser barradas em cartões-postais de Brasília
Raimunda Ferreira Duarte veio com a família do Ceará para Brasília há 37 anos. Com um chapelão para enfrentar o sol inclemente nesta época do ano, é um dos cerca de 20 vendedores de souvenirs, canecas e estatuetas de um dos cartões-postais do país, a Praça dos Três Poderes. Os clientes preferenciais de Raimunda são os turistas que chegam ao Palácio do Planalto e ao STF (Supremo Tribunal Federal), do outro lado da praça. Ou melhor, chegavam. Nos últimos quatro meses, o trabalho de Raimunda sofreu duro golpe, segundo ela: as visitas aos dois prédios são agora cercadas por uma série de novos atos da burocracia. No Planalto, só com agendamento durante a semana, mas nem sempre o site permite uma vaga. No Supremo, agora é proibido visitar o prédio nos finais de semana. "Está ruim, e muito. As pessoas agora têm que marcar com antecedência, tem que isso, tem aquilo. Antes não tinha", disse Raimunda. Quando o empresário Joesley Batista entrou no Palácio do Jaburu e conseguiu gravar o presidente Michel Temer em março passado não houve nenhuma objeção do sistema de segurança a cargo do GSI, o Gabinete do Segurança Institucional. Mas qualquer turista que resolva de última hora conhecer um dos prédios mais importantes da cidade será barrado. As medidas ferem uma tradição de anos em Brasília. Era parte do ritual dos brasilienses no fim de semana levar parentes e amigos de lugares distantes para conhecer os prédios por dentro. Grades colocadas na frente do Planalto após os protestos de rua no governo Dilma Rousseff, em 2013, afetam a fachada e impedem a livre circulação das pessoas. O mesmo ocorre no STF. Na frente do Planalto, elas interditam toda a calçada, empurrando cadeirantes, idosos e crianças para a rua. A procuradora da República Carolina de Oliveira recomendou em agosto que o Planalto, o STF e o Palácio do Buriti, sede do governo do DF, retirassem as grades em 30 dias. Somente o Buriti acolheu a recomendação. Na via de acesso a outro prédio, o Alvorada, foram instalados blocos de concreto e uma cancela no meio da rua. Não raro são vistos ali carros militares e soldados armados. Filha do urbanista e autor do projeto do Plano Piloto de Brasília, Lúcio Costa (1902-1998), a arquiteta Maria Elisa Costa chama o bloqueio de "ridículo" e considera as grades deformação paisagística. O bloqueio no acesso ao Alvorada foi determinado depois que um adolescente ao volante invadiu o prédio em junho. No portão da Câmara, no lugar de uma grade, chapas de ferro obstruem a visão. OUTRO LADO Em nota, o GSI diz que as medidas estão amparadas em decreto de 12 de abril deste ano. "Episódios recentes na Esplanada dos Ministérios e nas residências oficiais comprovam a necessidade de manutenção desta prescrição". O Planalto afirmou que "atualmente o acesso é mais organizado e confortável para o visitante, que pode programar sua entrada com antecedência". O Iphan afirmou em nota à Folha que considera as medidas "transitórias". A Câmara disse que a decisão "de se cobrir com telha metálica os limites da residência oficial" da presidência da Casa foi "motivada por questões de privacidade". O STF não se manifestou.
2017-08-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925325-visitas-passam-a-ser-barradas-em-cartoes-postais-de-brasilia.shtml
Crianças imaginam uma São Paulo menos violenta, mais limpa e cheia de árvores
ANA RIBEIRO COLABORAÇÃO PARA A sãopaulo Um olho na realidade, outro na fantasia. Assim vivem crianças paulistanas. Ao mesmo tempo em que estão conscientes de problemas como trânsito, assalto e poluição, sentem a falta na cidade de unicórnios e arco-íris. Mas o último há! "Eu queria muitos e todo dia", explica Lara, 9. Breno, da mesma idade, sugere uma solução para o trânsito: usar as nuvens como meio de locomoção. O ginasta João Paulo, 9, que acorda todos os dias às 5h para não se atrasar para o treino, gostaria de viver em um lugar sem moradores de rua. E ele também sonha em pilotar um dragão, para sobrevoar São Paulo e verificar lá de cima se está tudo correndo bem aqui embaixo. Para Dora, 6, que acabou de voltar de Veneza, na Itália, seria uma delícia andar de gôndola aqui como ocorre lá. Mas isso só se os rios fossem limpos. "Minha mãe disse que a água do Tietê cheira muito mal, mesmo se deixar a janela do carro fechada." O desejo de Isabela, 6, é que existissem mais árvores com flores e frutas e que houvesse menos bandidos. Ela tem um irmão, Tiago, 2. Caio, 9, é filho único. Acabou de ganhar uma cama nova: um beliche com escrivaninha no andar de baixo. Ele acha chato que São Paulo seja uma cidade tão poluída. E preferia que fosse inteira feita de gelatina. "Eu poderia pular em tudo e, quando desse fome, comeria qualquer coisa." * Caio Baharlia de Souza, 9 Morador da Vila Olímpia, na zona oeste, Caio tem a vida atarefada. Estuda em uma escola bilíngue em período integral: entra às 7h e sai às 16h. "Aprendo matemática em inglês e português, geografia em inglês e português." Seus esportes favoritos são capoeira e natação. Adora jogar queimada. Nos dias livres, gosta de fazer churrasco, andar de bicicleta e fazer dobraduras de papel com seu pai. Seu sonho é que São Paulo tivesse menos poluição e contasse com um parque aquático e prédios comestíveis. * Isabela Akemi Futema, 6 Da janela do seu quarto, no 22° andar de um apartamento na Vila Prudente, na zona leste, Isabela faz uma constatação: faltam árvores em São Paulo. "Deveriam cortar menos e plantar mais." Faladeira, ela cita suas preferências: passear, desenhar, brincar. O brinquedo favorito é o cachorro de pelúcia Puppy, que tem lugar de honra -dorme com a dona. "Já acordo procurando ele." Outra coisa que gosta de fazer é ficar na casa da avó Maria, na rua atrás da sua, onde passa as manhãs antes de ir para a escola. Lá, há árvores com frutas. * João Paulo Ferreira, 9 João ficava se pendurando pela casa na Cidade Dutra, na zona sul, até a mãe dele, Cláudia, perceber que o garoto levava jeito para a coisa. Foi selecionado para treinar ginástica artística no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, da prefeitura. Para chegar lá às 7h, toma café da manhã no ônibus. Quando não há treino, anda de bicicleta com o pai e vai ao cinema no shopping Interlagos. Gostou de "Meu Malvado Favorito 3", agora quer ver "A Múmia". Ele acha que em São Paulo precisa: "Ter mais amor, mais paz e mais união entre as pessoas". * Lara Sgarzi, 9 Lara mantém um unicórnio cor-de-rosa em cima da cama. Gostaria mesmo é que as criaturas habitassem a cidade. A menina tem outros desejos para São Paulo: parque de diversões, praia, mais áreas verdes e brinquedos como os que viu em Londres, além de prédios feitos de sorvete e gelatina. Ah! E um shopping com produtos bem baratos, para caberem na mesada. Ela, que mora em Perdizes, na zona oeste, gosta de cozinhar e sabe preparar macarrão, bolo, pão na chapa, vitamina. Bolo de quê? "De qualquer coisa, é só seguir a receita." * Breno Cacioli Pestana, 9 Breno, morador da Vila Ipojuca, na zona oeste, costumava gostar muito de matemática. Hoje, anda preferindo as aulas de português. Sua mãe deseja que ele vá para a cama às 21h30, mas o menino tem outros planos. Alô, mãe do Breno: será que ele poderia ficar acordado até as 6h e dormir até as 20h? "Assim eu poderia passar a noite toda vendo filme e comendo chocolate e pipoca." Seus passeios preferidos são ir ao cinema, andar a pé e de bicicleta e visitar o parque da Água Branca. Sente falta de mais parques em São Paulo. * Dora Alves Marson, 6 Na porta do apartamento de Dora, em Santa Cecília, na região central, um pedaço de papel colado anuncia: Banda Dora - ARDO. Ela explica: está tomando aulas de música e quer criar uma banda com as amigas. Coloca um LP dos "Saltimbancos" na vitrola e começa a contar suas histórias. Na sua solução para melhorar a cidade, as ruas ficariam para as pessoas, e as calçadas, para os carros. Assim, haveria espaço pelo caminho para um circo, uma sorveteria e um parquinho, com gente passeando, como no desenho que fez a pedido da sãopaulo.
2017-08-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1925084-criancas-imaginam-uma-sao-paulo-menos-violenta-mais-limpa-e-cheia-de-arvores-e-flores.shtml
Imóvel residencial é sonho de consumo na região da Berrini
LEANDRO NOMURA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Há 30 anos morando na Vila Andrade, o casal Maria Elizabeth, 61, e Paulo César Gagliardi, 63, decidiu se mudar de um sobrado de 420 metros quadrados para um apartamento menor no bairro do Brooklin depois que os seus três filhos saíram de casa. Entretanto, não foi fácil encontrar um imóvel na região. Depois de meses procurando, eles escolheram um apartamento de 180 metros quadrados no primeiro andar do Vetrino, da Cyrela. Com um amplo terraço integrado à sala e à cozinha, o novo apartamento tem três dormitórios e custou R$ 8.450 por metro quadrado. "Das 56 unidades, só havia 10 à venda", diz Gagliardi, que comprou o apartamento em meados do ano passado. De acordo com estudo feita pela VivaReal/Geoimovel, a área que contempla as imediações da avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini e o Brooklin está entre as que possuem menor estoque de apartamentos residenciais na cidade. Desde 2012, foram lançadas 3.396 unidades. Destas, apenas 516 estavam à venda em agosto deste ano, quando o levantamento foi realizado. "Há poucos terrenos, e as construtoras preferem lançar empreendimento comerciais por serem mais rentáveis", diz Aline Borbalan, gerente de inteligência de mercado do VivaReal. O metro quadrado de salas comerciais na Berrini e no Brooklin custa em média R$ 13.542. O de apartamentos residenciais, R$ 11.337. Além disso, os prédios de escritórios possuem, em geral, mais unidades. TODOS QUEREM A demanda por apartamentos nos entornos da Berrini é alta, formada principalmente por quem trabalha nos vários prédios comerciais da área e quer residir perto do serviço para não perder tempo no trânsito. Criada na zona leste, a coordenadora de gestão comercial Renata Dias, 31, mudou-se há um ano para um apartamento que fica nas imediações da Berrini. Trocou as quatro horas diárias no trajeto de ida e volta do Tatuapé por poucos minutos. Prédios do Habitarte, da construtora Yuny, na região do Brooklin, na zona sul de São Paulo "Grande parte dos meus vizinhos escolheu morar aqui por causa do trabalho", afirma Dias. Marcos Yunes, sócio da Yuny Incorporadora, diz que a qualidade de vida no Brooklin, "um bairro arborizado, com serviços, comércio, acesso a transportes e avenidas e proximidade do trabalho", é o que atrai os paulistanos. A construtora entrega no mês que vem a terceira e a quarta torres do Habitarte, no Brooklin. Já foram venidas 80% das 332 unidades entre 83 e 131 metros quadrados e valor médio de R$ 12 mil o metro quadrado. As duas primeiras torres, com apartamentos entre 41 e 81 metros quadrados, foram entregues em novembro de 2016. Contabilizam 90% dos 391 imóveis vendidos. No ano que vem, a incorporadora lança mais duas torres com 210 apartamentos de três e quatro suítes, entre 160 e 200 metros quadrados. Perto dali, o Follow, da Gafisa, tem apenas cinco unidades ainda à venda das 276 construídas. Entregues em setembro de 2016, os apartamentos possuem entre 48 e 215 metros quadrados e até dois dormitórios. O preço de tabela do metro quadrado fica em torno de R$ 16 mil.
2017-08-10
sobretudo
morar
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/10/1925117-imovel-residencial-e-sonho-de-consumo-na-berrini.shtml
Aos 14 anos, bailarino se escondeu em teatro para ver espetáculo com nudez
Estamos em 2001, tenho 14 anos e vivo em Concórdia, pequena cidade do oeste catarinense. Ali, não há variedade na programação cultural: ou temos as poucas estéticas experimentais que vêm de fora ou os folclores locais. Eis que, em uma dessas "aparições contemporâneas exógenas", vem até a cidade a Lia Rodrigues Companhia de Danças, do Rio de Janeiro, com o espetáculo "Aquilo de que Somos Feitos", criado em 2000. Nele, público e intérpretes estão no palco, juntos. Não há distinção evidente entre o espaço cênico e o da plateia. Na primeira parte, os intérpretes estão nus e fazem esculturas vivas com seus corpos, sozinhos ou imbricados uns nos outros. Tudo é muito lento e não há música. Na segunda, o público se posiciona no entorno de um quadrado e, num clima anos 70, os intérpretes, agora vestidos, dançam em tom de manifesto, embebidos de agressividade política. O público de Concórdia se desestabiliza; ri, gargalha, não consegue olhar, estranha, deixa a peça. Eu aprecio a reação do público de um ponto de vista bastante particular. Enquanto todos estão no palco, estou escondido embaixo das cadeiras vazias do espaço destinado à plateia do Teatro Municipal Maria Luiza de Matos. Explico: pelo fato de os bailarinos estarem nus em cena, a delegada responsável pela proteção dos menores da cidade impediu a entrada daqueles que ainda não tinham 18 anos. Naquele momento, eu tenho 14 e muita vontade de ir ao teatro. Desde os sete, não perco nenhum espetáculo que ali chega. Não queria perder a peça que veio do Rio, um espetáculo de dança contemporânea, essa misteriosa categoria que eu nem sabia o que podia ser e já me causava uma curiosidade furiosa. Sendo assim, três horas antes do espetáculo, desço até o palco e encontro Lia e sua companhia. Converso com eles, narro o episódio de censura e minha grande vontade de ver a peça. Sem hesitar, me acolhem calorosamente, dizendo para eu ficar ali, porque iriam dar um jeito. A peça começa e me vejo diante de uma escultura política brava e ruidosa, enfeitiçado. Queria fazer parte daquilo, sentir o corpo como disponibilidade aberta, vibrante, exposta. "Aquilo de que Somos Feitos" impulsionou meu desejo de partir, confirmou minha vontade de seguir com as artes cênicas, abriu as possibilidades para uma vida de artista. Fui embora aos 17 anos para Florianópolis. Em 2008, aos 21, faço audição para entrar na companhia da Lia —é praticamente uma residência ou um estágio, durando quase um mês. Em abril, me mudo para o Rio. A companhia está fazendo 20 anos de existência e, no ano em que chego, retoma as peças de seu repertório para turnês nacionais e internacionais. Começo a dançar "Aquilo de que Somos Feitos", a aprender a coreografia. Adentro sua estrutura, tanto quanto mergulho na memória de espectador adolescente, aquela situada no teatro de Concórdia. Memória deslocada e transformada. Cada vez que entrava em cena, lembrava o menino escondido, impedido, e expulsava a censura por meio do movimento, pelo gesto e pela força de ser o corpo que queria ser quando vi pela primeira vez o espetáculo. Um corpo descoberto, sem amarras, metamorfose constante e nu de identidade fixa. Para mim, a dança tem disso: ela oferece a possibilidade de inventar um corpo, um mundo, um modo de ser específico, que não aqueles que se distribuem por aí, nas centrais de valores globais. Com Lia, entendi que um gesto dançado não é só efemeridade pura, mas tem potência de inscrição nos nossos corpos e pode reclamar sua existência tardiamente. Fico na companhia até 2011, um pouco antes de me mudar para a França e começar minha carreira de coreógrafo. Alguns meses depois, crio "Céu", meu primeiro solo, e reconheço nesse trabalho a tentativa de interpretação da vitalidade encontrada na companhia de Lia. Mais uma vez, a dança me prova que seu impacto pode ter uma vida longa, se desejarmos. VOLMIR CORDEIRO, 30, coreógrafo e bailarino, criou o tríptico de solos "Céu", "Inês" e "Rua" e finaliza doutorado em arte do espetáculo na Universidade Paris 8.
2017-08-10
ilustrissima
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/10/1924905-bailarino-conta-impacto-de-peca-de-lia-rodrigues-sobre-sua-carreira-e-corpo.shtml
Fiasco argentino tem a ver com a bagunça de sua federação nacional
A Argentina foi goleada pela Colômbia por 5 x 0 e precisou da repescagem nas eliminatórias para a Copa de 1994. Logo depois daquela campanha, a Conmebol mudou o formato da disputa. Em vez de grupos curtos com seis a oito partidas, o formato passou a ser de todos contra todos. Naquela época, houve quem decretasse: "De agora em diante, nunca mais as seleções gigantes da América do Sul vão correr riscos." Duas eliminatórias mais tarde, o Brasil precisou vencer a Venezuela na última rodada, em 2001. A Argentina correu risco até o último jogo, com Maradona como técnico, em 2009. A situação agora é mais dramática. Sexto lugar, antes do último jogo. Precisa ganhar em Quito e torcer contra Chile e Peru. Os torneios de seleções são diferentes dos disputados por clubes. A meca do futebol está na Europa, mas José Mourinho garante que as eliminatórias da América do Sul são melhores. Brasil e Argentina ainda têm excelentes jogadores, mas se perdem com a ideia falsa de que podem cometer erros, mudar estilos, transformar comissões técnicas e tudo vai dar certo no fim. Há tempos você lê neste espaço que o equilíbrio entre as maiores seleções cresceu demais. Que Albânia e Islândia classificaram-se para a Eurocopa, eliminando Sérvia, Dinamarca e Holanda. A Itália caiu na fase de grupos das duas últimas Copas do Mundo e também está arriscada de não ir à Rússia. A Argentina usou 40 jogadores e três técnicos em 17 rodadas. O Brasil teve 34 atletas, 24 com Tite. Verdade que este tipo de comparação provoca armadilhas. Em 1966, a seleção perdeu a Copa porque convocou 47 durante a fase de preparação. Em 1962, ganhou o Mundial e convocou 44. Mas as lembranças daquele tempo carregam até hoje uma arapuca. A de que seleção é momento. Não é. No passado, era. Em 1973, a seleção foi convocada em maio e ficou junta até julho, desligou-se e só se reuniu de novo no ano seguinte. Naquelas circunstâncias, convocavam-se os melhores do momento. No ano seguinte, o time poderia ser outro. Havia três meses de preparação para a Copa, não três semanas. A Argentina entende a lógica atual mais do que o Brasil, que repete o mantra a cada convocação: "Seleção é momento!" Não é! É continuidade. O fiasco argentino, desta vez, tem a ver com a bagunça de sua federação nacional, que provocou trocas de técnicos e de elencos. A cada troca, um estilo oposto. Com o equilíbrio das seleções, abusar dos erros agora é fatal. A ELITE EM ITAQUERA A interpretação de que o público da Arena Corinthians está elitizado não é compartilhada por Fernando Fleury, sócio-diretor da Armatore, empresa que realizou a pesquisa com frequentadores do estádio. "Levamos em conta a renda familiar. Até R$ 8 mil, consideramos classe C. Hoje, 54% do público do estádio é de classes C, D e E. Outros 17% pertencem à classe B e 10% não quiseram responder", afirma. Houve confusão na interpretação entre renda familiar e renda avulsa. Outro problema é julgar elite o fato de 47% do público ter acesso ao ensino superior. Em 1994, 33% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos tinham acesso à faculdade. Hoje são 58%.
2017-08-10
colunas
pvc
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pvc/2017/10/1925299-fiasco-argentino-tem-a-ver-com-a-bagunca-de-sua-federacao-nacional.shtml
A pejotização aumenta, e muito, a desigualdade, diz economista
O economista Bernard Appy é praticamente um militante da reforma tributária. Há pouco mais de um ano, participou da criação de uma entidade que se dedica a esquadrinhar e propor soluções para o que ele chama de "distorções tributárias" do Brasil. O CCif, Centro de Cidadania Fiscal, já produziu vários levantamentos e, inclusive, uma proposta de reforma. Uma das distorções mais preocupantes, segundo Appy, é o efeito da pejotização sobre a distribuição de renda. O PJ, pessoa jurídica, paga cerca de um terço, ou até menos, de tributos em comparação a um empregado registrado, mesmo exercendo tarefas idênticas. "A diferença de tributação entre empregado e prestador de serviço explica uma parte importante da desigualdade no Brasil." * Folha - Qual é o peso do sistema tributário para a desigualdade no Brasil? Bernard Appy - Nessa discussão, temos várias questões. Precisa separar renda do trabalho e renda do capital, por exemplo.A tributação da renda do trabalho tem uma distorção injustificável no Brasil. Uma parcela relevante de pessoas de alta renda recebe a remuneração do trabalho na forma de PJ, pessoa jurídica. Ou seja, em vez de ganhar salário, abre uma empresa, se torna sócio e recebe como PJ. No sistema tributário brasileiro, essas pessoas pagam muito menos impostos. Como é isso na prática? Vamos supor que um prestador de serviço —um economista, um advogado— ganha R$ 30 mil por mês. Ele vai pagar mais impostos se trabalhar como empregado normal [numa empresa que paga tributos sobre o lucro real, sobre o resultado final registrado]. Nesse caso, no agregado, empresa e empregado vão pagar R$ 14.891 em tributos. Vão sobrar R$ 15.109 líquidos para o empregado. Se o mesmo prestador oferecer o mesmo serviço como PJ, como paga menos impostos, vai ganhar bem mais: R$ 24.508 se for de empresa de lucro presumido [tributação simplificada sobre uma projeção fiscal] e R$ 26.563 se for de empresa do Simples [que tem cobrança simplificada de uma ampla gama de tributos]. E isso considerando que faça contribuição para a Previdência pelo teto. Aqui há um problema distributivo claríssimo. Empresários da alta renda pagam muito menos tributos que empregados. É injustificável que duas pessoas que fazem a mesma coisa, prestando exatamente o mesmo serviço, tenham uma diferença tão grande de tributação. O que exatamente provoca essa diferença? Metade disso vem da forma como é feita a tributação sobre folha de pagamento. A empresa paga contribuição para o INSS, mais penduricalhos. A contribuição recai sobre todo o salário do empregado. Na outra metade, o Imposto de Renda é mais baixo para as PJs. A maioria dos prestadores de serviço está no lucro presumido. Economistas e engenheiros, por exemplo. O Simples veda muitas categorias. Entre as profissões regulamentadas, apenas atividades como advogado, contador e fisioterapeuta conseguem se enquadrar no Simples. A diferença de tributação entre empregado e prestador de serviço explica uma parte importante da desigualdade no Brasil hoje. Mas como é possível produzir uma diferença tão grande? Nas empresas de lucro presumido, por exemplo, você estima a receita e aplica os tributos. Mas o lucro delas lá na frente, no final do exercício, costuma ser maior. Porém, ainda que o lucro registrado pela empresa ao final seja maior, ele pode ser distribuído para o sócio com isenção de Imposto de Renda. Como o processo de pejotização no Brasil é muito forte, uma parcela expressiva de profissionais liberais no país está constituída como pessoa jurídica para pagar menos imposto. Às vezes, é uma decisão pessoal, às vezes ocorre por pressão da própria empresa contratante, que força o trabalhador a se tornar pessoa jurídica. É uma soma dos dois. Mas esse é um pedaço do problema. Tem a questão do rendimento do capital, que é um pouco mais complicada. É nesse caso que se enquadra a questão dos dividendos? A questão dos dividendos está nas duas pontas. O resultado distribuído pelas empresas de lucro presumido e do Simples é lucro distribuído isento. Mas, no caso de grandes empresas, o ganho da pessoa vem como renda do capital [lucro, juro, aluguel]. A pessoa, como acionista, recebe em dividendos. Aqui no Brasil esse dividendo é isento quando distribuído. Isso tem sido apontado como subtributação de pessoas de alta renda no Brasil. E não é? É preciso cautela aí. Quando a gente olha a estatística do Imposto de Renda, os números são, de fato, estarrecedores. Entre os 27 milhões de declarantes, 21 milhões ganham até dez salários mínimos. Nesse grupo, apenas 13% dos rendimentos são isentos. A proporção de rendimentos isentos cresce à medida que cresce a renda. Quem ganha mais de 160 salários mínimos por mês tem 69% dos rendimentos isentos. Nesse grupo de alta renda, o grosso do rendimento isento é de proprietários de empresas. São PJs ou acionistas recebendo dividendos isentos? Infelizmente, a Receita não disponibiliza os microdados. Seria importante para a gente poder cruzar as informações e entender melhor o que isso significa, pois dá a entender que o grosso dessas isenções é, sim, lucro de dividendos distribuídos. Mas, por causa do que falei antes, a gente precisa ter muito cuidado com esse dado no Brasil. Uma parte, de fato, é dividendo. Mas uma parte desses rendimentos isentos é dos PJs. O Congresso acabou de aprovar a flexibilização da lei trabalhista e da terceirização. Isso quer dizer que vamos ter aumento de PJs? É um risco. E, se vamos ter mais PJs, vamos ter aumento da desigualdade? É um risco, se não for tratada adequadamente a questão tributária. Como está, a pejotização aumenta a desigualdade —e não é pouco, é muito. Mas nessa discussão, a gente precisa separar a questão da terceirização sob dois aspectos. Do ponto de vista de funcionamento da economia, a terceirização é positiva. É mais eficiente eu contratar um terceirizado do que ter um empregado permanente —sempre resguardando os direitos trabalhistas. Outro problema é que a gente está num país que tem essa diferença de tributação entre sócio de empresa e empregado. A terceirização deveria ser acompanhada da correção de distorções tributárias. Quais são as alternativas para equilibrar a cobrança? O melhor é resolver pelos dois lados. Primeiro, precisa mudar a forma de tributação da Previdência para as empresas. Isso reduziria o custo do trabalho formal. Segundo, precisa fazer com que a tributação de empresas que prestam serviços típicos de empregados se equipare à dos empregados. E como fazer isso? Podemos adotar o modelo dos EUA, em que todo o lucro de empresa é renda do trabalho e tributar apenas na pessoa física. Também dá para ajustar pelo que já temos aqui: a parcela do lucro distribuído que não foi tributada na empresa vai ser tributada na pessoa física. Em outras palavras, tem que aumentar a tributação da renda dos PJs e reduzir a tributação sobre a folha dos empregados de alta renda. Como o sr. mesmo disse, o número de PJs é grande e crescente. É uma briga difícil, não? Ninguém quer perder benefício. Óbvio. O advogado ou economista que hoje é subtributado não vai querer pagar mais imposto, ainda que seja justo. Ninguém quer discutir justiça. As pessoas olham para o seu. Mas a gente precisa discutir isso abertamente. Não podemos aceitar que pessoas de alta renda no Brasil, por causa dessa distorção na tributação, paguem muito menos impostos. Num país com a desigualdade de renda como a do Brasil isso é absolutamente inaceitável. Mudar a tributação bastaria para reduzir a desigualdade? Não se pode separar gasto público e tributação. No que diz respeito à população mais pobre, gasto público é muito mais eficiente como instrumento distributivo. Você melhora muito a vida dos mais pobres fazendo transferência de renda, via Bolsa Família, por exemplo, e com programas de educação e saúde, que afetam diretamente as pessoas de baixa renda. Na alta renda, é melhor combater distorções com tributação. É um instrumento mais eficiente para promover a distribuição de renda, principalmente via tributação progressiva da renda e tributação do patrimônio. Nesse caso, temos que discutir com racionalidade como tratar do rendimento do capital, do lucro das grandes empresas e de sua distribuição. Os críticos dizem que o Brasil é um dos poucos países do mundo que isenta dividendos. O que seria racional? Sim. Isso é verdade. Mas no resto do mundo a alíquota sobre pessoa jurídica está caindo muito. Na OCDE, a média é 25%. No Brasil, 34%. Essa não é uma questão interna brasileira. É uma questão tributária internacional: quem oferece tributação menor no lucro atrai empresas. Não adianta olhar só para o próprio umbigo. Se a gente fizer a tributação da renda, do lucro, no Brasil, muito provavelmente primeiro a gente teria de acompanhar a tendência mundial. Segundo, teríamos de fechar brechas que reduzem o lucro tributário nas empresas. E aí, finalmente, vem a questão de tributação de dividendos. Há duas opções. Adota o padrão do resto do mundo ou um modelo progressivo, que cobra uma alíquota quando é consumido, mas é isenta quando é investido. O governo enfrentou polêmicas para propor a reforma da Previdência, venceu tabus para alterar pontos da CLT, mas não avança na reforma tributária. Por quê? Uma reforma tributária tem várias dimensões. Parte dela toca em tributos indiretos. Aí temos dificuldades políticas. Governadores que não querem perder o poder de dar incentivo fiscal, o que aconteceria numa boa reforma de tributos indiretos. Empresas também se favorecem com isso. A outra questão é essa que estamos discutindo, a tributação da renda. Embora alguns especialistas soubessem que existiam distorções, elas não eram bem compreendidas pelo resto da sociedade, o que está mudando com o surgimento de novos estudos. - Cargo atual É diretor do Centro de Cidadania Fiscal, que desenvolve trabalhos para o aperfeiçoamento do sistema tributário brasileiro Carreira Foi diretor da consultoria LCA e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda no governo Lula, além de diretor da BM&F Bovespa de 2010 a 2011 Formação Bacharel em Economia pela USP
2017-08-10
mercado
null
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1925333-a-pejotizacao-aumenta-e-muito-a-desigualdade-diz-economista.shtml
Fugi para sobreviver, diz salvadorenho jurado de morte por gangue
RESUMO - Marcos Hernández, 20, e sua família são perseguidos por uma gangue de San Miguel, em El Salvador, país centro-americano que tem a segunda maior taxa de homicídios do mundo. Ameaçado de morte pelos criminosos, que assassinaram uma tia e dois de seus amigos, ele fugiu para o México em julho deste ano. Desde então, não fala com a mãe nem com o filho, pelo risco de que a gangue os mate. * Há dois anos a gangue que dominou meu bairro ameaça a mim, à minha família e aos meus amigos. Não sei como e por que eles ficaram com um ódio tão grande de nós. Quando a gente era adolescente, eu e meus primos começamos a fazer amizade com nossos vizinhos e formamos um grupinho. Éramos muito unidos: sentávamos para tomar sol na rua, jogávamos bola no campinho do bairro, ou seja, uma vida tranquila. Era muito feliz morando ali, trabalhava com gosto. Passamos um ano e meio indo ao campo quase todo dia. Até que chegou um grupo que ficava nos observando de uma forma estranha. Ficaram dias assim, até que eles se aproximaram e perguntaram: 'Vocês são uma gangue?'. Respondemos que não e nos chamaram para entrar na deles. "De jeito nenhum", dissemos. A partir daí, começaram os ataques. Em poucas semanas, houve um garoto que jogou um carro para atropelar um amigo. Outro tentou atirar uma telha na minha cabeça, e dois me ameaçaram na calçada de casa: "Se você não entrar agora, a gente vai te encher de porrada." Depois disso, começaram a matar, cinco, seis. Mataram dois amigos meus, e até hoje as famílias não encontraram os corpos. Outro se juntou a eles para não morrer. Os caras apontavam para as casas e marcavam quem iam matar. Um dia, eles passaram pela casa dos meus três primos. Dois estavam presos por causa de uma armação deles, mas o mais novo ainda morava lá. Nos procuraram por vários dias, e minha tia sempre dizia que não estávamos. Na última, não acreditaram. Eles atiraram e a mataram na frente da minha mãe e da minha avó. Levaram o corpo dela para a montanha atrás do nosso bairro. Antes de sair, disseram à minha mãe e à minha avó que, se não nos entregassem, elas teriam o mesmo destino. Minha avó morreu antes, de infarto. Hoje, meu primo está em San Salvador [capital do país], com meu irmão. Pagam US$ 20 por mês à gangue. Se atrasarem, morrem. Já eu me mudei para Santa Ana [cidade a 199 km de San Miguel]. Trabalhava na parte administrativa de uma empresa. Fui indicado por alguns amigos. Quando uma pessoa tem bom comportamento, as portas se abrem. Ainda por lá, um dia minha mãe me ligou e disse: "Olha, meu filho, estão te procurando". Respondi que queria voltar, que sentia saudade da família, mas ela retrucou: "Não. Me mostraram uma foto sua e do seu primo. Vão te matar". Então eu disse a ela: "Mamãe, o que eu vou fazer?" Quando ia visitá-la, tinha que voltar no mesmo dia. Eles vieram me dizer que, se ficasse muito tempo, me matavam dia tal. Também me proibiram de visitar o meu pequeno, que agora mora em um orfanato. Não queriam me ver naquele lugar. Pedi demissão e usei a rescisão para vir ao México. De madrugada, quando estava dentro do ônibus que peguei para a Guatemala, me sentia sozinho, me perguntava "o que estou fazendo aqui", mas, ao mesmo tempo, sentia que estava livre. Na fronteira com o México, [os traficantes] me trapacearam: cobraram US$ 100 para cruzar o rio. Depois de conseguir ajuda, cheguei a Tapachula e à Casa do Imigrante. Estou procurando emprego. Sei fazer de tudo. Vim para cá para crescer. A primeira coisa que vou fazer quando tiver dinheiro é trazer minha mãe e depois meu pequeno, mas só quando ele tiver seis anos [hoje ele tem dois]. Desde que saí de El Salvador, não falo com a minha mãe. Liguei para lá, e minha irmã disse para não telefonar para ela porque os da gangue podiam matá-la e me achar. Se algo acontecer à minha mãe, eu nunca me perdoaria.
2017-08-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925345-fugi-para-sobreviver-diz-salvadorenho-jurado-de-morte-por-gangue.shtml
O Brasil fracassou?
Quem olha para a foto do momento fica tentado a responder afirmativamente à pergunta do título. O que vemos, afinal, é um presidente acossado por graves denúncias de corrupção oferecendo sem nenhum pudor cargos e verbas a deputados para que eles suspendam o andamento do processo. Parlamentares se fartam em aprovar regras difíceis de justificar sob a ótica do interesse público das quais ainda são beneficiários, como o novo fundo eleitoral e o novo Refis. A situação não é mais bonita para o STF, que não só vem abusando da criatividade hermenêutica como faz pouco para acelerar os trâmites para julgar em tempo hábil todos os políticos com direito a foro especial denunciados. É provável que muitos sejam beneficiados pela prescrição. Se, porém, desviarmos a atenção dos instantâneos e nos concentrarmos no filme dos últimos anos, a situação parece menos desesperadora. Empresários e políticos sem foro estão sendo julgados e condenados. O mesmo destino deverão ter, após o término de seus mandatos, o presidente e outras figuras de relevo cujos casos se tornaram emblemáticos demais para ser ignorados. O Legislativo, apesar dos descalabros, também aprovou medidas importantes que deverão, aos poucos, mudar para melhor a paisagem política e econômica do país. Mais importante, apesar das declarações destrambelhadas de alguns generais, que o governo e o comando militar, em mais uma demonstração de pusilanimidade, se recusam a punir, ninguém aposta em saídas extraconstitucionais. As instituições estão funcionando então? A resposta depende das expectativas. Se você pensa que elas devem fazer com que todos se comportem sempre otimamente, aí fracassamos. Mas se você espera só que elas evitem que disputas políticas degenerem em violência, eu diria que estão não só funcionando como melhorando, ainda que tropegamente.
2017-08-10
colunas
helioschwartsman
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2017/10/1925268-o-brasil-fracassou.shtml
Canais lançam animações com cenas perigosas e superpoderes
O universo de "O Mágico de Oz", criado em 14 livros por L. Frank Baum (1856-1919), inspira novo desenho do Boomerang, no ar desde setembro. Nele, Dorothy precisa escapar de ciladas com ajuda dos amigos e de seus superpoderosos sapatinhos de rubi. A protagonista está sempre acompanhada do Homem de Lata, do Leão e do Espantalho, além do cãozinho Totó. E, apesar de se manter fiel aos diversos mundos de Oz e aos cenários do filme de 1939, o desenho usa licenças poéticas: cria personagens e dá poderes aos sapatinhos vermelhos de Dorothy, que agora podem teletransportá-la. "Os livros têm muitas terras, ilhas e oceanos. É o maior material de pesquisa que já vi", diz Jeff DeGrandis, diretor de animação e produtor. "Dorothy é corajosa, cheia de energia, alguém com quem se quer estar. E não fugimos de situações de perigo; crianças adoram cenas perigosas." "Dorothy e o Mágico de Oz" promete responder algumas perguntas deixadas pelo clássico de 1939, como por exemplo o que aconteceu com a Bruxa Má do Oeste, supostamente morta. Ela aparece constantemente numa bola de cristal dando ordens à sobrinha bruxinha, que agora inferniza a vida de Dorothy. Uma personagem nova, tirada dos livros de Baum, é uma boneca de pano pela qual o Espantalho é apaixonado. Numa das aventuras, ela constrói um balão usando retalhos de pano para salvar Dorothy das garras de um monstro feito por um gigantesco travesseiro, resultado de uma festa do pijama que deu errado. CIDADE DE SUPER-HERÓIS Outro desenho que chega à programação é "OK, K.O.! Vamos Ser Heróis", produção original do Cartoon Network. A história se passa em uma cidade onde todos são super-heróis ou vilões, e o protagonista K.O. é um garotinho que quer virar um grande herói. Sua jornada começa quando ele passa a trabalhar numa loja de produtos malucos para super-heróis, dentro de um shopping frequentado por famosos, onde sua mãe trabalha como professora de lutas. O visual é inspirado nos desenhos "Dragon Ball Z" e "Dr. Slump", com personagens fofos e bem humorados. "K.O. tem uma visão preto e branco de certo e errado, mas vai conhecer pessoas distintas e aprender com elas", diz o criador e produtor Ian Jones-Quartey. "Não há uma ideia de pessoa normal; todos têm um talento especial."
2017-08-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1924936-canais-lancam-animacoes-com-cenas-perigosas-e-superpoderes.shtml
Já ouviu a última do Supremo?
O papagaio não saiu de cena por desgaste de imagem ou desgosto do humor. Com séculos de serviços que punham risos nas caras humanas de cansaço e desengano, o bom papagaio viu-se abandonado pelas pessoas áridas que nos tornamos. Sujeitos a circunstâncias antipáticas, sempre mais perplexos, forçados a ser o que nunca fomos, hoje em dia temos que perguntar: "Sabe a última do Supremo?", "Já ouviu a última da Câmara?", "Ah, e a do Gilmar, hein, já te contaram?". Pois é, a última do Supremo. A maioria de suas eminências decidiu vetar também os pretendidos candidatos que, de algum modo, infringiram os termos da Lei da Ficha Limpa antes que essa lei surgisse em 2010. Talvez muitos deles merecessem ser alijados da política. Mas o velhíssimo preceito de que a lei não retroage, ao que se saiba, não foi retirado da legislação. Nascido para prevenir leis criadas contra desafetos, com invocações ao passado, é um preceito fundamental em eleições de limpidez razoável. Leis têm certa semelhança com estatísticas: cabeças espertas as viram do avesso. Os malabarismos jurídicos podem muito, mas entender que ocorram no Supremo é penoso. Afinal de contas, no Supremo supõe-se o último chão firme antes do abismo. Vá lá, gilmarmente arenoso -mas ainda chão. Além de espantos menores produzidos nas duas turmas em que se dividem os ministros do Supremo, com casos problemáticos decididos apenas por três votos a dois -o enroscado afastamento de Aécio Neves do Senado, com sua retenção domiciliar noturna, é um dos muitos -há ao menos outra acrobacia ainda dividida entre aplausos raivosos e vaias estarrecidas. Trata-se da prisão de acusados que têm a condenação confirmada em segunda instância. Uma decisão do Supremo que introduz no regime nascido em 1988 modificações muito mais profundas do que aparentam. A começar de que abandona o preceito da Constituição, próprio da dedicação dela aos direitos humanos, de que o acusado só é propriamente condenado, e pode ser preso, depois de esgotados todos os seus recursos judiciais. E a segunda instância é só o meio do caminho. A maior presença do Supremo nestes tempos conturbados do Brasil não tem contribuído para reduzi-los, na intensidade ou no tempo. Como nos dois exemplos maiores dados aqui, o Supremo induz à impressão de que se substitui à Constituição, onde a considere insatisfatória, substituindo também o processo normal de alterá-la. Mas o caminho mais curto para chegar-se a um Brasil admissível seria, até imprevista prova em contrário, seguir-se com rigor milimétrico a Constituição que nem sequer mereceu, até hoje, ser posta em prática por inteiro. OS MALES Dado influente para considerações sobre a eleição presidencial. A ideia, resultante da Lava Jato e muito difundida, de que a corrupção será o carro-chefe da disputa não se confirma no Datafolha sobre o "Pior problema do país, em %". A assistência à saúde está à frente de todos, o que indica os horrores que a população tem vivido com a falta de remédios nos hospitais e nos programas permanentes, médicos e leitos em número insuficiente, os prazos para exames e os meses para início de tratamentos urgentes, como de câncer. Para liderar a lista, a corrupção precisaria crescer mais um terço do que ocupa hoje nas preocupações da população. Está no mesmo nível do desemprego, mas, entre estes dois problemas, não cabe dúvida sobre qual será mais influente na decisão eleitoral.
2017-08-10
colunas
janiodefreitas
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2017/10/1925314-ja-ouviu-a-ultima-do-supremo.shtml
O homem nu e a política pelada
A querela do homem nu e das artes pornográficas dá o que pensar sobre o sucesso de mídia de ideias conservadoras. Provoca também perguntas sobre o motivo do fracasso de debates públicos mais cruciais. Por exemplo, sobre quem paga a conta da falência do Estado, conflito que está para explodir. O frenesi dos embates recentes pode ser transitório, mas o assunto está na pauta pelo menos desde o Junho de 2013. A guerra cultural é no mínimo sintoma. Do quê? De conversões maciças ao conservadorismo? Dos desertos que se formaram na política? Há ojeriza a partidos, escasseiam organizações político-sociais para vocalizar interesses, a direita sem voto reforma a economia e a esquerda no poder acabou em catástrofe. O corpo político parece uma geleia, sem ossos. Mas a guerra cultural não é só a política por outros meios. Pouco antes do fechamento da exposição Queermuseu, o Datafolha publicava nova rodada da pesquisa que tenta medir a adesão a ideias de direita e esquerda. A esquerda cresceu desde 2014, voltando a empatar com a direita, parte da qual lidera a guerra ao homem nu. Embora irônico, o resultado não diz muito. Outra vez, nota-se na pesquisa que as pessoas podem se definir com ideias daqui ou dali, de resto mais tolerantes do que as tigradas de redes sociais. Três de cada quatro brasileiros acham que a sociedade deve aceitar a homossexualidade. A maioria é contra pena de morte, armas e aborto. Para 80%, crer em Deus melhora as pessoas e drogas devem ser proibidas. Mais da metade acha que sindicatos são meros politiqueiros. Imigrantes pobres são bem-vindos para 70%. Dos que votariam em Lula e Alckmin para presidente, 31% caem na categoria de esquerda comportamental, assim como 19% dos eleitores de Bolsonaro e 39% dos adeptos de Marina Silva. Quando se juntam as respostas a questões econômicas, a esquerda perfaz 44% do eleitorado de Lula, 37% de Alckmin, 50% de Marina e 29% de Bolsonaro (no total do país, 41%). Parece difícil dizer que andem por aí massas de indivíduos conservadores ou com identidades unívocas de qualquer tipo. Isto posto, há, sim, apelos a massas com certas (mas nem todas) ideias conservadoras. Organizações de direita, uma novidade, procuram mobilizar esse público em seu ataque decisivo à ruína do PT e a grupos identificados à esquerda ("intelectuais", "artistas", sindicatos). O conservadorismo se tornou um mercado político grande também porque a esquerda oficial cometeu um atentado suicida contra o país. A desarticulação dos partidos com a sociedade e a penúria de organizações sociais intermediárias leva pré-candidatos a presidente a buscar bases em grupos fora da política, organizados e sensíveis a certas ideias conservadoras, como os neopentecostais, 21% do eleitorado. Falta algum tipo de organização para repropor confrontos em outros termos. Há interesse em esvaziar o debate da crise econômica: quem paga o talho maciço do Estado ou mais impostos? Por 20 anos, mal e mal, PT e PSDB deram alguma ossatura ao confronto. Antes de se tornarem pelegos do PT, movimentos sociais davam costelas à política. Organizações empresariais fraquejam. A guerra cultural ocupa o corpo da política desossada.
2017-08-10
colunas
viniciustorres
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2017/10/1925338-o-homem-nu-e-a-politica-pelada.shtml
Designer mostra transformação de apartamento em perfil no Instagram
DE SÃO PAULO Logo depois de se mudar para um apartamento de 67 metros quadrados, a designer de interiores curitibana Priscila Kolberg, 32, decidiu mostrar a transformação do imóvel, que era novo em folha, em um espaço com decoração estilo industrial. Para isso, ela criou o perfil 52.Home no Instagram. "Queremos mostrar o dia a dia de uma casa real e inspirar outras pessoas", diz ela, que colocou a página no ar em março de 2016. Suportes para plantas de metal, uma escrivaninha vintage e móveis de madeira estão entre os itens que compõem a decoração da casa, um lugar em "infinita construção", como define a designer. "As próximas reformas serão na cozinha e nos banheiros", diz. Veja, a seguir, algumas imagens publicadas no 52.Home.
2017-08-10
sobretudo
vida-pratica
http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/vida-pratica/2017/10/1925097-designer-mostra-transformacao-de-apartamento-em-perfil-no-instagram.shtml
Morte de Cancellier é um desencanto
Depois de ter afastado o professor Luiz Carlos Cancellier da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina, proibindo-o de entrar na instituição e de ter determinado sua prisão provisória (revogada por outra juíza), a doutora Janaína Cassol Machado, titular da 1ª Vara Federal de Florianópolis atendeu a um requerimento da defesa e decidiu: "Diante do parecer do Ministério Público, deve ser deferido o pedido, ressaltando-se que a última entrevista começa às 17h30, de modo que a autorização deve se estender para às 18h. No entanto, ressalta-se que o ingresso de Luiz Carlos Cancellier de Olivo nas dependências da UFSC deve ser deferido única e exclusivamente para participar da sessão pública, na data e horário acima especificado." Tradução: o professor podia entrar na universidade no dia 5 de outubro, mas só das 15h às 18h. Terminado o serviço, devia ir embora. Cancellier não usufruiu o benefício concedido pela juíza. Entrou na Federal de Santa Catarina três dias antes, no final da tarde de 2 de outubro, morto, para ser velado. Ele se suicidara, jogando-se no pátio interno de um shopping center de Florianópolis. A morte do professor jogou nas costas dos cidadãos que o acusaram, investigaram e mandaram para a cadeia a obrigação de mostrar que fazia sentido submetê-lo ao constrangimento. Se a chamada "Operação Ouvidos Moucos" acabar em pizza, vai-se estimular a impunidade das redes de malfeitorias encravadas em dezenas de programas de bolsas de estudo do país. Chegou-se a dizer que a operação policial na qual o professor foi preso investigava o desvio de R$ 80 milhões de um programa de educação a distância. Mentira. R$ 80 milhões foi o valor total do programa. As maracutaias não aconteceram durante a gestão de Cancellier. Havia trapaças no pedaço, envolvendo servidores e empresários, mas o reitor nunca foi acusado de ter desviado um só tostão. Cancellier foi denunciado pelo corregedor da UFSC, doutor Rodolfo Hickel do Prado por tentar obstruir seu trabalho. Num artigo publicado depois de sua prisão, o reitor revelou que nunca foi ouvido pela auditoria interna. A Polícia Federal investigou o caso e a delegada Erika Marena, madrinha da marca Lava Jato (Flávia Alessandra no filme "A Lei é Para Todos"), pediu a prisão do reitor. Ela também não o ouviu. Depois de solto, Cancellier ficou proibido de pôr os pés na universidade. Nos dias de hoje, proibir um reitor afastado de pisar na universidade serve apenas para humilhá-lo. Vale lembrar que a ditadura nunca proibiu os professores que cassou de entrar nas escolas. Um bilhete encontrado na jaqueta que Cancellier vestia quando se matou diz que "minha morte foi decretada quando fui banido da universidade" (Quando três ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal obrigam Aécio Neves a dormir em casa, produzem apenas barulho, a menos que estejam defendendo a temperança nas noites de Brasília e do Rio). As patrulhas da polícia e do Ministério Público devem pensar pelo menos uma vez antes de pedir a prisão um cidadão. Isso porque abundam os sinais de que se pensa mais no espetáculo da publicidade do que nos direitos dos brasileiros. Era realmente necessário prender Cancellier? Soltando-o, era necessário proibi-lo de entrar na universidade? Guimarães Rosa ensinou: "As pessoas não morrem, ficam encantadas". O reitor Cancellier tornou-se um desencanto para o Brasil da Lava Jato.
2017-08-10
colunas
eliogaspari
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2017/10/1925321-morte-de-cancellier-e-um-desencanto.shtml
Feliz Ano Novo
O Rio de Janeiro da minha infância mesclava o seu generoso espaço público, que habitávamos como se fosse a nossa sala de visitas, com a crescente violência e a desorganização da política pública entremeada pela corrupção. A impressionante paisagem, com os morros cercando o entorno da Lagoa, dos parques e das praias, atraía-nos para fora de casa. O amplo mobiliário urbano, herdado dos tempos de capital, com as calçadas largas invadidas pelas mesas e cadeiras dos botequins e lanchonetes, e os muitos dias de sol e de calor convidavam-nos ao convívio social na cidade onde ainda era raro o ar-condicionado. A violência era igualmente parte do cotidiano. Levávamos o dinheiro do assalto ao ir de ônibus para a escola ou para a praia. Evitávamos atravessar o Jardim de Alá, sabedores dos roubos frequentes. Esse Rio era repleto de contradições. Encantava-nos o samba e o choro e achávamo-nos livres de preconceito. No entanto, descuidávamos da infraestrutura nas muitas favelas e da educação para a maioria. O descaso cobrou seu preço. Para agravar, a simpatia carioca tratou a política pública com paternalismo. Os governos dos anos 1980 interpretaram o cuidado com a segurança como herança da ditadura, e liberaram o comércio ilegal ao mesmo tempo em que não enfrentaram de forma eficaz o acesso à escola e ao saneamento. A política incompetente, em um país que vivia uma grave crise econômica, resultou na deterioração do espaço urbano e na piora da violência. Como ocorreu com o Brasil, o Rio de Janeiro iniciou um resgate com a normalidade a partir de meados dos anos 1990. Os homicídios caíram de 69 por 100 mil habitantes, em 1995, para 24, em 2012. Esse resgate terminou e a culpa foi exclusivamente nossa. Nos tempos de euforia, contratamos muitos servidores e concedemos expressivos aumentos salariais, apesar dos alertas de que o gasto com a folha de pagamentos, incluindo a Previdência dos servidores, levaria ao colapso das contas públicas. Quando a profecia se realizou, no começo desta década, optamos por medidas paliativas, como a venda dos royalties do petróleo ou o uso de depósitos judiciais para pagar as despesas. Vendemos as joias para pagar os salários. As joias se foram, a despesa continua. A fragilidade fiscal resultou no retrocesso da política pública, da segurança à educação. O resultado é a dramática degradação do Rio. O Brasil distribuiu imensas benesses para a segunda cidade mais rica de um país com tanta pobreza. Desperdiçamos. O risco é resgatar "Feliz Ano Novo", talvez o melhor livro de Rubem Fonseca, em que a celebração termina com violência desenfreada, sem ordem e sem razão.
2017-08-10
colunas
marcos-lisboa
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-lisboa/2017/10/1925275-feliz-ano-novo.shtml
Só nos resta o pessoal do cafezinho
Desde a invenção da TV Câmara e da TV Senado nós temos, além de náusea, uma sensação de estar por dentro do que acontece ali. Porém, aos poucos, vamos vendo que não. A atividade parlamentar se dá talvez 10% ou 15% na frente das câmeras. O restante se dá nos gabinetes, corredores, comissões, e demais cantinhos não televisionados das duas casas –sem falar nos hangares, restaurantes e encontros "fora da agenda oficial". Eles têm certeza que, longe da tribuna, estão livres e a salvo do Brasil. E estarão até que uma categoria silenciosa da história brasileira resolva contar o que sabe: o pessoal do cafezinho. Apenas eles têm acesso a todos os parlamentares, a cada escaninho do Congresso, entram e saem silenciosamente de todos os lugares. Mais que isso, a posição em que trabalham –pelas costas dos políticos, levemente curvados à frente, bem no raio dos cochichos, numa ação ritualística de servir café que pode durar o tempo que for– é perfeita pra captar todos os segredos inconfessáveis da república. Como normalmente o pessoal do cafezinho se reveza entre todos os gabinetes, juntos têm partes importantes de uma história que não nos é contada. Jamais sugeriria isso, por se tratar de algo flagrantemente ilegal –coisa rara no Congresso, mas naquele paletó de garçom ainda cabe fácil um gravador. Aí alguém pode argumentar que os políticos provavelmente param de conversar algo ilegal quando o garçom adentra o recinto. Duvido. Primeiro porque esconder crimes não tem se mostrado a especialidade dessa gente. E além disso o pessoal do cafezinho é tão onipresente que rápido se torna invisível. Eles são tudo que nos resta em meio ao descrédito geral, à desesperança, à sensação de que ninguém é capaz de frear a desfaçatez da classe política que sequestrou o Estado brasileiro e não nos cobra resgate porque não quer devolver mesmo. Pessoal do cafezinho, uni-vos! Se organizem, juntem as peças que vocês têm desse quebra-cabeça e botem a boca no mundo. Lembram do Eriberto França? Motorista do então presidente Collor? Ele foi fundamental pra contar como PC Farias pagava despesas particulares de Collor. Um motorista. Vocês são muitos! Nos entreguem esses caras de bandeja. O Brasil agradece.
2017-08-10
colunas
marcius-melhem
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcius-melhem/2017/10/1924934-so-nos-resta-o-pessoal-do-cafezinho.shtml
Novelas se arriscam e colocam o espectador no lugar de personagens
Trama bobinha e vazia que a Globo vem exibindo no horário das 19h, "Pega Pega" inesperadamente saiu da curva esta semana e resolveu encenar, em dois capítulos, uma triste estatística brasileira. Um personagem negro, Dom (David Junior), foi abordado por um policial militar, igualmente negro, e preso por estar sem documentos. Não adiantou argumentar que o carro importado, diante do qual estava, era seu. "Ganhou de Papai Noel?", perguntou o PM, em tom de deboche, antes de levá-lo à delegacia. De origem humilde, Dom foi adotado, ainda bem criança, por uma ricaça, Sabine (Irene Ravache), e criado na Suíça. Ao voltar ao Rio, localizou a sua família biológica. No momento da prisão, estava com o irmão, Dílson (Ícaro Silva). "Isso é abuso de poder", disse Dom ao ser preso. "Calma que é assim mesmo", respondeu o irmão, acostumado a "levar dura" de policiais. Em outra cena, Dílson e o pai, Cristovão (Milton Gonçalves), chegam à delegacia e explicam a um policial o que aconteceu: "É que o Dom, meu irmão, ele é negão. Meu pai aqui também, igual a eu. Então, já viu, né? Tava sem documentos". Esclarecido o engano, Dom é solto e Cristovão diz: "Infelizmente, a gente sabe que a realidade do país é esta. A lei pra quem é negro e pobre é primeiro prender, pra depois perguntar". Em tom didático, a policial Antonia (Vanessa Giácomo) explica: "Isso foi uma arbitrariedade. Não poderia ter acontecido mesmo você estando sem documentos. A corregedoria já está investigando e esses policiais serão punidos". E o jogral termina com Dom se dirigindo ao irmão: "Isso é normal, Dílson? Isso acontece sempre com você?". E a resposta: "Não é sempre, mas acontece muito. Principalmente com gente da nossa cor". Para se ter uma ideia do alcance desta mensagem, a novela de Claudia Souto tem registrado audiências frequentemente acima dos 30 pontos (cada ponto equivale a 688 mil indivíduos nos 15 mercados aferidos pelo Ibope). Ainda que toda a sequência lembre mais a cartilha de uma ONG do que uma criação dramatúrgica, não há como ser contra a divulgação desta campanha em um país tão atrasado em termos de direitos humanos e respeito à diversidade racial. "Pega Pega" segue longa tradição de "merchandising social" nas novelas da Globo. Gloria Perez, que já reivindicou, em entrevistas, ter sido a "inventora" da técnica, localiza em "Partido Alto", de 1984, a primeira ação do tipo. Na trama, a autora chamou a atenção para a falta de ônibus em um determinado bairro da zona norte do Rio –e a situação encenada teve impacto real imediato. Atualmente, em "A Força do Querer", Gloria desenvolve uma ação bem mais complexa –a da descoberta da transexualidade por parte de uma personagem. A esta altura da novela, perto do fim, Ivana (Carol Duarte) já é Ivan e busca ser compreendido pelos pais, que o rejeitaram inicialmente. Um outro personagem, Nonato (Silvero Pereira), é travesti. De dia, vestido como homem, trabalha como motorista, mas, à noite, é a cantora Elis Miranda. Ao longo da trama, tanto Ivana/Ivan quanto Nonato já foram ofendidos e agredidos fisicamente por causa de suas orientações sexuais. Desde o início, Gloria tenta, pacientemente, colocar o espectador no lugar de seus dois personagens. É um exercício arriscado nestes tempos de intolerância. Mas a audiência da novela, a melhor no horário desde 2013, mostra que não houve rejeição às tramas. Ao contrário. Neste caso, a boa ação, somada a uma técnica eficiente, compensou.
2017-08-10
colunas
mauriciostycer
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mauriciostycer/2017/10/1924937-novelas-se-arriscam-e-colocam-o-espectador-no-lugar-de-personagens.shtml
Drone, patins e mais 12 dicas para presentear os pequenos no Dia da Criança
PRODUÇÃO ALINE PRADO COLABORAÇÃO PARA A sãopaulo Filho(a), enteado(a), sobrinho(a), afilhado(a), primo(a)... Já escolheu o presente de Dia das Crianças para o seu(ua) pequeno(a)? Se a resposta for negativa, confira as sugestões escolhidas pela sãopaulo para celebrar a data com a criançada. * 1 Patins Oxer. R$ 399,99, em centauro.com.br 2 Trendy Dog Ralph de pelúcia. R$ 149,98, em americanas.com.br 3 Carro de boneca Our Generation. R$ 999,99, em saraiva.com.br 4 Boneca Our Generation. R$ 399,99, em rihappy.com.br 5 Tênis Glitter com laço. R$ 109,90, em shoestock.com.br 6 Bola de vôlei Wilson. R$ 69,90, em netshoes.com.br * 1 Livro "Mini Curiosos Descobrem os Dinossauros". R$ 34,90, em saraiva.com.br 2 Boneca LOL Surprise​. R$ 178, em submarino.com.br 3 Tênis ​Jumpshot ​Pony. R$ 199.90, em dafiti.com.br 4 Lancheira térmica. R$ 99,90, em puket.com.br 5 Pelúcia baleia. R$ 49,99, em rihappy.com.br 6 Drone Indruder Candide. R$ 700,90, em extra.com.br 7 Luvas de silicone Horripilóides. R$ 59,99, em pbkids.com.br 8 Bola de vôlei Wilson. R$ 69,90, em netshoes.com.br
2017-08-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1925105-drone-patins-e-mais-12-dicas-para-presentear-os-pequenos-no-dia-da-crianca.shtml
Karl Valentin e as duas Alemanhas
Em 1991 fui convidado pela Inter Nationes, uma fundação alemã, a visitar a Alemanha recém-reunificada, junto com um grupo de jornalistas e escritores brasileiros, viagem que se encerrou na Feira do Livro de Frankfurt. Entre eventos e traslados, fomos a Berlim, Dresden, Leipzig, Bonn e Munique. Para quem, como eu, lavou pratos em Frankfurt nos idos alternativos dos anos 1970, a viagem foi uma mordomia inesquecível –e instrutiva. Lembro do impacto quase didático que senti na travessia de uma Alemanha à outra, passando em Berlim do cenário technicolor do triunfo do capitalismo para o preto e branco precário do fracasso socialista. Mas em toda parte já se viam os andaimes e as gruas onipresentes da reconstrução. Uma cena foi especialmente estranha para mim. Em Dresden, saí uma manhã para passear e parei num bar, que avançava na calçada. Não havia mais ninguém. Súbito, chega uma família alemã; o pai, a mãe, crianças, tios, um avô, avançam pelas dezenas de mesas vazias e, sem pedir licença, vêm se sentar comigo, ocupando as três cadeiras restantes e completando a acomodação nas mesas ao lado. Não foi uma invasão agressiva; cumprimentaram-me cordialmente e voltaram a falar entre eles. Tateei a situação, trocando duas ou três palavras: "Brasil", eu disse, esperançoso; "Futebol! Pelé!", eles responderam, com um sorriso. Terminei a cerveja e me despedi. Mais tarde, o guia me explicou: é a Alemanha Oriental. Por que eles ocupariam mesas vazias, se ainda havia lugares sem uso na sua? Em Munique, por indicação expressa de um ator e velho amigo, Ariel Coelho (1951-1999), na única tarde livre desprezei uma exposição de Rembrandt (que está no mundo inteiro) e fui visitar o museu Karl Valentin (que só existe lá). Valentin (1882-1948) foi um comediante extraordinário, palhaço refinado, mestre do nonsense, da ambiguidade, do duplo sentido, e um crítico demolidor de tudo que é lógico, respeitável e ponderado. Sua grande arte é a da presença no palco –foi um gênio das gags e dos sketches de cabaré, e também produziu filmes. Mas, ao contrário dos grandes do cinema mudo, como Chaplin e Buster Keaton, Valentin faz principalmente um humor de texto. Arregimentei uma tradutora alemã –a única palavra que sei da língua é "selbstverständlich", que decorei (sem jamais conseguir pronunciá-la corretamente), porque me lembra mais um teorema que uma palavra: "aquilo-que-é-evidente-por-si-só", ou, é claro, "óbvio"– e fui ao museu. Logo à entrada, uma seta e uma placa na escada avisam: "Cuidado! Rato!" E vemos no chão um ratinho de borracha. Adiante, uma garrafa gigante e vazia; olhando melhor, vemos uma única gota estilizada no fundo. Rótulo: "Suor de funcionário público". No segundo andar, há um bar; em cada mesa, uma das cadeiras tem uma etiqueta vistosa advertindo: "Cadeira para não fumante". No cenário anos 1930, uma vitrola antiga roda vinis com gravações originais de Karl Valentin, em performances de cabarés –além dos chiados dos velhos discos, ouvem-se as risadas do público. Explorei a guia, pedindo que ela me traduzisse alguns trechos. Um deles: "O trânsito de Munique está um caos! Precisamos organizá-lo! Na segunda-feira, apenas ônibus! Na terça-feira, só carros oficiais! Na quarta-feira, as ambulâncias!" Eu ria sem parar e a minha guia estranhava: "O que há de tão engraçado?" Outro trecho: "Por que as pessoas não vão ao teatro? É evidente: porque não são obrigadas! Por que as crianças vão para a escola? Ora, porque são obrigadas! Vamos instituir a obrigatoriedade de ir ao teatro!"¦" –e segue-se um arrazoado delirante dos efeitos benéficos da lei. Valentin, que foi professor de Brecht, pagou o preço do esquecimento por ter ficado na Alemanha durante a era Hitler. Mas nunca perdeu o humor. O Ariel (que, aliás, era fisicamente parecido com Valentin) gostava de brincar com uma cena curtíssima e maravilhosa: um oficial da SS, inteiro paramentado, avança para a boca do palco em passos fortes, bate os calcanhares, estica vigorosamente o braço na saudação nazista, grita "Heil!"¦" –e, no mesmo instante, a face rígida se desfaz num misto de desespero e súplica, enquanto o braço se recolhe, a voz um fiapo: "Como é mesmo o nome dele?!".
2017-08-10
colunas
cristovao-tezza
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/cristovao-tezza/2017/10/1924935-karl-valentin-e-as-duas-alemanhas.shtml
Odebrecht tenta evitar racha entre delatores
Uma divergência entre os depoimentos de Marcelo Odebrecht e de um outro ex-executivo da empreiteira levou a Odebrecht a convocar reuniões para debater o alinhamento entre delatores na Operação Lava Jato. Os delatores foram convidados para o encontro a pretexto de serem atualizados sobre o andamento dos processos decorrentes das delações premiadas. Chegando lá, porém, o assunto principal foi a discrepância nos relatos à Justiça. A orientação da companhia foi a de que os delatores devem evitar contradições. Há um mês, em depoimento ao juiz Sergio Moro, na ação penal sobre a compra de um terreno para o Instituto Lula, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, cobrou publicamente que seus ex-subordinados evitem "omissões e mentiras" em seus relatos. Essa mesma audiência escancarou um desacordo entre o empreiteiro e o ex-executivo da Odebrecht Realizações Paulo Melo, réu sob acusação de lavar dinheiro para Lula. Marcelo disse ter informado Melo que a empresa arcaria com a compra do terreno do instituto, em 2010, e que debitaria os gastos de uma espécie de conta-corrente de repasses clandestinos do grupo com o PT. Também disse que o ex-executivo coordenou pagamentos para o projeto. O subordinado, porém, negou que tivesse conhecimento de detalhes sobre a propina. Disse a Moro que não cuidou dos pagamentos e que não via na época ilegalidade na atuação da empreiteira junto ao Instituto Lula. A defesa de Melo vai pedir a absolvição dele nas alegações finais. Mesmo tendo fechado o acordo de delação em conjunto, cada delator da Odebrecht geralmente possui advogado próprio nas ações penais. Uma eventual absolvição perante Moro pode ajudar o réu a postergar o cumprimento da pena já acertada no acordo de delação. O acordo feito entre delatores e Ministério Público Federal era que os executivos começariam a cumprir pena imediatamente após a validação da colaboração premiada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Conforme a Folha mostrou na semana passada, despacho da presidente do STF, Cármen Lúcia, abre a possibilidade de que os delatores só passem a cumprir a punição combinada após o fim dos processos, o que pode levar anos. Entre os 77 delatores, apenas Marcelo Odebrecht está preso hoje e somente outros quatro já receberam condenações. A maioria não virou réu. Na audiência com Moro em setembro, o empresário disse: "Nossos colaboradores precisam virar a chave. Eles não podem se omitir de responsabilidades porque dificulta a elucidação do caso".
2017-08-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925326-odebrecht-tenta-evitar-racha-entre-delatores.shtml
Verba de loterias serviu para COB pagar salários de dirigentes
Além de financiar o esporte olímpico, a Lei Piva também ajuda o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, a agradar seu aliados. A legislação permite ao comitê destinar parte da verba carimbada para remunerar os presidentes das confederações filiadas com salário. Nuzman foi preso pela Polícia Federal, suspeito de comprar votos para a eleição do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Cada dirigente de entidade recebe R$ 22 mil, valor que pode ser dividido com outros diretores. Em um ano, o valor salarial pode chegar ao total de R$ 264 mil. As confederações formam o principal núcleo de sustentação de Nuzman e o elegem nos pleitos da presidência do COB, a cada quatro anos. O pagamento é classificado por opositores como uma espécie de "mensalinho" para o cartola agradar seus aliados. No entanto, essa decisão de remunerar ou não os dirigentes cabe a cada confederação, que pode aplicar esse valor em projetos esportivos. Durval Balen, presidente da confederação de tiro esportivo, disse que abriu mão da remuneração para repassá-la à sua entidade. "Abri mão desta remuneração à minha pessoa, fazendo com que tais recursos fossem agregados aos valores dos repasses feitos para a CBTE", afirmou à Folha. Outros dirigentes consultados pela reportagem também disseram que não ficam com o "mensalinho". Da mesma forma, há quem não abra mão da remuneração. Questionado na sexta (6), o COB não informou quantos cartolas são beneficiados. Dirigentes também recebem valores de diária do COB durante eventos internacionais, como Jogos Olímpicos e Pan-Americanos. Eles ganham até mesmo quando da Olimpíada de 2016, realizada no Rio. As confederações são maioria no colégio eleitoral do comitê olímpico nacional. Na última eleição, 30 representantes de confederações, três membros natos do COB -Nuzman, entre eles- e o representante dos atletas, o ex-jogador de vôlei de praia Emanuel Rego, votaram. Nuzman está à frente do comitê desde 1995, e foi eleito em outubro de 2016 para seu sexto mandato. A administração se encerra em 2020.
2017-08-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925294-verba-de-loterias-serviu-para-cob-pagar-salarios-de-dirigentes.shtml
Coleção Folha traz obra da escritora cearense Rachel de Queiroz
Criada em uma fazenda no interior do Ceará nos anos 1930, Dôra parte em jornada de transformação que perpassa dores, amores e desilusões até, afinal, estabelecer-se como dona de suas ações. "Dôra, Doralina" reúne as memórias dessa mulher criada pela escritora cearense Rachel de Queiroz (1910-2003) e chega às bancas neste domingo (8), pela Coleção Folha Mulheres na Literatura. A primeira das três partes da narrativa de Maria das Dores, a Dôra, começa com ela sob as ordens de Senhora, a mãe viúva que detém a autoridade sobre os negócios da fazenda e a vida da filha. As duas vivem relação sem afeto e de rivalidade entre ex-escravos, parentes distantes e gente do cangaço, até que uma traição terrível em família revira um cenário pouco acostumado a mudanças. Dôra vai para Fortaleza e, de lá, parte com um grupo de teatro mambembe. Locais, fatos e pessoas levam-na a construir identidades distintas, por vezes contraditórias, que a empurram a outras direções. As personagens femininas são centrais, característica das obras de Rachel de Queiroz. Em primeira pessoa, com fluxo de consciência livre e por vezes mesclando passado e presente, Dôra questiona quem é e quem gostaria de ser. "Narrativa íntima de amores, ódios e infortúnios dos tempos de vida errante de uma mulher forte, vida que, enfim, se acalma em reviravolta surpreendente", escreve Vinicius Torres Freire, colunista da Folha, no prefácio. Seja rompendo com demandas e tradições da sociedade rural, seja escolhendo reencontrar elos de sua essência, Dôra retrata quem foi e quem se tornou, trazendo nova luz às histórias de matriarcas do sertão nordestino. RETOMADA O relato realista e intenso representa o retorno de Rachel de Queiroz ao romance após mais de 35 anos dedicados a crônicas e dramaturgia. Uma das mais premiadas escritoras brasileiras, primeira mulher na Academia Brasileira de Letras e também dramaturga e jornalista, ela estreou na literatura aos 19 anos com "O Quinze" (1930), um dos maiores romances do regionalismo brasileiro. É também de Rachel "Memorial de Maria Moura", retrato sobre o sertão, adaptado para minissérie da Globo.
2017-08-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1924929-colecao-folha-traz-obra-da-escritora-cearense-rachel-de-queiroz.shtml
Motociclista flagrado a 400 km/h na Anhanguera se apresenta à polícia
O motociclista Vanderson Reis, identificado pela polícia como condutor de uma moto esportiva que aparece num vídeo trafegando a 400 km/h na rodovia Anhanguera, em Louveira (a 71 km de SP), se apresentou à polícia nesta sexta-feira (6). Reis se apresentou à Polícia Civil de Jundiaí (a 56 km da capital) após a repercussão do caso e depois de a polícia ter informado a descoberta do nome do condutor. De acordo com a polícia, o vídeo foi publicado no dia 20 de setembro. Ele mostra o velocímetro de uma Kawasaki Ninja H2 que teria ultrapassado 400 km/h em um trecho da rodovia onde a velocidade máxima permitida é de 100 km/h. Embora o marcador da moto registrasse 299 km/h, limite oficial do veículo, um dispositivo alternativo na moto mostraria a velocidade real. Em outro vídeo, dois homens mostram a moto passando em velocidade alta. Em outro momento da filmagem, o piloto já está com a dupla e conversa sobre a "aventura". Policiais ouvidos pela Folha disseram neste sábado (7) que Reis perdeu a sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) por um prazo que pode chegar a dois anos e que a motocicleta será apreendida. Além disso, ele terá de passar por curso de reciclagem antes de voltar a dirigir. A reportagem não obteve contato com Reis neste sábado. Em entrevista à TV Tem, afiliada da Globo, ele disse que estava fazendo um teste para checar se o veículo conseguia atingir a velocidade declarada pelo fabricante. Ele ainda afirmou estar arrependido. "Não aconselho, não faria de novo e estou arrependido por ter feito", disse. Vídeo mostra motociclista a 400 km/h
2017-07-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925330-motociclista-flagrado-a-400-kmh-na-anhanguera-se-apresenta-a-policia.shtml
Não há meia prévia, ou é inteira ou não tem, diz Doria
Num dia em que declarações tucanas geraram forte embate interno, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse na noite deste sábado (7), em Belém, que o seu partido tem de fazer uma "prévia inteira". "Não tem meia prévia. Ou é prévia inteira ou não tem", afirmou Doria, se referindo a um formato que inclua todos os militantes do PSDB na escolha do candidato à Presidência em 2018. A afirmação foi feita durante a Trasladação –segunda maior romaria dos festejos do Círio de Nazaré. As prévias têm que ser feitas com todos os militantes do PSDB. Não pode ter prévia casuística." O evento encerrou a agenda oficial do prefeito de São Paulo à capital paraense. Ele chegou à cidade nesta sexta-feira (6) e, em coletiva, respondeu ao prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), que lançou sua pré-candidatura à Presidência e disse que se dedicará às prévias tucanas apenas aos finais de semana. Doria tem viajado com frequência em dias úteis. Doria negou neste sábado o "uso político" do Círio de Nazaré. Ele assistiu a procissão no palanque da prefeitura, junto a correligionários. Mesmo estando ao lado dos romeiros, Doria passou quase despercebido pela população. Ainda assim, ouviu manifestações contrárias ao colega Zenaldo Coutinho (PSDB), prefeito de Belém. Nos discursos durante o dia, Doria buscou se afastar das proposições do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que também esteve na cidade durante a semana. Indagado sobre a posição que tenta consolidar, o tucano se intitulou um "liberal que gosta de construir políticas públicas eficientes, com transparência, transformadoras". Os grandes investidores temem muito radicalismos. Posições radicais afastam o capital do Brasil e, ao afastar o capital, vão dificultar a retomada do processo econômico." Sobre a disputa interna, Doria contemporizou. "O PSDB é uma grande legenda e, como tal, tem várias vertentes, sentimentos, posições. Eu represento o novo dentro do PSDB. E quero continuar a representar o pensamento novo, liberal, modernizador, criador e emprego e renda." Mais cedo, o prefeito paulistano participou de um almoço no Consulado Honorário da Finlândia no Pará, em que estiveram empresários e políticos paraenses. À tarde, discursou em evento da Juventude do PSDB e, para um público composto por militantes e políticos tucanos de Belém e do interior do Pará. Doria deixa Belém na noite deste sábado.
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925347-nao-ha-meia-previa-ou-e-inteira-ou-nao-tem-diz-doria.shtml
Lula diz que é preciso 'construir narrativa' para mulher entrar no PT
Em evento nacional do coletivo de mulheres do PT, realizado em Brasília na noite deste sábado (7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é preciso "construir uma narrativa" para convencer as mulheres a ingressar no partido e na política. Mas o discurso desagradou a parte das militantes, que entendeu que Lula reforçou estereótipos de gênero. "Eu acho que nós estamos precisando construir uma narrativa que convença a mulher que [ela] está preparada, que tem mais jeito de cuidar de uma cidade, de um Estado ou de um país do que um homem", disse Lula, ao lado da presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann. "Governar é antes de tudo você exercitar a sensibilidade. A palavra 'cuidar' é mais pertinente [do que 'governar']", disse Lula, para quem um partido como o PT deve "cuidar do povo". Recebido por centenas de mulheres com gritos de "Lula guerreiro do povo brasileiro", o ex-presidente reforçou sua intenção de se candidatar a presidente em 2018 e não citou as acusações de corrupção de que é alvo na Operação Lava Jato. No único momento em que fez uma menção genérica às investigações, o petista afirmou que há grupos que "querem dizer para a sociedade que o PT tem que ser banido porque é uma organização criminosa". Com discurso direcionado para a militância feminina, Lula começou dizendo que "a mulher não é objeto de cama e mesa, a mulher tem que ser sujeito da história". Depois, citou exemplos de perseverança dados por sua mãe e sua mulher, Marisa, morta em fevereiro deste ano. Lula disse que era a primeira vez que falava em um evento só de "companheiras", o que o teria deixado apreensivo sobre o que dizer. A receptividade de parte das militantes começou a mudar quando ele afirmou que é preciso que o Estado dê creche para que as mulheres tenham tempo de trabalhar e de fazer política. Diante do burburinho na plateia, que achou a fala machista, Lula retomou o rumo dizendo que, como a mulher conquistou espaço no mercado de trabalho, "falta o homem conquistar espaço na cozinha". Ao dizer que a mulher tem mais jeito para a política porque sabe "cuidar" –algo que, para ele, "vem da maternidade"–, uma militante reclamou "tá piorando". "Como a gente vai despertar na cabeça da mulher [a participação política]?", disse Lula. Mulheres que estavam ao fundo se queixaram, dizendo que não é preciso despertar a cabeça delas. "Algumas coisas que eu disse aqui são inquietações de uma pessoa que faz política há 50 anos. Eu estou disposto a discutir essas inquietações, para resolver o problema da participação da mulher e da chegada da mulher ao poder", disse o ex-presidente. "O único jeito da gente governar é a gente fazer coisa diferente do que fez até agora. Sem a participação da mulher não vamos construir uma sociedade mais justa, socialista, igualitária", concluiu. Para a militante do movimento social de mulheres Irani Elias, do Recife (PE), a falta de participação da mulher na política é uma questão de estrutura do poder, não de voluntarismo. "Tem coisas que a gente não concorda com a fala dos homens e isso também inclui o presidente Lula", disse ela, que tentou interromper o discurso aos gritos diversas vezes. O evento do PT vai eleger neste domingo (8) a nova secretária nacional do coletivo de mulheres, que substituirá a atual, Laysi Moriére. Depois do discurso, a maioria das militantes fez fila para abraçar Lula e tirar fotos.
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925348-lula-diz-que-e-preciso-construir-narrativa-para-mulher-entrar-no-pt.shtml
Arlette Magalhães, viúva de ACM, morre aos 86 anos
Morreu na manhã deste sábado (7) em Salvador, aos 86 anos, Arlette Maron de Magalhães, viúva do ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) e avó do atual prefeito da capital baiana, ACM Neto (DEM). Internada desde na quarta-feira (4) no Hospital Cardio Pulmonar, na capital baiana, ela sofreu um acidente vascular cerebral. O sepultamento está previsto para o final da tarde deste sábado, no cemitério Campo Santo, em Salvador. Arlette nasceu em Itabuna, no sul da Bahia, e teve quatro filhos, oito netos e 13 bisnetos em um casamento com ACM que durou 55 anos. Em sua conta no Twitter, ACM Neto lamentou a morte da avó. "É um momento de dor para toda a família e para aqueles que conviviam com dona Arlette. Perdi uma avó dedicada, uma amiga e grande conselheira", escreveu. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), também se manifestou pela rede social. "Meus sentimentos aos familiares e amigos da ex-primeira-dama do Estado. Que Deus conforte todos neste momento de dor." Primeira dama do estado por três vezes, Arlette Magalhães já atuou como presidente das Voluntárias Sociais da Bahia e participou de diversas ações sociais. Em Salvador, ela foi presidente do Instituto Antônio Carlos Magalhães (ACM) desde a inauguração, em 2010.
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925307-arlette-magalhaes-viuva-de-acm-morre-aos-86-anos.shtml
Cesare Battisti chega a São Paulo após receber habeas corpus
Após receber um habeas corpus na sexta (6), o italiano Cesare Battisti deixou o Mato Grosso do Sul e desembarcou na manhã deste sábado (7) no aeroporto de Guarulhos (SP). Ele mora em São Paulo. Battisti foi detido acusado de evasão de divisas na quarta-feira (4) ao tentar atravessar a fronteira com a Bolívia portando dólares e euros no valor equivalente a pouco mais de R$ 23 mil (1.300 euros e US$ 6.000). A defesa recorreu da decisão do juiz federal Odilon de Oliveira, que determinou sua prisão provisória durante audiência de custódia na Justiça Federal em Corumbá (MS). Na sexta (6), o desembargador José Marcos Lunardelli, do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), concedeu um habeas corpus ao italiano, preso em Mato Grosso do Sul. Na decisão, o desembargador determina que Battisti cumpra algumas medidas, como o comparecimento mensal ao juízo da cidade em que ele mora e a proibição de ausentar-se da comarca de residência sem autorização. No pedido encaminhado ao desembargador, a defesa alega que é notória pública a perseguição institucional existente contra Battisti. De acordo com os advogados, não há impedimento para que ele, na condição de refugiado, realize viagem, ainda que para o exterior, uma vez que sua situação jurídica no Brasil está plenamente legalizada há quase dez anos. DECISÃO O desembargador discorda do entendimento do juiz federal para determinar a prisão preventiva. "Os depoimentos colhidos na fase policial reforçam que os fatos quando aos indícios da prática de evasão de divisas. Diga-se o mesmo em relação ao indiciamento por lavagem de dinheiro, voltando a registrar que audiência de custódia não se destina a produção de prova material e muito menos qualquer conclusão sobre o mérito do indiciamento", escreveu o juiz Oliveira ao decidir pela prisão. "Em primeiro lugar, não se constata qualquer elemento mínimo que indique a prática do crime de lavagem de capitais, como entendeu o juízo de origem", escreveu o desembargador Lunardelli. "Não há qualquer indício de que o paciente tenha ocultado ou dissimulado a origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade dos valores. Tampouco existe substrato fático capaz de indicar a origem criminosa do numerário aprendido", acrescentou. Ao determinar a prisão preventiva, o juiz apontou que Batistti está no Brasil "sob a condição de refugiado assim sendo, transgredindo, em tese, a regulamentação pertinente a condição de refugiado, está a ofender a ordem pública". "Como bem assentou o Ministério Público Federal, o contexto geral de ocorrência faz concluir, ao menos em caráter provisório, que Cesare Battisti procurava se evadir do território nacional de temendo ser efetivamente extraditado", afirmou Oliveira. Mas Lunardelli discordou: "Após a negativa de extradição do paciente [em 2010], o Conselho Nacional de Imigração concedeu-lhe visto de permanência, não se tratando pois de refugiado, como entendeu o magistrado. Ainda que assim não fosse, a saída do território nacional sem prévia autorização do governo brasileiro acarretaria apenas a perda da condição de refugiado". "Está evidenciado constrangimento ilegal na liberdade de locomoção do paciente", concluiu o desembargador, ao conceder o habeas corpus. ASILO Battisti fugiu da Itália e, em 2004, veio para o Brasil. Foi preso em 2007 e, em 2009, o STF autorizou a extradição, que foi negada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, no último dia de seu governo. A Folha apurou que, para o Ministério da Justiça, a tentativa de fuga de Battisti deve acelerar uma decisão do presidente Michel Temer sobre o pedido da Itália para entregá-lo. Para isso, Temer tem que mudar decisão de Lula de 2010. Antes da prisão, o Ministério da Justiça já havia encaminhado a Temer um parecer no qual tratava sobre a extradição de Battisti, apurou a Folha. Até o momento, nenhum obstáculo jurídico foi encontrado para impedir uma eventual decisão de Temer pela extradição. De acordo com o Palácio do Planalto, o documento está na subchefia de Assuntos Jurídicos da Presidência, que deve emitir parecer ao presidente. Não há prazo para que essa fase seja finalizada. Para isso, Temer tem de mudar decisão de Lula de 2010. Se isso acontecer, o Ministério da Justiça envia um aviso ministerial com pedido de prisão ao STF. O ministro Fux pode decretar ou negar a prisão. Ele deve abrir prazo para a PGR se manifestar. A decisão final é do presidente da República. Em 2010, Fux autorizou a extradição, mas Lula vetou. Na prática, Battisti não pode ser expulso nem deportado porque, além de ter um filho no país, há um pedido da Itália para que ele seja extradito –e a lei brasileira proíbe deportação ou expulsão neste caso. GOVERNO ITALIANO O ministro das Relações Exteriores da Itália, Angelino Alfano, afirmou nesta quinta (5) que o governo italiano está trabalhando com autoridades brasileiras a respeito do pedido de extradição de Cesare Battisti. Pelo Twitter, Alfano afirmou que conversou nesta quinta com Antonio Bernardini, embaixador da Itália no Brasil, "para trazer Battisti à Itália e entregá-lo à Justiça". "Continuamos trabalhando com as autoridades brasileiras", escreveu o ministro em sua rede social. Angelino Alfano * CRONOLOGIA O caso Battisti Década de 1970 Envolve-se com grupos de luta armada de extrema-esquerda Década de 1980 Foge da Itália e passa a maior parte do tempo no México. É condenado à prisão perpétua pela Justiça italiana, acusado de quatro homicídios Década de 1990 Se exila em Paris (França), protegido por legislação do governo Mitterrand 2004 Sem Miterrand, França aprova extradição para Itália; foge em direção ao Brasil, onde vive clandestino 2007 É preso no Rio 2009 Ministério da Justiça dá a ele status de refugiado político, mas STF aprova extradição 2010 Lula, então presidente, decide pela permanência de Battisti no Brasil 2011 STF valida decisão de Lula, e Battisti é solto. Governo concede visto de permanência a ele 2015 Juíza da 20ª Vara Federal de Brasília atende a pedido do Ministério Público e determina a deportação de Battisti. A defesa recorre da decisão 2017 Na quarta (4.out), é detido em Corumbá (MS). Consegue habeas corpus na sexta (6.out)
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925318-cesare-battisti-chega-a-sao-paulo-apos-receber-habeas-corpus.shtml
Mortes: Tia Célia realizou o sonho de crianças atleticanas por 37 anos
Adolescente, Célia ajudava a mãe no serviço na casa de Kafunga, mítico goleiro do Atlético Mineiro. De tanto lavar e passar, pegou olho: cerzia os uniformes desfiados e, quando percebeu, já fazia as golas das camisas do patrão. Tudo em sua vida remeteu ao alvinegro. Aprendeu o ofício de costureira remendando os panos de Kafunga; as lembranças da infância eram na cacunda do pai, a vista por cima das cabeças da multidão na arquibancada de Lourdes. Casou-se com o atleticano Manuel, o Mineirão foi erguido, ela acompanhando o Galo feito procissão, a lata com frango e farofa num braço, as crianças pequenas no outro. Em 1977, o filho Carlinhos entrou em campo junto com os jogadores. Durante os 37 anos seguintes, ganhou aposto: virou Tia Célia, coordenadora de mascotes mirins do Atlético –era ela quem reunia as crianças nos portões do estádio e as punha de mãos dadas com os ídolos no túnel que dava no gramado. "No começo, ela levava os meninos do bairro dela e eu os do meu, a diretoria pagava os ônibus", lembra dona Terezinha, com quem dividiu o posto durante o período. O cargo era voluntário, mas Célia fazia ainda mais. Devota de Nossa Senhora, todo jogo emprestava sua santinha para o altar do vestiário. Em 2015, a CBF limitou o número de mascotes, e o clube restringiu as vagas a sócios-torcedores. Célia ficou sem função. Mesmo assim, foi homenageada no último dia 24, antes de um jogo contra o Vitória. Foi a última vez que pisou num campo de futebol. Morreu nesta terça (2), aos 88, de câncer. Deixa nove filhos, 18 netos e 22 bisnetos. [email protected] - Veja os anúncios de mortes Veja os anúncios de missas
2017-08-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925322-mortes-tia-celia-realizou-o-sonho-de-criancas-atleticanas-por-37-anos.shtml
Rapper Nelly é preso nos EUA suspeito de abuso sexual
O rapper Nelly, 42, foi preso no início deste sábado (7) nos Estados Unidos suspeito de ter abusado sexualmente de uma mulher dentro do ônibus em que viajava em turnê. O crime teria ocorrido enquanto o veículo estava estacionado em um shopping em Auburn, a menos de 32 quilômetros do sul de Seattle, segundo informações da polícia local. Conhecido pelas músicas "Ride Wit Me", "Hot in Herre" e "Dilemma", Nelly tocou em um anfiteatro em Auburn na noite de sexta (6) com o grupo de country pop Florida Georgia Line. Em nota enviada à revista People, o advogado do rapper afirmou que as alegações da vítima são "completamente fabricadas" e que eles estão confiantes de que Nelly não será processado. Não é a primeira vez que o cantor tem problemas com a polícia. Em abril de 2015, foi preso no Tennessee por porte de drogas e condenado a um ano de liberdade condicional.
2017-07-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925312-rapper-nelly-e-preso-nos-eua-suspeito-de-abuso-sexual.shtml
Cruzeiro pressiona Ponte Preta e consegue vitória nos minutos finais
Durante o primeiro tempo, o Cruzeiro fez apenas duas finalizações e sofreu um gol, de Danilo Barcelo, para a Ponte Preta. Já na segunda etapa, com uma postura bastante diferente, a equipe mineira virou com dois gols em apenas três minutos, com Thiago Neves e Manoel, e venceu por 2 a 1, neste sábado (7), no Mineirão. O resultado consolida o Cruzeiro no grupo dos seis primeiros colocados do Campeonato Brasileiro, mantendo o G-7 na competição. Bom para os clubes que estão logo abaixo, casos de Flamengo, Atlético-PR e Atlético-MG, por exemplo. Já a Ponte Preta deixou a zona de rebaixamento na rodada anterior e pode se ver entre os últimos colocados na próxima. O primeiro tempo foi ruim para o Cruzeiro, mas Thiago Neves –que bateu os pênaltis que colocaram o Cruzeiro na final da Copa do Brasil e fizeram o time ganhar o torneio– fez o gol de empate e cobrou o escanteio para o gol da virada, marcado por Manoel. Sem atuar desde o final de julho, quando deixou partida contra o Vitória com dores no pé esquerdo, o zagueiro Manoel foi a grande novidade do Cruzeiro para o duelo com a Ponte Preta. No segundo tempo, o teve o retorno premiado com o gol da vitória, de cabeça, aos 30 minutos do segundo tempo. Fábio, Léo, Murilo, Robinho, Arrascaeta e Sassá foram alguns dos jogadores do Cruzeiro que ficaram fora do jogo com a Ponte Preta. Outra ausência importante foi a do técnico Mano Menezes, liberado pela diretoria para fazer um tratamento médico. Sem meio time e também sem o técnico, o Cruzeiro teve dificuldade diante de uma Ponte Preta bem posicionada na defesa. Tanto que a melhor oportunidade celeste no primeiro tempo aconteceu somente aos 47 minutos, num chute de fora da área do volante Henrique. A bola foi fora, mas passou perto do gol defendido por Aranha. ANTECIPADO O jogo deste sábado conta para a 28ª rodada do Campeonato Brasileiro, que vai ser disputada somente no próximo final de semana. Porém, como o Mineirão vai receber no dia 17 um show de Paul McCartney, a partida foi antecipada a pedido do clube mandante, para a montagem do palco.
2017-07-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925319-cruzeiro-pressiona-ponte-preta-e-consegue-vitoria-nos-minutos-finais.shtml
Goldman faz tréplica a Doria, e aliados de ambos reagem
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o vice-presidente do PSDB Alberto Goldman protagonizaram neste sábado (7) uma discussão pública, motivando a reação de aliados de parte a parte. Nos bastidores, tucanos avaliam que Doria, ao responder a Goldman, prepara o terreno para justificar a eventual saída do PSDB para disputar a Presidência em 2018 contra o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB). Auxiliares de Doria criticaram Goldman. "Statler & Waldorf eram dois velhos rabugentos do Muppets, que geralmente apareciam logo no começo do espetáculo, resmungando de tudo e de todos, sentados na sacada do teatro. Esses dois se parecem com qual figura pública do PSDB?", cutucou Fabio Lepique, secretário-adjunto de Prefeituras Regionais. João Doria "Só se pode lamentar as afirmações de Alberto Goldman. Mostra desconhecimento sobre uma cidade que ele já não frequenta e mostra desinformação sobre uma gestão inovadora do PSDB.", disse Jorge Damião, secretário municipal de Esportes. "Goldman, você precisa conversar com seu partido. Você devia, neste momento, estar ajudando o PSDB a buscar caminhos para as novas eleições. Caminhos para enfrentar os novos problemas do brasil. Talvez você não tenha tido essa coragem, mas nós estamos tendo essa coragem. Estamos enfrentando esse problema de frente e construindo um grande governo em São Paulo", afirmou Julio Semeghini, secretário de governo. "Não vamos permitir que você questione a nossa honestidade, a nossa seriedade. Isso vamos levar para ser esclarecido na polícia", completou. Denise Abreu, o Departamento de Iluminação Pública (Ilume) da prefeitura, também gravou vídeo. "Goldman, vá se informar antes de tentar mal informar a população com mentiras, com calúnias, com uma carga enorme de inveja que nem deveria mais se estabelecer numa pessoa de sua idade." Wilson Pollara, secretário municipal da Saúde, também criticou o ex-governador. "O senhor precisa estar um pouco mais informado. Estamos trabalhando muito. Nós realmente zeramos a fila de exames e a fila não se formou mais. Estamos zerando a fila de cirurgia, regularizamos a entrega de remédios." O prefeito de Manaus, Arthur Virgilio Neto, saiu em defesa do ex-governador paulista. "Goldman merece o respeito de todos. Até daquele que não gostam dele. Aceite ou conteste as críticas que ele lhe faz, prefeito João Doria. Mas sem apelar para a baixaria e o desrespeito." Veja O ex-vereador Andrea Matarazzo (PSD), que saiu do PSDB em disputa com Doria, também reagiu. "Diante dos ataques pessoais que o ex-governador recebeu na manhã deste sábado, manifesto minha total solidariedade e respeito. O discurso de ódio e ataques pessoais não trazem resposta à críticas políticas fundamentadas." Goldman publicou novo vídeo na tarde de sábado em que acusou Doria de atacá-lo em "tom bastante raivoso, prepotente, arrogante, preconceituoso. Me acusa de 'velho'. De fato, faço nesta semana 80 anos, o que é uma uma idade respeitável". "Sou velho, mas não sou velhaco", rebateu. A réplica emula um episódio famoso na política brasileira: em 1992, Ulysses Guimarães deu a mesma resposta ao então presidente Fernando Collor, que o chamara de "senil e desequilibrado". A reação de Doria repercutiu mal entre expoentes do tucanato, que passaram o sábado conversando entre si para avaliar o episódio. Um dirigente do partido disse que o prefeito tinha razões para responder a Goldman, mas que teria sido agressivo demais. Para ele, isso sugere que Doria está se sentindo pressionado em sua busca para viabilizar-se como presidenciável tucano em 2018, numa disputa com seu padrinho político, o governador Alckmin. Esse tucano lembra que Goldman tem história partidária, mas não muita densidade no debate interno, o que deveria contar na hora de calibrar a resposta. Em vídeo, Doria chamou Goldman de "improdutivo, fracassado". Disse que o dirigente tucano só teve derrotas políticas na vida "e agora vive de pijamas em sua casa", enquanto ele, Doria, vive "ao lado do povo, que me elegeu prefeito de São Paulo, que me acolhe". Na véspera, o ex-governador havia postado vídeo com críticas contundentes ao prefeito de São Paulo. "Ele é político sim, um dos piores políticos que já tivemos", afirmou Goldman. "O prefeito ainda não nasceu", disse o ex-governador. "A única coisa que nasceu foi o candidato à Presidência". A desavença entre os dois vem desde as prévias para a disputa municipal em 2016 e chegou neste final de semana a seu ápice.
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925327-goldman-faz-treplica-a-doria-e-aliados-de-ambos-reagem.shtml
Jennifer Lopez e Lin-Manuel Miranda lançam música para apoiar Porto Rico
O criador do musical "Hamilton", Lin-Manuel Miranda, lançou nesta sexta-feira uma nova canção para ajudar as iniciativas de caridade a Porto Rico que ainda conta com muitas das maiores estrelas da indústria musical latina, após a passagem de um furacão na região. Jennifer Lopez, Marc Anthony, Gloria Estefan, Rita Moreno Luis Fonsi e muitos outros cantam "Almost Like Praying", interpretada em inglês e espanhol. A canção, uma frase musical baseada em "Maria", número do musical da Broadway "West Side Story", lista o nome de todas as 78 cidades de Porto Rico em sua letra. O furacão Maria, o pior a atingir o território norte-americano em mais de 90 anos, matou ao menos 34 pessoas no mês passado e deixou a maior parte da ilha sem energia ou acesso a água corrente limpa. Almost Like Praying Miranda, de 37 anos, cujos pais migraram de Porto Rico para os Estados Unidos, disse que a canção teve como inspiração suas próprias tentativas desesperadas de fazer contato com familiares depois do furacão Maria e sua frustração com o ritmo da chegada de ajuda à ilha. "Pensei que podia incluir todas as 78 cidades de Porto Rico na letra desta canção e que, se fizéssemos nosso trabalho direito, estas cidades jamais voltarão a ser esquecidas", disse o músico à Billboard. O sucesso de "Hamilton" - vencedor do prêmio Tony, o maior do teatro norte-americano - fez de Miranda uma das celebridades latinas mais influentes dos EUA. Ele rendeu manchetes na semana passada ao dizer no Twitter que o presidente dos EUA, Donald Trump, irá "direto para o inferno" por criticar os portorriquenhos por não fazerem o bastante para se ajudar. Nesta sexta-feira Miranda disse não se arrepender de seus comentários. "Nunca vi um presidente dos Estados Unidos atacando as vítimas de um desastre natural", disse ele em uma entrevista ao programa de televisão "CBS This Morning". "Isto não tem precedente para mim, então estas palavras que saíram de mim tampouco têm precedente". "Almost Like Praying" beneficiará o Fundo de Alívio de Desastre UNIDOS da Federação Hispânica para Porto Rico.
2017-07-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925306-jennifer-lopez-e-lin-manuel-miranda-lancam-musica-para-apoiar-porto-rico.shtml
Dodge defende manter Wesley preso por busca a 'lucro fácil' com delação
Em manifestação enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal) na noite desta sexta (6), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu a manutenção da prisão preventiva de Wesley Batista, sócio da JBS, decretada pela Justiça Federal em São Paulo no âmbito de uma investigação sobre uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro –prática conhecida como "insider trading". A investigação paulista indicou que Wesley, ao assinar acordo de delação com a PGR (Procuradoria-Geral da República) em maio, realizou operações antes de o caso vir a público com o objetivo de obter lucro. "Ao invés de representar espaço de conscientização e arrependimento a respeito dos crimes já praticados", escreveu Dodge, "o acordo de colaboração representou, aos olhos do reclamante, oportunidade de lucro fácil, mediante o cometimento de novos crimes." A defesa de Wesley entrou com reclamação no Supremo argumentando que a Justiça Federal em São Paulo não poderia ter decretado sua prisão preventiva porque o acordo de delação celebrado com a PGR lhe concedeu imunidade penal e ainda está válido. O relator da reclamação é o ministro Gilmar Mendes. MÁ-FÉ Em sua manifestação, Dodge afirmou que o crime de "insider trading", investigado em São Paulo, não estava coberto pela imunidade, pois não foi relatado ao Ministério Público pelos delatores, o que indica má-fé. "Permitir-se, como quer o reclamante [Wesley], que a imunidade penal prevista no ajuste alcance tal ilícito, protegendo-o, como um verdadeiro escudo, de ser processado e eventualmente punido pela sua prática, equivaleria a desvirtuar a lógica dos acordos de colaboração premiada –o que, por óbvio, não pode ser admitido", escreveu Dodge. Para a procuradora-geral, a prisão deve ser mantida para "garantir a ordem pública, já que há evidências de que, mesmo ao celebrar acordo de colaboração premiada com o MPF, o reclamante continuou voltado à prática de crimes", e porque "há risco à instrução penal, eis que, em oportunidades anteriores, o reclamante e seu irmão não hesitaram em cooptar agentes públicos, exercendo, devido a seu elevado poderio econômico, influência sobre diversos órgãos públicos, o que poderá atrapalhar a produção de provas necessárias à investigação". Além de Wesley, também está preso o irmão dele, Joesley Batista, por determinação do STF. O ex-procurador-geral Rodrigo Janot entendeu que Joesley e outro executivo da JBS, Ricardo Saud, omitiram informações relevantes em sua delação, e decidiu rescindir o acordo. Caberá ao ministro Edson Fachin dar a palavra final sobre a rescisão, após ouvir a defesa.
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925267-dodge-defende-manter-joesley-preso-por-busca-a-lucro-facil-com-delacao.shtml
Protestos no aniversário de Putin terminam com mais de 200 presos
Policiais prenderam mais de 200 manifestantes que realizaram protestos contra o presidente Vladimir Putin em várias cidades da Rússia neste sábado (7). O protesto foi organizado por simpatizantes do oposicionista Alexey Navalny. Há registros de ao menos 262 presos em 27 cidades, segundo a organização OVD. Sob chuva, mais de 2.000 pessoas se juntaram em Moscou e bradaram "A Rússia deve ser livre" e "Rússia sem Putin" antes de marchar até o Kremlin, a sede do governo. Os manifestantes querem que Navalny, 41, seja autorizado a concorrer às eleições. Alguns dos manifestantes carregavam um pato amarelo, símbolo de apoio a Navalny. Boa parte deles eram adolescentes e adultos com menos de 30 anos. O líder da oposição, que está cumprindo uma pena de prisão de 20 dias por violar regras em reuniões públicas, convocou os protestos em Moscou e em outras cidades do país para coincidir com o aniversário de 65 anos de Putin. É terceira vez que Navalny é preso neste ano. O presidente russo, que tem dominado a paisagem política da Rússia por quase 18 anos, deve se candidatar ao quarto mandato em março e pleitear mais seis anos no cargo. Navalny espera também concorrer, apesar de a comissão central de eleições declarar que ele não é elegível devido a uma pena de prisão. O opositor considera que a decisão é política. "Não gosto de Putin", disse Klimov, 20, que protestou em São Petersburgo. "Desde que me lembro, ele sempre esteve no poder, e não vemos mais do que corrupção por todos os lados."
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925286-protestos-no-aniversario-de-putin-terminam-com-mais-de-200-presos.shtml
Nigéria derrota Zâmbia e é a 12ª seleção classificada para a Copa
A Copa do Mundo de 2018 já tem o 12º país confirmado: Neste sábado (7), a Nigéria bateu a Zâmbia por 1 a 0 diante de sua torcida, no Estádio Godswill Akpabio, na cidade de Uyo, e carimbou o passaporte para a Rússia com uma rodada de antecipação. Com o resultado positivo, a seleção chegou a 13 pontos na liderança do Grupo B das Eliminatórias da África e não pode mais ser alcançada pelos próprios zambianos, que permanecem em segundo, com sete, tornando-se assim o primeiro representante do continente a garantir vaga. Somente o campeão de cada chave da fase final do qualificatório vai ao Mundial. O gol que deu a vitória e a classificação aos donos da casa saiu aos 28min da etapa final. Após cruzamento da direita de Victor Moses, do Chelsea, o atacante Alex Iwobi, do Arsenal, bateu de primeira, venceu o goleiro zambiano e levou a torcida à loucura. Esta será a sexta vez em que a Nigéria disputará a Copa do Mundo, somando-se às participações nas edições de 1994, 1998, 2002, 2010 e 2014. A equipe nunca foi além das oitavas de final no torneio. Ainda pelo Grupo B, considerado o "da morte" do qualificatório, Camarões venceu a Argélia por 2 a 0 neste sábado em casa, em jogo envolvendo dois selecionados que já não tinham mais chances de classificação. Njie, aos 25min do primeiro tempo, e Tchidjui, aos 42 do segundo, fizeram os gols da partida. O resultado deixa os camaroneses com seis pontos e os argelinos na lanterna, com um. A chave será encerrada no dia 5 de novembro, com os confrontos Zâmbia x Camarões e Argélia x Nigéria. Com a classificação da Nigéria, a Copa do Mundo de 2018 já conhece 12 participantes. A nação africana se junta a Rússia (país-sede), Brasil, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Espanha, México, Coreia do Sul, Japão, Arábia Saudita e Irã.
2017-07-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925290-nigeria-derrota-zambia-e-e-a-12-selecao-classificada-para-a-copa.shtml
Sem jogar, Itália garante vaga na repescagem para a Copa do Mundo
A Itália garantida na repescagem para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. A vaga veio neste sábado (7), sem entrar em campo, após tropeço da seleção da Bósnia, que foi derrotada por 4 a 3 pela Bélgica, em casa. Com o resultado, a Azzurra, que soma 14 pontos em nove jogos, confirma-se como um dos melhores segundo colocados, uma vez que a Bósnia estaciona nos 8 pontos e não pode mais alcançá-la –resta apenas uma rodada. Desta forma, a Itália só cumpre tabela na última rodada, contra a Albânia, em casa, em jogo que acontece na próxima segunda-feira (9). Os oito melhores segundo colocados terão de passar por um mata-mata para garantirem vaga no Mundial da Rússia. O sorteio dos confrontos eliminatórios acontece no dia 17 de outubro. Já a seleção de Dzeko fica em situação complicada e precisa vencer a sua partida na última rodada –e ainda depender de outros resultados– para avançar à repescagem. A Bósnia pega a Estônia, fora de casa. Melhores segundo colocados até o momento Portugal - 15 pontos (8 jogos) Itália - 14 pontos (9 jogos) Dinamarca - 13 pontos (9 jogos) Irlanda do Norte - 13 pontos (9 jogos) Croácia - 11 pontos (9 jogos) País de Gales - 11 pontos (9 jogos) Escócia - 11 pontos (9 jogos) Suécia - 10 pontos (9 jogos) Vale lembrar que os resultados contra o pior colocado de cada grupo não são contabilizados.
2017-07-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925291-sem-jogar-italia-garante-vaga-na-repescagem-para-a-copa-do-mundo.shtml
Nuzman manda carta ao COB, se licencia e abre caminho para renúncia
Carlos Arthur Nuzman está fora do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Preso na quinta-feira (5), o ex-presidente da entidade encaminhou a outros integrantes da cúpula uma carta na qual pede seu licenciamento. Em tese, ele pode chegar até mesmo a 90 dias. Dentro do próprio COB, porém, acredita-se que o ciclo do cartola já está encerrado. Ele também se afastou do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. O afastamento vai evoluir para uma renúncia. Isso deve ser selado na quarta-feira (11), quando presidentes das quase 30 confederações esportivas associadas ao COB estarão presentes à assembleia geral extraordinária convocada pelo presidente em exercício do COB, Paulo Wanderley Teixeira, às 14h30, no Rio. Wanderley está no comando da entidade desde a última quinta-feira e, por ora, assim permanecerá. Ele e Nuzman formaram a chapa que venceu a última eleição presidencial do COB, em outubro de 2016. Wanderley comandou por 16 anos a Confederação Brasileira de Judô. Durante sua gestão, os judocas do país conquistaram 12 medalhas olímpicas. O processo de renúncia de Nuzman tem de seguir o rito ditado pelo Estatuto Social da entidade. Na sexta-feira, o COB foi suspenso pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), que congelou verbas que repassa ao órgão brasileiro. Ao longo do dia, Wanderley e outros integrantes da cúpula do comitê, como o secretário-geral Sérgio Lobo e o Bernard Rajzman, único membro brasileiro no COI, fizeram inúmeras reuniões para definir um plano de ação. A Folha apurou que O COI exigiu que o comitê olímpico do país afaste Nuzman de suas atividades como presidente, ainda que preso temporariamente, imediatamente. Dirigentes ouvidos pela reportagem acham que Nuzman, para não prejudicar ainda mais a situação do comitê e do esporte nacional, deveria pedir a renúncia de imediato e não se licenciar. Nuzman, que está detido em presídio na zona norte do Rio devido a suspeita de atuar na compra de votos que elegeu o Rio sede da Olimpíada de 2016, também foi destituído de duas posições que ocupava no COI: membro honorário e integrante da comissão de coordenação para os Jogos de Tóquio-2020. A Operação "Unfair Play", da Polícia Federal, investiga o envolvimento de Nuzman como intermediário do esquema entre o empresário brasileiro Arthur Soares de Menezes e os senegaleses Lamine e Papa Massata Diack. Menezes fez depósitos de superiores a US$ 1,5 milhão aos africanos para supostamente comprar votos na campanha para a Olimpíada de 2016. Lamine foi presidente da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo) e membro do COI até 2015. Papa Massata, seu filho, trabalhou no marketing da IAAF. Ambos são vistos como influenciadores de votos de membros africanos do COI na eleição do Rio para sede dos Jogos de 2016. Além de Nuzman, foi também preso na quinta-feira Leonardo Gryner, que foi executivo do COB e diretor de operações do Comitê Organizador Rio-2016. Os policiais encontraram e-mails trocados entre Gryner e Papa Massata, nos quais eles falam em pagamento de valores. Leia abaixo a íntegra da carta de Carlos Artur Nuzman. "Prezados senhores membros, Não posso deixar o esporte olímpico brasileiro, seus dirigentes e, especialmente, os atletas, serem atingidos, por qualquer forma, pelos acontecimentos e investigações que me envolvem injustamente. Vou defender minha honra e provar minha inocência diante das autoridades constituídas, nomeadamente perante o Poder Judiciário. Vou defender minha honra e provar minha inocência diante dos desportistas do mundo inteiro. Vou defender minha honra e provar minha inocência diante daqueles que me acusam e de outros que se omitem. Vou defender minha honra e provar minha inocência aos dirigentes do esporte olímpico mundial, inclusive aqueles integrantes do Comitê Olímpico Internacional. Para exercer em sua plenitude o meu direito de defesa, até agora violado, afasto-me, a partir desta data, dos cargos de presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e de membro nato da Assembléia Geral do Comitê Olímpico Brasileiro. Afasto-me também do cargo de presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Meu afastamento perdurará pelo tempo que se fizer necessário para a minha completa, inquestionável, exoneração de qualquer responsabilidade pela prática dos atos que, indevida e injustamente me são imputados. Somente assim, entendo, poderei dedicar-me ao sagrado direito de defesa, trazendo a necessária tranquilidade para a correta administração do esporte olímpico brasileiro e, logicamente, não interferindo no aperfeiçoamento e desenvolvimento dos seus atletas. Cordialmente, Carlos Artur Nuzman" *
2017-07-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925277-carlos-arthur-nuzman-envia-carta-a-cupula-do-cob-se-licencia-e-abre-caminho-para-renuncia.shtml
Cineastas Laurent Cantet e Paul Vecchiali virão para Mostra de SP
O diretor Laurent Cantet, de "Entre os Muros da Escola" e "Retorno a Ítaca, é um dos convidados da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontecerá entre os dias 19 de outubro a 1º de novembro, com exibições em diversos pontos da cidade. O anúncio foi feito neste sábado (7) durante entrevista coletiva com os organizadores da exposição. Ele estará presente justamente no último dia do evento, quando seu filme "L'Atelier", que estreou no festival de Cannes deste ano, encerra a programação. Outra presença confirmada é a do artista chinês Ai Weiwei, que volta a São Paulo, no dia 18 de outubro, no Auditório Ibirapuera para a abertura do evento. Ele vai apresentar as sessões de seu filme "Human Flow - Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir", sobre refugiados. Uma das vozes mais críticas ao governo chinês, Weiwei esteve em São Paulo, em agosto para conhecer a Oca, que vai abrigar sua exposição. A 41ª Mostra ainda homenageia o diretor Paul Vecchiali, que também deverá vir a São Paulo e receberá o prêmio Leon Cakoff. "Quando ficamos sabendo que ele estava disposto a vir, fomos atrás da retrospectiva de filmes. Não foi fácil, porque ele tem uma produtora própria, e alguns filmes tivemos que ir caçando", disse Renata de Almeida, organizadora da Mostra. O evento neste ano terá 394 títulos em exibição, 94 a mais do que o previsto inicialmente pela organização. "Podemos dizer que foi um descontrole, mas foi um descontrole bom", afirmou Almeida, de forma bem humorada. "Quando soubemos que os filmes de Agnès Varda [que será homenageada com o prêmio Humanidade] estavam restaurados e prontos, como resistir e não trazê-los para a Mostra?", questiona a organizadora. Serão exibidos na Mostra 11 longas de Varda, incluindo "Faces Places", realizado em codireção com o fotógrafo e muralista JR. Vencedor da Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes, "The Square", de Ruben Östlund, integra a programação, assim como;" 24 Frames", último longa de Abbas Kiarostami (1940-2016), "O Outro Lado da Esperança", de Aki Kaurismaki e "Loveless", de Andrey Zvyagintsev. Outro destaque é um projeto de ficção de Walter Salles, o primeiro gravado em Mariana (MG) após o rompimento da represa, há dois anos. A Mostra também exibirá um filme inédito do diretor Jean-Luc Goddard, feito para TV. O longa faz parte de uma série de obras suíças, que também incluem sete títulos de Alain Tanner. POLÊMICAS Durante a entrevista deste sábado, as polêmicas do Queermuseu, que teve sua exposição cancelada no Rio Grande do Sul após ser acusado de incentivar a pedofilia, e do MAM, em São Paulo, criticado após um ator nu interagir com espectadores de uma peça, incluindo uma criança, foram lembradas. Sem dizer a quais episódios se referia, Claudiney Ferreira, gestor de audiovisual e cultura do Itaú, um dos patrocinadores da Mostra, afirmou que se vive "em uma época de criminalização artística por parte de grupos que não tem projetos culturais." As polêmicas voltaram à entrevista quando a organização da Mostra disse que vai exibir o longa "O Homem Nu", de Roberto Santos, no vão livre do Masp. Completam a programação das exibições no Masp títulos em homenagem ao ator Paulo José, que também receberá o prêmio Leon Cakoff, e a Leon Hirszman. "O Homem Mosca", de Fred C. Newmeyer e Sam Taylor, será projetado na área externa do auditório do Ibirapuera, com acompanhamento da Orquestra Jazz Sinfônica. Outra novidade deste ano são curtas-metragens exibidos em realidade virtual. Nesta edição, o Prêmio Petrobras de Cinema vai apoiar a distribuição de dois longas brasileiros, com R$ 100 mil para o melhor documentário e R$ 200 mil para a melhor ficção. E, em parceria com a Folha e com o Itaú Cultural, a Mostra realiza o primeiro Fórum Folha-Mostra, que promoverá debates sobre o cinema.
2017-07-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925284-cineastas-laurent-cantet-e-paul-vecchiali-virao-para-mostra-de-sp.shtml
Como a última ditadura europeia virou um centro de produção tecnológica
Nas noites de sexta-feira a rua Zybitskaya –ou simplesmente Zyba, como os frequentadores a chamam– vira uma grande festa, cheia de hipsters de camisa colorida, jeans justos e escuros e óculos de aro preto, mostrando como sabem se divertir em um país descrito como a última ditadura da Europa. Nos últimos anos, Zyba se converteu em uma ilha no meio de Minsk, a capital de Belarus –uma capital que ainda é, em sua maior parte, uma cidade estéril e totalmente fora de moda, com longas fileiras de edifícios severos de estilo soviético e pessoas que passam ao lado às pressas, dando a impressão de que morrem de medo de qualquer forma de contato. Mas na Zyba, uma multidão de jovens animados migra de um barzinho a outro, tomando Coca e uísque Jack Daniels e fumando sem parar. Muitos dos que se divertem ali trabalham na crescente indústria tecnológica de Belarus –designers de softwares, jovens, descolados e progressistas, engenheiros tímidos e nerds e muitos outros que aspiram fazer parte do cenário. Hoje mais de 30 mil especialistas em tecnologia trabalham em Minsk, cidade de cerca de 2 milhões de habitantes. Muitos deles criam aplicativos para celulares que são usados por mais de 1 bilhão de pessoas em 193 países, segundo o governo local. Um dos tecnólogos de Minsk é o artista Dmitry Kovalyov, 35, que dois anos atrás estava trabalhando com o MSQRD, uma ferramenta de smartphone com a qual as pessoas podem sobrepor várias máscaras a seu rosto em selfies. Em 2016, Kovalyov não poderia imaginar que seu respeito pelo trabalho de Leonardo DiCaprio como ator e ativista ambiental pudesse ter alguma valia para a empresa. Mas, antes da entrega dos Oscar desse ano, Kovalyov e seus colegas desenvolveram uma ferramenta para uma máscara que faz as pessoas em mensagens de vídeo parecerem DiCaprio segurando duas estatuetas de Oscar. Várias celebridades experimentaram a ferramenta, também quando estavam no tapete vermelho, e até mesmo a mãe de DiCaprio entrou na onda. Quando um jornalista lhe perguntou sobre o aplicativo, ela disse que seu filho já lhe mostrara como funcionava. "Gosto do que Leonardo faz, de como ele atua e como procura preservar o planeta", falou Kovalyov recentemente a respeito do ator, que acabou recebendo o Oscar de melhor ator no ano passado. "Eu estava torcendo por ele." Dez dias após a entrega dos Oscar, o Facebook comprou a empresa por um valor não revelado. Os fundadores, cuja média de idade era 25 anos na época, se mudaram para Londres e os EUA. Juntamente com alguns de seus colegas, Kovalyov agora está desenvolvendo uma nova start-up em Minsk, a AR Squad, que cria conteúdos de realidade aumentada. Uma das primeiras máscaras que a outra empresa desenvolveu lembrava o presidente bielorrusso, Alexander G. Lukashenko, que governa o país há mais de duas décadas. Lukashenko costuma fazer gestos para ganhar publicidade, como colher batatas em sua fazenda ou levar seu filho adolescente, Nikolai, chamado comumente de Kolya, para acompanhar reuniões internacionais usando uniforme militar. A máscara de Lukashenko tinha bigode farto e o cabelos penteados de lado para cobrir a calvície, duas características do presidente, mas não era considerada ofensiva. Pelo contrário: Lukashenko começou a acreditar que a indústria tecnológica poderia tornar-se uma varinha de condão que o ajudaria a acabar com a crônica dependência bielorrussa da Rússia. "A criação de um Estado de tecnologia informatizada é nossa meta ambiciosa, mas alcançável", disse o presidente num encontro de parlamentares e burocratas este ano. "Com isso poderemos tornar Belarus ainda mais moderna e próspera, para que a população possa encarar o futuro com confiança." Lukashenko, que no passado chegou a descrever a internet como "um monte de lixo", começou a proferir palavras que soavam improváveis, vindas de um antigo administrador de uma fazenda coletiva –falando da necessidade de desenvolver a inteligência artificial, carros sem motorista e tecnologia de "blockchain", com a qual empresas e pessoas diversas podem conservar arquivos digitais compartilhados. Seu governo vem tomando várias medidas para incentivar o desenvolvimento da indústria de tecnologia, como deixar de exigir visto de entrada para os cidadãos de 79 países, incluindo todos os países ocidentais, quando ingressam pelo aeroporto de Minsk. Lukashenko também quer eliminar as restrições às transferências monetárias internacionais, para incentivar o financiamento de startups. Belarus produz talento tecnológico de alto nível, uma herança de seu passado soviético, disse Arkady M. Dobkin, que emigrou para os Estados Unidos na década de 1990 e criou uma empresa de software nesse país. Hoje Dobkin é executivo-chefe da EPAM, que faz programação para as maiores empresas mundiais de tecnologia e é vista como uma das empresas públicas de tecnologia que mais cresce no mundo. A EPAM tem sua sede em Newton, Pensilvânia, mas seu principal centro de desenvolvimento se localiza em Minsk, onde trabalham mais de 6.000 de seus especialistas em tecnologia. "Acho que foi a ausência de petróleo que levou Belarus a tomar essa iniciativa", comentou Dobkin, 57. "Aqui as universidades produzem mais especialistas altamente qualificados do que o mercado interno consegue absorver." Muitos bielorrussos dizem que a conversa do governo sobre desenvolver um centro tecnológico serve para desviar a atenção da população, em um país ainda fortemente dependente da Rússia para combustível a preços baixos e apoio político. O economista e ex-funcionário governamental Sergei Chaly descreve Belarus como "um país que está morrendo e funciona com bitcoins". Vladimir Lipkovich, blogueiro popular que ficou conhecido por ridicularizar burocratas bielorrussos, disse que a única razão por que o setor tecnológico conquistou alguma presença no país é que o governo "não tem como apreender os cérebros das pessoas". Ele explicou, brincando: "Se quisessem capturar uma empresa de tecnologia, o que conseguiriam? Computadores?"
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925304-como-a-ultima-ditadura-europeia-virou-um-centro-de-producao-tecnologica.shtml
Cármen Lúcia rechaça intervenção e diz que Judiciário cumpre seu papel
A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, rechaçou a ideia de que o fantasma da intervenção militar esteja à espreita diante de um Judiciário incapaz de lidar com a corrupção da classe política. A ministra foi questionada neste sábado (7), no Festival Piauí GloboNews de Jornalismo, sobre a fala de Antonio Hamilton Mourão. Em setembro, o general da ativa no Exército apontou a tomada do poder como saída possível para a avalanche de denúncias que soterra Brasília, isso se o Judiciário "não solucionar o problema político". Em palestra promovida pela maçonaria em Brasília, Mourão disse que a causa não era só dele: tinha simpatia de "companheiros do Alto Comando do Exército". A declaração sem dúvida "é grave", ainda que exposta "teoricamente para um pequeno grupo", disse aquela à frente da mais alta corte do país. Mas, para Cármen Lúcia, o Judiciário está, sim, "cumprindo seu papel". Fora que "não há justiça sem democracia, e o brasileiro não aguenta mais ser injustiçado", continuou a ministra. SEDE DEMOCRÁTICA Disse ver demonstração dessa sede democrática em todos os lugares que vai, "desde a sala de aula, onde tenho alunos de 22 anos, até pessoas muito mais velhas com as quais eu convivo e que já experimentaram períodos ditatoriais no Brasil". O país, para ela, hoje vive "um momento de responsabilidade, serenidade e certeza". Se o Judiciário dá conta do recado, o que dizer do Executivo –estaria o governo Michel Temer respondendo "frouxamente" à prosa militarista de Mourão? A ministra preferiu se esquivar da pergunta feita pela repórter da "Piauí" Consuelo Dieguez, que mediou o bate-papo. "Sou presidente [do STF], já tenho problemas de sobra para me meter [em outro Poder]", disse em tom bem-humorado. Não foi o único atalho diplomático que pegou para se desviar de indagações espinhosas sobre assuntos que fervem no noticiário nacional, das suspeitas sobre a negociação entre a Procuradoria-Geral da República com os delatores da JBS até o controverso afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) pelo Supremo. INCÊNDIOS Dieguez abriu a conversa com um trecho do perfil de Cármen Lúcia que escreveu para a edição de junho da revista. "Desde que assumiu o comando da mais alta corte de Justiça do país, em setembro do ano passado, ela não tem feito outra coisa senão apagar incêndios. A maioria deles provocada pelos ocupantes dos prédios do outro lado da praça: o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto", relatou então. A jornalista reconheceu que o texto já caducou, pois novas chamas beiram a presidência de Cármen Lúcia. Mourão foi um dos focos de incêndio. Outro: o colega no STF Gilmar Mendes, colecionador de polêmicas. Uma das mais vistosas se deu quando o magistrado concedeu habeas corpus a Jacob Barata Filho, conhecido como "rei do ônibus" e atual investigado por suspeita de corrupção no Rio. Barato Filho fora preso em desdobramento da Operação Lava Jato. O homem que mandou soltá-lo não era exatamente um estranho. Segundo a Procuradoria, Mendes foi padrinho de casamento da filha do investigado –uma festa no Copacabana Palace, em 2013, que entrou na mira de manifestantes, que se aglomeraram na frente do hotel e da igreja, munidos de cartazes onde se lia "dona Baratinha" e "pego ônibus lotado, me dá um bem casado!". Cármen Lúcia afirmou que cabe a cada magistrado se declarar suspeito ou não para julgar um caso, sempre "um dado subjetivo". CASO PESSOAL Deu um exemplo pessoal: muito antes de ela entrar no Supremo, seu pai processou um banco "no qual tinha uma pequena conta", por acreditar que tinha "direito à correção [monetária]", na época dos planos econômicos falidos. Já ministra do STF, o tema chegou ao plenário. Ela preferiu não julgar o caso. "Se eu votasse contra os poupadores, iam dizer que foi só para mostrar independência. Se votasse a favor, iam dizer: 'Ah, mas o pai dela tem ação'." Mesmo quando o pai, já velhinho, disse que renunciaria ao processo só para a filha poder julgá-lo, ela manteve a posição. "Ainda não expulsei a madre superiora de dentro de mim –e fui muito criticada [por ficar de fora mesmo com a renúncia do pai]. 'Bobagem, não está querendo julgar'." "O cidadão brasileiro tem que ir dormir sem ter que desconfiar sequer do que o juiz está fazendo. Por isso me declarei suspeita", afirmou à plateia. Há, no entanto, certa ânsia em querer encontrar juízes "suspeitos" só quando suas decisões não agradam. Ela se disse preocupada com uma reação popular típica quando um ministro mandar soltar um preso, por exemplo –se isso acontece, aí é um alvoroço. "Mas, se houver manutenção [da prisão], não questionam." Ou seja: "Não está a se questionar a postura do ministro, mas o resultado. E não existe direito de resultado." E se hoje o alvo "é a pessoa que a gente não gosta, amanhã pode ser qualquer pessoa nesta sala", afirmou, para na sequência sair em defesa de um "direito objetivo e impessoal". Ela evitou ataques diretos a Gilmar Mendes, que "tem um estilo todo apropriado de falar, com a ênfase que lhe é própria". Só disse "a hora de tanta virulência" no país "será superada quanto melhores forem os exemplos daqueles servidores que ocupam" posições de destaque em órgãos "tão vistosos". FLEUMA A fleuma de Cármen Lúcia só foi abalada quando a mediadora leu uma pergunta da plateia que mencionava o caos no sistema penitenciário, em parte explicado pela inaptidão do Judiciário em conter o excesso de prisões provisórias. Como ela, "do conforto da sua poltrona", lidava com esse tipo de angústia que afeta diretamente o cidadão? "Vem, vem para o meu lugar", rebateu, lembrando que sua posição não era das mais fáceis. A Suprema Corte dos EUA, por exemplo, julga dezenas de casos por ano. O Supremo Tribunal brasileiro, dezenas de milhares. Citou Jesus Cristo e Carlos Drummond de Andrade para dizer que o Supremo, afinal, não é a cura para todos os males sociais. "Cristo fez dez mandamentos que até hoje não foram cumpridos, que dirá nós?", afirmou. O Decálogo, segundo a Bíblia, foi entregue por Deus em tábuas de pedra ao profeta Moisés. Já as palavras do poeta mineiro evocadas foram as dos poema "Nosso Tempo", recitado por Cármen Lúcia: "Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra".
2017-07-10
poder
null
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1925292-carmen-lucia-rechaca-intervencao-e-diz-que-judiciario-cumpre-seu-papel.shtml
Festival do Rio recebe 'As Boas Maneiras', filme brasileiro de lobisomem
Ao apresentar o filme "As Boas Maneiras", que fez sua estreia brasileira na noite de sexta (6), no Festival do Rio, a produtora Sara Silveira deu a dica: "Hoje é noite de lua cheia. Talvez vocês abram mais os olhos ao sair daqui." A atriz Betty Faria, que estava na sessão como espectadora, não teve tempo nem para isso. Gritou de medo já durante a sessão desse filme, dirigido pelos paulistas Juliana Rojas e Marco Dutra, dupla autoral que constantemente envereda pelos longas de gênero. Aqui, os cineastas contam uma história de lobisomem ambientada nas ruas de São Paulo usando referências dos filmes de horror dos anos 1940 produzidos pela Universal. Como é comum na obra dos dois diretores, o gênero é o meio para vocalizar questões de classe social, no caso entre a filha de um fazendeiro que se muda para a capital paulista e uma babá que mora na periferia. A produção franco-brasileira, que abriu a competição de longas brasileiros de ficção na mostra carioca, ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno, na Suíça. A portuguesa Isabél Zuaa ("Joaquim") interpreta Clara, uma enfermeira que vive "do outro lado" da marginal Pinheiros e aceita trabalhar de babá num apartamento "do lado de cá", onde mora Ana (Marjorie Estiano), caipira endinheirada que foi expulsa da fazenda de seu pai ao engravidar. No princípio, parece que estamos diante de uma típica obra de realismo social brasileiro: Clara aceita o emprego, mas se vê obrigada a se dobrar também nas funções de empregada doméstica e de pajear Ana carregando suas sacolas de compras em shoppings. Mas o sobrenatural brota logo: os chutes que o bebê dá na barriga da mãe são muito fortes, e nas noites de lua cheia, a patroa vira sonâmbula, vaga pela cidade sozinha e tem um apetite enorme por carne. Embora não seja um filme de sustos, uma das cenas, envolvendo um inocente gatinho, foi a que fez Betty Faria pular em sua cadeira. O longa muda de registro em sua segunda metade, quando abraça com mais força a história de lobisomem, no caso, de um lobisomem que está sujeito às contradições sociais do Brasil. Os elementos de terror, contudo, não amainam a ternura do retrato que o filme faz sobre maternidade. Junto do também diretor Caetano Gotardo e de outros nomes, Rojas e Dutra integram um coletivo de cineastas paulistas chamado Filmes do Caixote. Os dois, que dirigiram juntos "Trabalhar Cansa" (2011), também se desdobram em outras funções nos longas que cada um dirige, como "Quando Eu Era Vivo" (2014), de Dutra, e "Sinfonia da Necrópole" (2014), de Rojas. O jornalista GUILHERME GENESTRETI viaja a convite do Festival do Rio
2017-07-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925249-festival-do-rio-recebe-as-boas-maneiras-filme-brasileiro-de-lobisomem.shtml
Saiba quem são os 'anjinhos' mortos no incêndio criminoso em creche
Victor Hugo está calado. Com só quatro anos, "não sei se ele entende" o que está acontecendo, diz seu avô, Jovecino da Silva, 61. Por muito pouco, a criança não se somou às 50 vítimas do atentado em uma creche em Janaúba, no norte de Minas Gerais, provocado pelo vigia Damião Soares dos Santos, 50, que terminou com dez pessoas mortas. Uma delas, a irmã gêmea de Victor Hugo, Ana Clara Ferreira Silva. Ela estava na creche quando o guarda ateou o fogo e morreu na hora. Victor Hugo também poderia estar lá, mas faltou à aula naquele dia, "por um problema na vista", diz o pai, Nelson Silva de Jesus. Os gêmeos viviam brincando, diz o avô Jovecino, lavrador de Jacaré Grande, zona rural de Janaúba, que foi à cidade para se despedir da neta. O outro avô, o materno, Antonio Pereira da Silva, 56, também lembra da menina da mesma forma. "Eu levava os meninos para a creche de vez em quando, era uma festa. Não sei mais como vai ser, se vão continuar lá. Por que traz muita lembrança, né?", diz ele, que interrompe a conversa com a reportagem para atender à filha, Luana Ferreira, que chorava, desconsolada, sobre o caixão: "não deixa meu anjo ir", pedia. Nelson, pai das crianças, conta que estava em casa na manhã de quinta, a poucos quarteirões da creche, quando ouviu "uma barulheira, gente passando, depois sirene". Foi à rua ver o que era a movimentação e viu a fumaça que saía da creche, "um negócio horrível", afirmou, em voz baixa, ainda na madrugada de quinta para sexta, poucas horas após a tragédia —no dia seguinte, no enterro, não conseguiu falar. Outros dois filhos do casal também estavam na creche, mas passam bem, segundo a família. Na mesma tragédia estava Cecília, filha única de Adilson de Almeida Gonçalves, 25, que gostava tanto da creche que pedia para ir até nos fins de semana, conta o pai, que trabalha em uma distribuidora de bebidas. A menina passou os três primeiros anos de vida em Uberlândia e contava os dias para chegar as férias na fazenda dos avós em Janaúba. Cecília lutou até onde pôde contra as queimaduras, que atingiram a parte de trás de seu corpo. Internada em Montes Claros, chegou a ser dada como morta, mas foi reanimada em seguida. Não resistiu e morreu de fato na sexta. "Desde o incêndio, não a vimos acordada. Fomos visitá-la no hospital hoje e parecia que ela respirava melhor. A tarde, Deus a levou. Ele sabe o que faz", diz Adilson, que é evangélico. Junto dela, chegou a Janaúba na noite desta sexta o corpo de Yasmin Medeiros Sabino, que teve 90% do corpo queimado e também era tratada em Montes Claros. "Ela fazia tudo o que uma criança faz. Corria, brincava, apanhava, batia, respondia, atentava, conversava. Mas conversava!", diz Roberta Moreira, 37, prima da menina Yasmin, que foi criada sem pai, deixou mais silenciosa a rua onde vivia com os três irmãos mais velhos e a mãe. Bicicleta e futebol eram os passatempos prediletos de Ruan Miguel Soares Silva, também de quatro anos —como todas as crianças que morreram—, conta Paulo Soares, 41, trabalhador rural e tio do menino. "Eu vinha brincar com ele sempre que podia, ele adorava", diz. Filho único, o menino vai deixar "um vazio, um silêncio na casa agora, vamos ver como vão fazer", diz Soares. "A família é toda simples, somos trabalhadores rurais, a gente trabalha com o que tem. Todo mundo aqui, faz o que dá. Como pedreiro, na roça, ajudando os outros. Aí vem um negócio desses, o que a gente faz? Um anjinho desses, como podem fazer isso? Um psicopata...", desabafa Soares no velório do sobrinho, a segunda das vítimas enterradas no cemitério São Judas. Quase xarás, Juan Pablo e Ruan Miguel eram amigos e costumavam brincar juntos, diz uma Gabriela Ferreira dos Santos, 32, que também mora na região e lembra ainda de outro homônimo, um ano mais velho que a dupla, internado em Montes Claros, com 30% do corpo queimado. "De cabelo lisinho, sorriso no rosto, mas com cara séria às vezes, perguntando as coisas, uma gracinha", diz ela, se referindo a Juan Pablo. Além deles, morreu também no atentado Luiz Davi Carlos Rodrigues, lembrado pela tia, a diarista Cristiane Rodrigues, 37, pela facilidade com que usava o celular dos mais velhos. "Pensar que nunca mais vai vou ver aquela criança, que fazia graça, mandava áudio no grupo do WhatsApp da família", diz ela. "Tirava foto e pedia para colocar filtro, carinha de animal", completa uma prima. Parte da família veio da capital, Belo Horizonte, para participar do velório, que, como no caso das outras vítimas, também foi feito na casa do menino, no bairro Barbosa, próximo à creche. Além dos pais, Luiz deixou ainda um irmão mais velho. No atentado, morreram ainda o menino Renan Nicolas dos Santos Silvas e a menina Talita Vitória Bispo, ambos de quatro anos. Talita Vitória Bispo se tratava no hospital João XIII, em Belo Horizonte, quando não resistiu e morreu na manhã deste sábado (7). "Era um doce de menina, esperta, sabida", diz o avô, Geovani José de Barros, 66, caminhoneiro –a menina se divertia quando ele a levava para passear em seu caminhão, conta. "A gente nunca espera que uma coisa dessas vai acontecer. Achei que ela estava melhor, mas aí, hoje, recebo essa notícia", diz. Os pais da menina, ajudante de pedreiro e dona de casa, estão na capital. A menina deixa ainda uma irmã.
2017-07-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925256-saiba-quem-sao-os-anjinhos-mortos-no-incendio-criminoso-em-creche.shtml
Morre mais uma criança, e vítimas de fogo em creche de MG chegam a dez
Morreu na manhã deste sábado (7) a décima vítima do ataque incendiário registrado na última quinta-feira (5) em uma creche municipal de Janaúba, no norte de Minas Gerais. De acordo com o Corpo de Bombeiros, Talita Vitória Bispo, de 4 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu hoje no hospital João 23, em Belo Horizonte. Ela havia sido transferida à unidade hospitalar mais cedo, às 5h, da Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros, a cerca de 130 km de Janaúba. Com Talita, já são dez os mortos na tragédia —entre os quais, o autor do ataque, o segurança Damião Soares dos Santos, 50, e a professora Heley de Abreu Silva Batista, 43, que tentou contê-lo e salvar os alunos no momento do crime. Além de Talita, a Santa Casa de Montes Claros transferiu para o João 23, nas últimas horas —às 23h30 desse sábado (6)—, também o paciente Mateus Felipe Rocha Santos, de 5 anos. Outros nove pacientes seguem internados na Santa Casa, entre os quais, duas adultas, de 23 anos e 51 anos, que respiram com ajuda de aparelhos. Sete crianças com idades entre 3 e 6 anos estão com quadro estável. Também neste sábado 16 crianças vítimas do ataque incendiário tiveram alta da Fundação Hospitalar da cidade e do Hospital Universitário de Montes Claros. Mais 22 pessoas, entre crianças e adultos, continuam internadas em hospitais de Minas. Ao todo, 14 crianças deixaram o hospital de Janaúba acompanhadas pelas mães e foram levadas para as casas por uma van da prefeitura. Em nota, a administração municipal informou que disponibilizou quatro unidades do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) para que, em regime de plantão, e também pelos próximos dias, elas prestem "acolhimento, assistência médica, psicológica e social" às vítimas e aos familiares. Outras duas crianças, de dois anos e um ano de idade, foram liberadas do HU de Montes Claros –onde três crianças seguem internadas; uma delas, com possibilidade de remoção ainda hoje para o hospital João XXIII, em Belo Horizonte. PREOCUPAÇÃO Em visita ao Hospital João 23, em Belo Horizonte, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano Chaves, afirmou que a maior preocupação dos médicos em relação às vítimas de incêndio em creche de Janaúba (MG) é com a queimadura de vias respiratórias.   "As queimaduras, além do comprometimento da superfície corporal, tem a gravidade do comprometimento pulmonar. A inalação da fumaça prejudica muito o prognóstico de saúde das crianças", disse. Segundo ele, o comprometimento das vias aéreas tem potencial mais grave. Três crianças de 2, 3 e 5 anos, tiveram queimaduras nas vias aéreas e foram transferidas na manhã desta sexta (6) do hospital João 23 para o hospital Odilon Behrens, ambos em BH. As crianças respiravam com a ajuda de aparelhos e o estado era considerado grave. Chaves informou que o banco de peles da Santa Casa de Porto Alegre tem peles suficientes para 15 crianças e que o material já está bloqueado para ser usado nas vítimas de Janaúba se necessário. A sociedade também ofereceu equipe médica de emergência para reforçar o atendimento no João 23, que é um hospital de referência para o tratamento de queimaduras na América Latina. Chaves foi ao hospital prestar solidariedade e apoio científico. "O que vimos no CTI é uma cena muito triste, são crianças que estão todas entubadas, é um quadro realmente grave." DOAÇÃO O hospital João 23 também recebeu nesta sexta uma doação de vinte caixas de curativos de biocelulose para queimaduras. Cada caixa contém 12 películas de 16 cm por 21 cm, quantidade que pode atender as dez pessoas internadas atualmente no hospital –oito são crianças. Segundo a enfermeira Ludmila Ramalho, a empresa responsável pela fabricação dos curativos, chamados de Nexfill, ofereceu a doação ao hospital, que aceitou prontamente. Os curativos são finos como uma folha de seda, são transparentes e de uso único, não é preciso trocá-lo constantemente.
2017-07-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925250-morre-mais-uma-crianca-e-vitimas-de-fogo-em-creche-de-mg-chegam-a-dez.shtml
Partes do corpo de jornalista morta em submarino na Dinamarca são achadas
A polícia dinamarquesa anunciou neste sábado (7) a descoberta da cabeça e das pernas da jornalista sueca Kim Wall. Ela desapareceu em 10 de agosto a bordo de um submarino projetado por um inventor, Peter Madsen. Ela embarcou no submarino para fazer uma entrevista com Madsen, e depois disso não foi mais vista com vida. Mergulhadores encontraram os membros na sexta-feira (6) na baía de Køge, cerca de 50 km ao sul de Copenhague, informou o inspetor Jens Moller Jensen. "Na noite passada, nosso legista confirmou que se trata da cabeça de Kim Wall", declarou. Segundo ele, um primeiro saco foi encontrado com as roupas da repórter de 30 anos. "No mesmo saco havia uma faca e tubos de chumbo para fazer peso", explicou. As duas pernas foram encontradas pouco depois, bem como "uma cabeça que também estava num saco, com várias peças de metal". Em 21 de agosto o torso de Kim Wall, cujos membros foram "deliberadamente seccionados", segundo a necropsia, foi encontrado na baía de Køge, onze dias após o desaparecimento da jornalista. 'NENHUM SINAL DE FRATURA' O inspetor Jensen ressaltou que não foram encontrados "qualquer sinal de fratura no crânio nem qualquer outro sinal de violência brutal no crânio". Detido desde 11 de agosto e indiciado por assassinato e atentado à integridade de um cadáver, Peter Madsen, de 46 anos e casado, se diz inocente apesar de todas as evidências. Kim Wall era uma jornalista freelancer que trabalhava entre Nova York e a China. Ela embarcou em 10 de agosto no submarino Nautilus, ao lado do inventor Peter Madsen, para fazer uma reportagem. Seu namorado denunciou o desaparecimento em 11 de agosto. No mesmo dia, Madsen foi resgatado pelas autoridades dinamarquesas em Öresund, entre a costa da Dinamarca e da Suécia, antes do naufrágio do submarino. A polícia acredita que o inventor provocou o naufrágio do Nautilus de modo deliberado. A embarcação foi erguida à superfície e examinada pela perícia. Em um primeiro momento, Madsen afirmou que a jornalista havia desembarcado na ilha de Refshaleoen, em Copenhague, na noite de 10 de agosto. Depois de ser detido, ele mudou sua versão e afirmou que Wall havia falecido em um "acidente" e que ele jogou o corpo no mar, na baía de Køge. Segundo esta versão, ele subiu na ponte, segurando a porta da escotilha de acesso à torre em que Kim Wall estava de pé. Ao escorregar de repente, ele soltou a escotilha de 70 kg que caiu na cabeça da jovem. De acordo com seu relato, o corpo do jornalista estava intacto quando o jogou no mar. A acusação alega que Madsen matou Kim Wall para satisfazer uma fantasia sexual, depois desmembrou e mutilou seu corpo. A necrópsia do torso não estabeleceu as causas da morte. Por outro lado, revelou mutilações múltiplas infligidas na genitália da vítima. MULHERES DECAPITADAS Filmes "fetichistas" em que mulheres "reais" eram torturadas, decapitadas e queimadas foram encontrados em um disco rígido em seu estúdio, segundo anunciou na terça-feira a Procuradoria dinamarquesa. "Este disco rígido não me pertence", reagiu Peter Madsen, sugerindo que muitas pessoas tinham acesso ao estúdio. Ele assegurou que não houve relações sexuais entre eles e que seus contatos foram puramente profissionais. Madsen foi acusado em um primeiro momento de homicídio por negligência, antes de ter a acusação reclassificada no dia 5 de setembro para assassinato e ataque à integridade de um cadáver. A jornalista colaborou com o "Guardian" e o "New York Times" e era graduada pela Escola Superior de Jornalismo da Universidade de Columbia. O Nautilus foi inaugurado em 2008. Com 18 metros de extensão, era naquele momento o maior submarino privado do mundo.
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925241-partes-do-corpo-jornalista-morta-em-submarino-na-dinamarca-sao-achadas.shtml
A partir de uma peça de roupa, ela despertou uma discussão sobre assédio sexual no Caribe
Ronelle King estava, conforme ela mesma diz, "a ponto de explodir" em 2016. Escutava comentários maliciosos masculinos quase todas as manhãs, no trajeto ao trabalho. Chegou a ser puxada para dentro de um carro por um homem que queria "lhe dar uma carona", mas escapou ao sair correndo. Denunciou o ocorrido à polícia, que fez pouco caso. Trocou o ônibus pelo táxi para se sentir mais segura. As experiências "aterrorizantes" levaram a jovem de 25 anos, natural da ilha de Barbados, no Caribe, a pensar: como lidar com essas angústias, conectar-se com outras vítimas e, ao mesmo tempo, mostrar aos homens como esses comportamentos impactam as mulheres? King decidiu criar, com a ajuda de uma amiga, a hashtag #LifeinLeggings ("a vida usando calças leggings", em tradução livre), para relatar online a violência sofrida por ela própria –e convidar outras mulheres a fazer o mesmo. A iniciativa acabou dando origem a um dos maiores movimentos femininos recentes do Caribe, que se espalhou por 11 países da região, mobilizou homens e mulheres em protestos populares e tem gerado pressão por mudanças na legislação local. 'SEQUER PERCEBEM QUE É ASSÉDIO' "Mulheres caribenhas são vistas mais como propriedade (masculina) do que como seres autônomos, e os homens nem sequer percebem que se trata de assédio. É algo invasivo a ponto de se tornar assustador", explica King à BBC Brasil em São Paulo, onde a barbadiana participou do Colóquio de Direitos Humanos da ONG Conectas. "Quis criar uma plataforma onde as mulheres pudessem falar de suas experiências e mostrar que não se trata de casos isolados." O nome, Life in Leggings, foi escolhido por se tratar de "uma peça de roupa usada por todos os tipos de mulheres, de crianças a mulheres mais velhas –todos os espectros que são vítimas de abuso". Além disso, essas calças são populares no Caribe. Só que, por serem justas, são comumente vistas como "sedutoras". "Queríamos desmistificar a ideia de que a roupa é parte do motivo pelo qual uma mulher é assediada ou estuprada", explica King. "Às vezes mudamos nossas rotas para evitar os homens, e não funciona. Às vezes trocamos de roupa, e não funciona. O assédio continua. Às vezes eu sorria e declinava educadamente (os convites de assediadores), mas o efeito era reverso, porque eles se sentiam encorajados. Chega a um ponto em que as mulheres simplesmente se frustram com isso. Quando a sociedade normaliza o assédio e culpa as mulheres por ele por conta da roupa que ela usa, esse assédio escalona." DEBATE AMPLIFICADO A iniciativa caribenha se assemelha à promovida no Brasil em 2015, quando centenas de mulheres compartilharam online histórias com a hashtag #meuprimeiroassédio. O tema volta à tona em um momento em que ocorrem no país diversos casos de assédio e abuso sexual no transporte coletivo brasileiro. E, assim como no Brasil, o compartilhamento de histórias online rapidamente viralizou no Caribe, com milhares de participações via Facebook, Twitter e Tumblr. Segundo King, no primeiro dia de uso da hashtag, abriu-se uma discussão nacional sobre o tema em Barbados. No dia seguinte, a discussão chegou a Trinidad e Tobago. No terceiro dia, à Jamaica e a outras ilhas caribenhas. Todos são países com altas taxas de violência contra a mulher. Segundo dados da ONU, Bahamas, Jamaica e Barbados estão entre os dez países do mundo com mais registros de estupro. Uma pesquisa realizada em Barbados para a Unicef em 2014 identificou que, para 76% das pessoas entrevistadas, a violência doméstica era "um grande problema", e 36% delas disseram conhecer alguém próximo "que vivenciou violência doméstica por parte de um parceiro". De volta ao Life in Leggings, um dos passos seguintes foi organizar, já em 2017, manifestações pelos direitos femininos nas ruas de sete ilhas caribenhas. King conta que um dos aspectos mais interessantes das manifestações online e presenciais foi a participação masculina. "A grande maioria deles reagiu dizendo que não percebia que era essa a realidade das mulheres, entenderam o nível de medo a que as mulheres são submetidas e pensaram nas mulheres de sua vida e em seu papel para erradicar essa cultura e na forma como podem estar perpetrando ela", comemora. Para a ativista, isso é crucial para provocar mudanças reais: "Até então, o foco do debate não eram os abusadores, mas sim (o comportamento das) mulheres". LEGISLAÇÃO O movimento se converteu em organização –Life in Leggins Aliança Caribenha Contra a Violência de Gênero–, e King tem voltado seus esforços para mudanças legislativas em Barbados: ela defende uma emenda na lei de informática do país para definir e punir o assédio virtual e a "pornografia de vingança", além da revisão de uma lei contra o assédio sexual no ambiente de trabalho. Essa última é esperada para o fim deste ano. Atualmente, segundo King, o assédio é tratado como um pequeno delito e, portanto, "não é levado a sério". "É uma lei pendente há 15 anos. Já ouvimos antes essa promessa [de endurecimento da lei], mas agora estamos mais esperançosas", diz King. King diz que nunca recebeu ameaças por causa de seu ativismo, mas já ouviu críticas masculinas "de que eu e todas as mulheres que compartilhamos nossas histórias estávamos mentindo e atrás de atenção. Mas a maioria das pessoas os ignoraram, porque as estatísticas (de abuso) não mentem". A experiência do compartilhamento, segundo ela, fez as mulheres perceberem "que não estavam sozinhas e que o problema não estava nelas". "Criou-se um sentimento de solidariedade. Foi algo poderoso, porque no Caribe não se costuma falar de estupro. Costumamos esconder sob o tapete, porque são países tão pequenos que [falar a respeito] é visto como algo que causa vergonha às famílias."
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925285-a-partir-de-uma-peca-de-roupa-ela-despertou-uma-discussao-sobre-assedio-sexual-no-caribe.shtml
'Febre' de checagem é resposta a realidade contemporânea, diz jornalista francês
A "febre" de checagem de informação no jornalismo "é uma resposta à retórica política" polarizada e à realidade contemporânea em que "a informação é ampla, mas de qualidade variável". A afirmação é do jornalista francês Samuel Laurent, ao abrir neste sábado pela manhã o 4.o Festival Piauí GloboNews de Jornalismo, em São Paulo. Ele foi um dos protagonistas do esforço de combate às notícias falsas durante a campanha presidencial francesa, em ação conjunta de veículos e das grandes plataformas de tecnologia. Laurent é o responsável pela seção Les Décodeurs (os decodificadores), que cuida de "verificações, contexto, dados" no jornal "Le Monde". Além de detalhar o trabalho relativo à eleição, em especial no último e controverso debate, ele abordou o esforço do jornal para ampliar a própria transparência, com projeto de "educação para a informação". À tarde fala o repórter de política da revista semanal "The New Yorker", Ryan Lizza, entrevistado aqui ao lado de David Fahrenthold, repórter do "Washington Post", que fala amanhã. Na noite deste sábado, a partir das 20h, participa também o diretor da faculdade de jornalismo da Universidade Columbia, de Nova York, Steve Coll, entrevistado aqui. FESTIVAL PIAUÍ GLOBONEWS DE JORNALISMO QUANDO sáb., até 21h20, e dom., das 10h às 19h20 ONDE Colégio Dante Alighieri - al. Jaú, 1.061, São Paulo QUANTO de R$ 250 a R$ 750 MAIS INFORMAÇÕES piaui.folha.uol.com.br/festival-piaui
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925260-febre-de-checagem-e-resposta-a-realidade-contemporanea-diz-jornalista-frances.shtml
Carro atropela pedestres em calçada de Londres; polícia descarta terrorismo
Uma pessoa foi presa após seu carro invadir a calçada e atingir vários pedestres próximo ao Museu de História Natural em Londres, no Reino Unido, neste sábado (6). O museu é um dos mais populares da capital britânica. A Polícia Metropolitana descartou no Twitter que se tratasse de um incidente de terrorismo e afirmou que foi uma colisão de trânsito. O episódio lembra alguns casos recentes de ataques terroristas em cidades europeias. Onze pessoas ficaram feridas, sendo que nove precisaram de atendimento hospitalar, de acordo com o Serviço de Ambulâncias de Londres. A maioria teve ferimentos nas pernas e na cabeça. . "Investigações para estabelecer as circunstâncias e motivos estão sendo realizadas", informou a polícia ao "Daily Mail". O incidente ocorreu na Exhibition Road, no bairro de South Kensington, às 14h20 (horário local). Ficam também na região os museus Victoria and Albert e Science Museum. "Enquanto esperávamos pelo semáforo, ouvimos o que parecia ser tiros e vimos um carro subindo na calçada. Nós corremos. Quando a situação acalmou, voltamos para onde estávamos e vimos um homem no chão sendo imobilizado pela polícia", disse uma testemunha à BBC. "Ouvimos um barulho de baque horrível e um motor de carro. Todos começaram a correr e a gritar", contou outra testemunha. O museu informou no Twitter que está trabalhando em conjunto com a polícia. Um porta-voz disse à agência de notícias Reuters que a entrada ao museu foi encerrada e que todos os presentes foram retirados por uma saída de emergência. ALERTA SEVERO O alerta de segurança está em nível "severo" no Reino Unido, o segundo mais alto, após cinco ataques terroristas em seis meses e um saldo de 35 mortos. Em um desses ataques, em março de 2016, um motorista jogou o carro contra pedestres na ponte de Westminster, próximo ao Parlamento, em Londres. Quatro pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas. Em outro incidente similar, em junho deste ano, uma van foi jogada contra pedestres próximo à mesquita de Finsbury Park, em Londres, deixando um morto. Em dezembro de 2016, um homem jogou um caminhão contra um mercado de Natal em Berlim, na Alemanha, matando 12 pessoas e ferindo outras 58.
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925243-carro-invade-calcada-e-atropela-pedestres-em-londres.shtml
Do isolamento à perversidade, os últimos dias do vigia que incendiou creche em MG
Enquanto multidões comovidas acompanharam os velórios das primeiras vítimas do ataque de Janaúba, no norte de Minas Gerais, na sexta-feira, o corpo do vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, foi sepultado em uma cerimônia discreta, sem a presença de parentes, buscando ao máximo evitar a atenção —e a revolta— da cidade que passou a vê-lo como um monstro. Vizinhos, funcionários da creche e familiares agora se perguntam retrospectivamente quem era Damião, um homem que não chamava atenção, "proseava" com os moradores da vizinhança e vendia picolés, que ele mesmo fazia, para as crianças. O homem que planejou e levou a cabo o incêndio na creche Gente Inocente, na quinta-feira (5), era caçula entre os irmãos de uma família de sete mulheres e quatro homens e cresceu em uma família humilde, porém "muito unida, trabalhadora, de coração bom", diz sua irmã, Maria Alexandrina dos Reis Santos, de 59 anos. Na manhã de quinta-feira, Damião chegou à creche dizendo que ia entregar um atestado médico. Ao entrar, jogou combustível em si mesmo e em quem mais conseguiu alcançar, entre crianças e funcionários, e ateou fogo. De acordo com o delegado regional Bruno Fernandes, ele chegou a abraçar algumas crianças no meio das chamas. O ataque matou sete crianças de 4 a 6 anos e a professora Heley de Abreu Batista, de 43 anos, deixando a cidade de 72 mil moradores toda de luto. Damião chegou a ser levado para o hospital com queimaduras, mas também morreu, horas depois. Mais de 40 pessoas ficaram feridas, e algumas crianças ainda estão em estado grave devido à extensão das queimaduras. Os casos mais graves foram levados para hospitais em Montes Claros e Belo Horizonte. Damião era funcionário efetivo da prefeitura desde 2008 e, de acordo com o prefeito Carlos Isaildon Mendes, nunca apresentara qualquer problema. Ele estava afastado da creche desde julho, primeiro de férias, e depois alegando problemas médicos. ABALO Maria foi a única familiar a comparecer à funerária para lidar com o enterro do irmão, mas nem ela nem outros parentes foram ao sepultamento. "Estamos muito abalados. São duas dores que a gente tá sentindo. Por todas as crianças e famílias que estão sofrendo e pelo irmão. Nem velar ele podemos. Está tudo muito triste, doído", diz Maria. "Estou com o coração esbagaçado." Maria diz que o irmão vinha apresentando problemas "de cabeça" que começaram depois que o pai morreu, há três anos. "Ele falava que a gente estava envenenando as coisas dele. Ele saiu da casa da mamãe, foi morar sozinho. Uma pessoa que fez o que ele fez não está certo da cabeça, não. Um homem que teve a coragem de fazer o que ele fez, tirar a vida dele e de tantas criancinhas", diz a irmã. "Ele era uma pessoa boa, bem humilde, bem educado, um servidor honesto. O apelido dele na família era Dão. Agora fez um erro assim..." Damião foi enterrado no cemitério São Lucas, o mesmo que suas vítimas, mas em um horário que não coincidisse com os demais sepultamentos. A família ficou com medo de enterrá-lo —"as pessoas estavam falando que iam pegar o corpo dele e jogar no asfalto", diz Maria— e chegou a perguntar à funerária se seria possível uma cremação, mas não havia documentação de Damião para permitir o procedimento. "Quero pedir muitas muitas desculpas a todas as famílias. Só peço que as pessoas entendam que a família de Damião não é culpada. Está todo mundo muito abalado. Estamos orando, pedindo paz e harmonia para todas as famílias", diz. Nesses últimos três anos, Maria afirma que a família praticamente não teve contato com o Damião. Ele se isolou depois de sair da casa da mãe. Porém, reapareceu dias antes do ataque. Reaproximou-se da família, conheceu um sobrinho de 3 anos que nunca tinha visto e dormiu as duas últimas noites na casa da mãe. Reclamou que vinha vomitando muito e vomitou muito de manhã, conta a irmã. A família conversou com um psicólogo que veio atender outro parente e quis levá-lo para conhecer Damião —mas isso já foi na manhã do ataque. 'PREMEDITADO' Damião escolheu o aniversário de três anos de morte do pai para o incêndio na creche. De acordo com o delegado regional Bruno Fernandes, há outras evidências de que o ataque tenha sido "arquitetado, premeditado": a polícia encontrou galões de gasolina na casa de Damião, e dois dias antes do incêndio ele falou à família que iria morrer e que iria dar aquele "presente" aos parentes. Para o delegado, isso esvazia a teoria de que ele poderia ter tido um surto psiquiátrico. "Não foi um surto. Ele fez por perversidade", acredita Fernandes. "Por covardia, resolveu se autoimolar e levar junto quem tinha pela frente. E foi tudo premeditado, até a data escolhida. Foi uma forma que ele achou de chamar atenção." Mas o delegado diz não ter dúvidas de que Damião tinha um transtorno psiquiátrico. "Ele tinha uma síndrome de perseguição. Achava que as pessoas estavam perseguindo-o para matá-lo envenenado", diz. Em 2014, Damião procurou o Ministério Público Estadual, que o encaminhou para o Centro de Atenção Psicossocial de Janaúba (Caps). "Ele busca ajuda e a ajuda é oferecida, mas ele não quer. Ele resolve por si só se tornar um homem sozinho, solitário." De acordo com sua irmã, Damião nunca casou nem teve filhos. A casa de dois cômodos onde morou nos últimos anos era "totalmente insalubre e inóspita", diz o delegado. "Estava muito suja, parecia que ninguém morava lá havia muito tempo." GASOLINA EM GALÃO DE SORVETE Nas buscas realizadas em sua casa, os agentes da Polícia Civil encontraram anotações de Damião com textos confusos e pouco concatenados contendo referências ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Uma nota da Polícia Civil chegou a falar que o vigia era "obcecado por crianças". "Ele gostava muito de crianças. Fabricava picolé e vendia ou às vezes até dava para as crianças na rua", diz. O delegado acredita que foi num galão de sorvete, "desses grandes de dez litros", que Damião levou a gasolina na mochila para dentro da creche. O recipiente não está entre as provas coletadas pela polícia: derreteu após o fogo iniciado por Damião, que atingiu quatro salas adjacentes. A BBC Brasil obteve acesso às salas de aula e constatou a dimensão do estrago: brinquedos e livros carbonizados no chão, parede e pisos tingidos de negro pela fumaça, e o teto praticamente todo derretido, as tiras de PVC que antes formavam o forro caídas ou penduradas, retorcidas. Alguns chinelos e sapatinhos das crianças ainda se encontram espalhados pelo chão. A creche fica no bairro Rio Novo, na periferia de Janaúba, em uma rua de piso de chão. Após as cenas de caos e desespero durante o incêndio, a rua estava quieta no dia seguinte ao ataque. A maioria dos vizinhos conhecia Damião. "Era um homem normal, quieto, tinha amizade com todo mundo", relata uma moça que se identifica apenas como Juliana. "Todas as mães aqui da rua estão em choque, porque ele ficava aqui sentado na calçada e as crianças ficavam falando com ele. Nossos filhos conviviam com ele." Jucimar Pereira Franco, que mora em frente à creche, diz que Damião chegava mais cedo para começar o turno de vigia noturno e ficava conversando com os vizinhos. Na quinta-feira, ele foi um dos muitos que ajudaram no socorro. Entrou na creche no meio daquele "fumação preto" e conseguiu tirar duas crianças. "Quando peguei a segunda, parecia que não tinha mais nada segurando a pele dela", conta Jucimar, ainda em choque. "O que levou ele (Damião) a fazer isso? É uma coisa que a gente quebra a cabeça pra tentar entender."
2017-07-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925242-do-isolamento-a-perversidade-os-ultimos-dias-do-vigia-que-incendiou-creche-em-mg.shtml
Evento da Folha discute crise no financiamento da ciência
Nesta sexta (6) aconteceu em São Paulo, na sede do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), um debate sobre o impacto da crise de financiamento na pesquisa científica. O evento é resultado de parceria entre Cebrap e Folha, e foi mediado pelo repórter especial Marcelo Leite. Para um dos debatedores, o neurocientista Stevens Rehen, um dos problemas é a falta de porta-vozes da ciência que consigam de fato tocar as pessoas. Outro ponto é a grande burocracia de instituições brasileiras. Já para o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, uma das questões que ainda requerem resposta é como os cientistas devem justificar para a sociedade, que banca os gastos com pesquisa, a importância desse investimento. O vídeo completo do debate pode ser visto abaixo. vídeo do debate
2017-07-10
ciencia
null
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/10/1925248-evento-da-folha-discute-crise-no-financiamento-da-ciencia.shtml
Herdeira da Reforma Protestante, Igreja Luterana na Alemanha ordena mulheres e abre caminho para casamento gay
Há exatamente 500 anos, Martinho Lutero provocava o terremoto que abalou as estruturas da Igreja Católica e provocou a cisão do cristianismo. Cinco séculos depois, a herdeira direta da Reforma Protestante mostra que mantém vivo o espírito de mudança que inspirou o jovem monge. O fim do celibato, o perdão pela fé e a popularização da Bíblia fazem parte da doutrina luterana desde o rompimento com o Vaticano. Nas últimas décadas, porém, a Igreja Luterana da Alemanha (EKD) se abriu a temas atuais e aceitou reinvindicações que ainda são tabus em algumas esferas da sociedade. A primeira grande mudança ocorreu no fim da década de 1940, com a abertura para a ordenação de mulheres. Em 2015, as mulheres eram 33% dos ordenados. Embora aceitasse pastoras, o caminho foi longo até a nomeação da primeira bispa, que ocorreu somente em 1992. Atualmente, a igreja promove uma campanha de equiparação de gênero em todos os níveis da instituição. "A ordenação de mulheres é uma consequência da teologia do batismo de Lutero. Para ele, todo cristão batizado pode ser padre, bispo e até papa, então essa premissa é válida também para as mulheres", afirma Margot Käßmann, que assumiu o mais alto posto da EKD entre 2009 e 2010 e atualmente é a embaixadora da reforma. Além buscar a equiparação, em 2013, a EKD deu um passo importante para combater o preconceito contra homossexuais. Nesse ano, a instituição publicou novas diretrizes para o modelo familiar e passou a considerar uma família qualquer núcleo onde haja amor, deixando de lado o tradicional "pai e mãe casados com filhos" e aceitando parceiros do mesmo sexo. Ao justificar a mudança, a EKD lembrou que padrões tradicionais eram contestados há anos e essa luta havia alcançado mudanças sociais e legais que reconheceram a diversidade familiar e a igualdade de direitos entre os membros de diferentes constelações familiares. Diante desse reconhecimento, a igreja afirmou que também precisa se atualizar. A alteração das diretrizes ocorreu mesmo com a oposição das alas mais conservadoras dentro da EDK. Já no caso do casamento entre homossexuais, a aceitação religiosa veio bem antes da legal. Desde 2013, regionais da EKD começaram a aprovar e realizar o matrimônio homoafetivo. O Parlamento alemão, porém, só legalizou o casamento gay em junho deste ano. A primeira a oferecer a cerimônia de casamento para casais do mesmo sexo foi a regional de Hessen-Nassau, que compreende a região de Frankfurt. A iniciativa foi até agora seguida por outras quatro das 20 regionais no país. Em algumas das que ainda não aprovaram a mudança, é oferecida, no entanto, uma benção para casais homossexuais. A mudança nas diretrizes sobre a constituição familiar possibilitou ainda que a igreja pudesse aceitar também abertamente pastores homossexuais e seus parceiros. Käßmann afirmou que a discussão sobre a homossexualidade ocupou a igreja durante anos e, no fim, após a análise da Epístola aos Romanos - considerado por Lutero o evangelho mais importante do Novo Testamento -, chegou-se à conclusão que casais do mesmo sexo, que possuem relações baseadas na confiança, fidelidade e responsabilidade, não devem ser excluídos da bênção de Deus. "A igreja da Reforma precisa se transformar continuamente. Ela não é uma instituição imóvel, mas feita por pessoas e por isso pode aprender", ressaltou Käßmann. 500 ANOS DA REFORMA As transformações nas últimas décadas mostram que a instituição preserva o espírito de abertura ao questionamento de suas normas que impulsionou Lutero e a Reforma Protestante. Durante toda sua caminhada religiosa, iniciada em 1505, Lutero se dedicou a buscar a resposta para a questão sobre como a clemência de Deus seria alcançada. Numa viagem a Roma, o monge foi confrontado com comércio de indulgências realizado pela Igreja Católica, que enfrentava problemas financeiros e prometia até o regaste do purgatório para mortos cujos parentes comprassem o perdão. Ao encontrar na Bíblia uma resposta que contradizia esse comércio, o jovem monge tentou propor um debate sobre o tema. Lutero contestou a prática em 95 teses, que foram divulgadas em 31 de outubro de 1517. Originalmente escrita em latim, a publicação foi rapidamente traduzida para o alemão e distribuída em todo o território que atualmente faz parte da Alemanha, provocando uma revolução não somente dentro da igreja. "A Reforma significou o fim do sistema medieval. Como a religião também agia na sociedade, política, Estado de direito, economia e cultura, essas áreas sofreram mudanças drásticas", afirmou o historiador Armin Kohnle. "Em muitos campos, a Reforma significou um passo para a modernização da sociedade europeia", ressaltou. O professor da Universidade de Leipzig citou ainda como exemplo de impacto dessa contestação o aumento do nível educacional da população em locais onde a reforma ocorreu, com a criação de escolas e a modernização de universidades. O teólogo Volker Leppin acrescenta que a reforma impulsionou ainda a reflexão sobre a tolerância ao criar uma Europa multiconfessional. NA PORTA DA IGREJA Depois de 500 anos, ainda resta, porém, uma controvérsia sobre a Reforma. Alguns pesquisadores afirmam que as teses de Lutero não foram fixadas na porta da igreja de Todos os Santos em Wittenberg, como costuma ser contado. Para Kohnle, não há dúvidas de que as teses foram pregadas na porta da igreja, mas não há mais como saber se realmente foi Lutero quem o fez. Leppin afirma que o próprio Lutero noticiou que enviou primeiro as teses para o arcebispo de Mainz, em 31 de outubro de 1517. Dessa maneira, elas não teriam sido pregadas na porta da igreja no dia em que é celebrada a reforma. "O mais importante neste debate, porém, é o conteúdo das teses", concluiu o teólogo.
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1924996-herdeira-da-reforma-protestante-igreja-luterana-na-alemanha-ordena-mulheres-e-abre-caminho-para-casamento-gay.shtml
No centenário da Revolução, saiba onde encontrar sabores russos em SP
MAGÊ FLORES DE SÃO PAULO Uma cozinha de sustância, para dar combustível no frio, e sem desperdícios —cheia de conservas, para atravessar o inverno, e que bem aproveita os ingredientes. Por aqui, há nomes populares —estrogonofe e vodca, por exemplo. Mas há umas tantas desconhecidas, como kholodets, uma gelatina de carne (que lembra o mocotó) servida fria. "Muita coisa não conseguimos mais comer porque parece muito pesado, já que a comida é gordurosa, até pelo clima russo. Aqui, algo se perde ou é adaptado, para poder ser consumido na temperatura brasileira", diz Olga Vereski, filha de russos que vieram para cá nos anos 1940. Hoje, ela faz as receitas da avó e vende por encomenda sob o nome Nostrôvia - culinária russa. Símbolo da ainda baixa popularidade desses preparos é o fato de não termos aqui restaurantes russos. Mas é possível, sim, com pedidos, em barraquinhas de feira ou nas casas de culinárias vizinhas, provar sabores de lá. * PELMENI Como cappelletti de carne (de cordeiro, porco ou boi), redondo. Cozido em caldo, pode ser servido com ele, com manteiga ou creme azedo. Onde Nostrôvia (nostrovia.com.br ) Quanto R$ 45 + taxa de entrega (600 g) * KVASS O "refrigerante" russo. Bebida fermentada feita com pão de centeio. Pode ser mais escura, com notas tostadas, ou mais clara, com frutas, lembrando uma sidra. Onde na barraca da Gandras, na Feira do Leste Europeu (leia mais abaixo) Quanto R$ 8 (300 ml) ou R$ 15 (garrafa de 600 ml) * VARENIQUE Massa de farinha e ovos com recheio de purê de batata, fechada em meia lua, como pequenos pastéis. Por cima, vai cebola bem douradinha. Onde Nostrôvia (nostrovia.com.br ) Quanto R$ 40 + taxa de entrega (600 g) * BORSCH Sopa de beterraba (ingrediente muito presente nessa cozinha), quente ou fria. O caldo de músculo, legumes e temperos é coado e enriquecido com ela. Onde Polska 295 (r. Simão Álvares, 295, Pinheiros, tel. 3360-8090) Quanto R$ 8,50 * STROGANOV Os cubos de carne em molho de tomate e creme de leite, na Rússia, são servidos com batata e pão. Aqui, vêm com purê com gergelim e arroz de coco (uma adaptação local). Onde Maria Escaleira (r. Mourato Coelho, 53, Pinheiros, tel. 2364-91913) Quanto R$ 37,50 * PEPINO NA SALMOURA Lembram os picles, mas sem a acidez pungente do vinagre. Os pepinos, bem salgadinhos, são um petisco que acompanha bem a cerveja (ou a vodca). Onde Polska 295 (r. Simão Álvares, 295, Pinheiros, tel. 3360-8090) Quanto R$ 8 * FEIRA DO LESTE EUROPEU A Feira do Leste Europeu reúne, desde 2008, elementos da cultura de países da região, como Rússia, Bulgária, Lituânia e Polônia. Neste domingo (8), das 10h às 17h, comemora também o 90º aniversário da Vila Zelina. A entrada é gratuita, e os quitutes custam entre R$ 8 e R$ 20. Feira do Leste Europeu. R. Aracati Mirim, Jd. Avelino.
2017-07-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1924709-no-centenario-da-revolucao-saiba-onde-encontrar-sabores-russos-em-sp.shtml
Doria diz que Alberto Goldman é 'improdutivo, um fracassado' que sempre viveu 'na sombra'
O prefeito de São Paulo, João Doria, gravou neste sábado (7) um vídeo para responder às duras críticas feitas a ele pelo ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, que é vice-presidente do PSDB. Goldman postou nesta sexta-feira (6) um vídeo na internet dizendo que o prefeito "é político sim, mas dos piores políticos que nós já tivemos em São Paulo". A fala de Doria segue o tom do adversário. João Doria "Hoje, o meu bom recadinho vai para você, Alberto Goldman. Você que viveu a vida inteira na sombra. Na sombra de Orestes Quércia, na sombra de José Serra." Goldman foi vice de José Serra entre janeiro de 2007 e abril de 2010, quando assumiu o governo do Estado por oito meses. Doria segue dizendo que Goldman só teve derrotas políticas na vida "e agora vive de pijamas em sua casa" enquanto ele, Doria, vive "ao lado do povo, que me elegeu prefeito de São Paulo, que me acolhe". "Fique em casa com sua mediocridade", diz Doria. "Enquanto você dorme, eu trabalho, Alberto Goldman", finaliza o prefeito. "Ele [Goldman] chegou ao limite. Estava na hora de responder", disse Doria à Folha cerca de uma hora depois de publicado o vídeo com duras críticas ao ex-governador de São Paulo. Nesta manhã deste sábado, o prefeito de São Paulo participa da romaria fluvial que integra as festividades do Círio de Nazaré, em Belém. Ele, a primeira-dama, Bia Doria, e assessores estão no barco que reúne convidados da cantora Fafá de Belém. Em rede social, Goldman rebateu com outro vídeo, neste sábado. "Sou velho, mas não sou velhaco", escreveu. Veja (COLABOROU NAIEF HADDAD)
2017-07-10
colunas
monicabergamo
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/10/1925231-doria-diz-que-goldman-e-mediocre-e-sempre-viveu-a-sombra-de-politicos.shtml
Depois de disco erótico, Tom Zé lança álbum para crianças e faz show em SP
BRUNO MOLINERO DE SÃO PAULO No ano passado, Tom Zé resolveu comemorar o aniversário de 80 anos com o lançamento de um álbum novo: "Canções Eróticas de Ninar", que traz letras "safadas", cheias de masturbação, orgasmos e posições sexuais. Agora, chegando aos 81, o músico e compositor repete a dose –mas vai para o campo oposto e lança neste domingo (8) um disco infantil. "Sem Você Não A" tem dez faixas que formam juntas uma história sobre o alfabeto, em que o Silêncio acaba sequestrando a Curiosidade. Para libertá-la, exige: "Qual é a maior palavra do mundo?". "Há uma continuidade entre o disco anterior, que fala de pulsão vital, e este, em que o tema infantil remete à evolução da vida", diz Tom Zé. As letras são todas de Elifas Andreato, mais conhecido por ter ilustrado capas de discos célebres de Chico Buarque, Paulinho da Viola e outros nomes da MPB. O compositor baiano fez a música e coloca a sua identidade nos arranjos, misturando flautas, vocais e ritmos nordestinos. Em um disco que não é necessariamente novo. As canções foram feitas no início dos anos 1980, época em que Tom Zé vivia um período de vacas magras e pensou até em desistir da carreira. Elas serão apresentadas pela primeira vez neste domingo (8), às 17h, em apresentação no Sesc Pinheiros, em São Paulo. A unidade recebeu também outros três shows do músico nesta semana, nos quais revisitou discos anteriores: "Estudando a Bossa" (2008) e "Estudando o Pagode" (2005). Neste sábado (7), é a vez do clássico "Estudando o Samba" (1976). Tom Zé sabe que tanto o álbum infantil quanto o anterior, erótico, têm potencial de estar na mira do politicamente correto. Um por causa das menções à nudez. Outro pela tendência de pedagogizar qualquer produção infantil. "Sempre que a classe média se apodera de um tema, ele se transforma em discussão moralista. O objetivo da arte é tornar dialógico, encontrar beleza em lugares estranhos", defende. Em 2009, ele revelou admiração pelo funk "Atoladinha", de Bola de Fogo, no "Programa do Jô". Questionado se o álbum infantil fez com que gostasse também da Galinha Pintadinha, Tom Zé desconversa. "Meu caro, de música infantil só conheço o que faz Luiz Tatit e Palavra Cantada."
2017-07-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1924956-depois-de-disco-erotico-tom-ze-lanca-album-para-criancas-e-faz-show-em-sp.shtml
Milhares de espanhóis vão às ruas contra independência da Catalunha
Milhares de pessoas foram às ruas em Madri e em Barcelona neste sábado (7) para pedir que a Espanha siga unida e que haja diálogo entre o governo do país e o da região da Catalunha, que promete declarar independência. Na praça Colón, em Madri, uma multidão com bandeiras espanholas bradou lemas como "Catalunha é Espanha. Não nos enganam" e "Com golpistas não se dialoga". A manifestação foi convocada pela Fundação Denaes. Para Iván Espinosa, porta-voz da entidade, o ato "não é um patriotismo anticatalão. Ele surge em reação a um movimento excludente". "Estou aqui porque não quero que coloquem um muro de Berlim no caminho até onde estão meus mortos e minha família", disse Octavi Puig, 62, aposentado catalão que vive em Madri. O protesto ocupava outras ruas próximas, mas ainda não foram divulgados números oficiais. Em frente à Prefeitura de Madri, outro protesto reuniu milhares de pessoas. O ato foi convocado pelo recém-criado movimento cívico Hablemos/Parlem, que defende o diálogo entre espanhóis e catalães. Vestidos de branco e sem bandeiras, o grupo pedia "um diálogo antes que nos percamos", como disse Yurena Díaz, 36, médica. O Hablemos/Parlem também realizou um ato na praça Sant Jaume, em Barcelona, onde fica a sede da Generalitat, o governo catalão. Centenas de pessoas participaram. As manifestações se juntam ao contexto de pressão sobre Carles Puigdemont, presidente da Catalunha, para que ele abandone seu projeto de declarar independência de modo unilateral. Nos últmos dias, grandes empresas como CaixaBank, Gas Natural e Banco Sabadell anunciaram que vão tirar suas sedes da Catalunha devido ao risco da região deixar a Espanha. O antecessor de Puigdemont, Artur Mas, disse em entrevista ao "Financial Times" que a Catalunha não está pronta para ser um país. "Para ser independente, há algumas coisas que ainda não temos", disse Mas. O governo espanhol, chefiado por Mariano Rajoy, se nega a aceitar o diálogo ou uma mediação alegando que Puigdemont violou a lei ao organizar um referendo pela Independência. Uma grande marcha pela unidade da Espanha foi convocada para este domingo (8) em Barcelona, com a presença de personalidades como o escritor Mario Vargas Llosa, ganhador do prêmio Nobel.
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925238-milhares-de-espanhois-vao-as-ruas-contra-independencia-da-catalunha.shtml
Poupança com aniversário neste sábado já rende menos
Depósitos na poupança feitos desde 7 de setembro começam a render menos a partir deste sábado (7). A rentabilidade cairá de 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial) para 70% da Selic –mensalizada– mais TR. A mudança entrou em vigor com a decisão do Banco Central de reduzir pela oitava vez seguida a taxa Selic, que foi para 8,25% ao ano. Isso acionou a regra que diminui a rentabilidade da caderneta, mas, ainda assim, a poupança consegue superar o ganho de aplicações de renda fixa, como fundos com taxas salgadas e títulos emitidos por bancos. O gatilho é ativado sempre que a Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano. Segundo Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper, a caderneta rende mais que CDBs que rendem 80% do CDI, mas perde para o Tesouro Selic no longo prazo. Esses dois últimos investimentos também são afetados pela queda dos juros e sofrem incidência de Imposto de Renda. renda fixa - Poupança rende mais que CDBs e Tesouro Selic no curto prazo "A rentabilidade da poupança cai, mas a caderneta continua atrativa para o pequeno investidor, para aquela pessoa que tem um pouco de dinheiro e não quer deixar parado em uma conta corrente", afirma Juliana Inhasz. "Esse investidor dificilmente consegue uma taxa de administração boa em fundos. Então a poupança vai continuar sendo um dos melhores investimentos para esse público." A atratividade da poupança em relação ao Tesouro reside na facilidade dos depósitos. Para comprar títulos públicos, é preciso abrir conta em corretora. Levantamento da Anefac mostra que a caderneta rende mais que fundos com taxas de administração superiores a 2% ao ano, independentemente do prazo da aplicação. A poupança também ganha dos fundos com taxa até 1,5% ao ano se o resgate ocorrer em até um ano, e tem rentabilidade igual se o saque acontecer entre um ano e dois anos. Mesmo fundos com taxa de 1% ao ano perdem para a caderneta se o resgate for feito em até seis meses. "Vamos ver um movimento de fundos reduzindo a taxa de administração, porque, se não fizerem isso, vão perder investidores. Essa regra veio para ficar, tão cedo os juros não vão voltar a subir. Os gestores vão ter que reavaliar a taxa de administração", afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da associação. A crise e o desemprego elevado têm afetado os depósitos da caderneta. Até agosto, os saques superaram os depósitos em R$ 7,8 bilhões. O saldo da poupança é de R$ 687 bilhões. fundos x poupança - Rendimento mensal líquido dos fundos, por prazo de resgate, em % INCERTEZAS O gatilho que reduz o ganho da caderneta passou a vigorar em maio de 2012, em uma tentativa do governo de diminuir a atratividade da poupança. Por ser isenta de Imposto de Renda, a aplicação acabava seduzindo investidores de fundos, em um contexto em que as altas taxas de administração corroíam o retorno desses produtos de renda fixa. As mudanças foram anunciadas quando a taxa básica estava em 9% ao ano. O timing do governo, porém, foi ruim. Ao entrar em vigor, a inflação estava em 5,2%, mas chegou a 6,5% um ano depois. Com isso, o Banco Central precisou elevar novamente a Selic. Resultado: as novas regras vigoraram por um ano e quatro meses, até agosto de 2013. Agora, a expectativa é que a regra tenha uma vida mais longa, considerando que a inflação está comportada –2,54% no acumulado em 12 meses até setembro– e que o corte de juros é uma das ferramentas do governo para reanimar a economia. "Não acho que vão subir os juros no ano que vem, mas existem dúvidas sobre a consistência de reformas que garantam juros baixos no Brasil durante um período de tempo mais relevante", avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Está tudo muito travado pela incerteza eleitoral, tem muita coisa pendurada e que pode dar errado", complementa, citando como exemplo a reforma da Previdência. Esse é o risco também levantado por Juliana Inhasz, do Insper. "O governo não vai conseguir deixar essa taxa baixa, porque não consegue colocar a casa em ordem", afirma. O cenário político internacional é citado como outra incerteza a ser considerada, em especial pelas tensões entre Coreia do Norte e Estados Unidos. "Imagina que aconteça alguma coisa lá. O dólar vai subir violentamente num ambiente bélico, o que impactaria o Brasil, que teria que subir os juros para manter os investidores aqui", diz Miguel Ribeiro, da Anefac.
2017-07-10
mercado
null
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1925180-poupanca-com-aniversario-neste-sabado-ja-rende-menos.shtml
FBI desmantela planos de ataque a metrô, show e estádio em Nova York
Um plano para atacar pelo menos duas estações de metrô e um show de música em Nova York tramado por simpatizantes do Estado Islâmico foi desmantelado pelo FBI, a polícia federal americana. De acordo com policiais, três suspeitos fora dos Estados Unidos discutiram preparativos para explodir, no ano passado, pontos de Times Square, uma das praças mais movimentadas e também cartão-postal da cidade, além de outros ataques, um deles alvejando ainda o estádio onde jogam os Yankees, o time de beisebol local. Homens do FBI reconheceram que os planos desenvolvidos ao longo do ano passado eram mais "uma aspiração" do que "operacionais", mas um suspeito chegou a ser detido quando esteve em Nova Jersey, o Estado vizinho. O canadense de 19 anos, Abdulrahman El Bahnasawy, confessou ter planejado o atentado. Além dele, que está preso e pode ser condenado à prisão perpétua, um cidadão americano, Talha Haroon, que vive no Paquistão, e Russell Salic, um cirurgião de 37 anos que mora nas Filipinas, foram identificados. Este último seria o responsável por financiar os ataques que ocorreriam em junho ou julho do ano passado. De acordo com a investigação, o plano era "matar o maior número de pessoas possível", tomando como modelo o atentado de 2015 numa casa de shows lotada em Paris. No rastro do massacre em Las Vegas, a notícia da investigação conduzida em segredo e só noticiada nesta sexta-feira (6) causou preocupação entre usuários do metrô na cidade.
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925233-fbi-desmantela-planos-de-ataque-a-metro-show-e-estadio-em-nova-york.shtml
Chef ensinará receitas simples em oficina de comida caseira japonesa
DE SÃO PAULO Em uma oficina de cozinha caseira japonesa, a chef Marlene Fukushima, do bufê Hanayori, ensinará receitas simples e tradicionais, como as que sua avó preparava. Na aula, durante a manhã de 22/10, os alunos fazem sete preparos: gohan (arroz japonês), missoshiru (sopa de pasta de soja fermentada), yakizakana (anchova grelhada), inhame cozido, kinpira gobo (bardana refogada) com gergelim, tsukemono (conversa de pepino com gengibre e pimenta) e a sobremesa oshiruko (feijão azuki com açúcar servido com dango) Em seguida, todos almoçam as receitas (R$ 290). Um pouco antes da aula, a monja zen budista Waho falará sobre o ato de comer e a importância de se estar presente no momento da alimentação. Esta é a segunda edição da oficina, que já reuniu descendentes nostálgicos e ocidentais interessados nessa gastronomia. OFICINA DE COMIDA JAPONESA CASEIRA Quando 22/10, das 8h às 13h Onde r. 1º de Janeiro, 53, Vila Clementino (ao lado do metrô Santa Cruz) Quanto R$ 290 Matrículas em eventbrite.com ou pelo e-mail [email protected]
2017-07-10
saopaulo
null
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2017/10/1924722-chef-ensinara-preparos-caseiros-japoneses-em-oficina.shtml
Ministério Público abre inquéritos para investigar tragédia de Janaúba
O Ministério Público de Minas Gerais instaurou na sexta-feira inquéritos para investigar os fatos relacionados ao ataque incendiário que matou oito crianças e uma professora no centro de educação infantil Gente Inocente, em Janaúba (MG), a 554 km de Belo Horizonte. A tragédia foi provocada pelo vigia Damião Soares dos Santos, 50, que ateou fogo em si mesmo e nos alunos. Um dos inquéritos tem o objetivo de garantir a assistência material e psicológica para as vítimas do ataque e suas famílias. Foi feito contato com a Cruz Vermelha com o objetivo de estruturar uma missão para prestar assistência médica e psicológica e proporcionar a recuperação física e emocional das pessoas afetadas. Também foi instaurado um inquérito para fiscalizar a destinação dos recursos doados na conta bancária aberta após a tragédia. O objetivo é garantir que os valores sejam usados unicamente para amparar as vítimas. Segundo o Ministério Público, o fluxo de recursos será avaliado semanalmente e haverá uma prestação de contas detalhada todo mês. Um terceiro inquérito vai apurar se o vigia era portador de alguma doença ou transtorno mental que o tornasse não recomendado para o exercício da função na creche. Também será investigado se ocorreu alguma falha por parte do poder público municipal em relação à avaliação e tratamento de disfunção de consciência que havia sido apontado em Damião. Segundo o Ministério Público, Damião compareceu à Promotoria de Justiça de Janaúba em junho de 2014 porque suspeitava que sua mãe colocava substâncias tóxicas em sua comida. Por causa disso, foi realizado um estudo social pelo Centro de Referência Especializado em Assistência Social. O estudo mostrou que o núcleo familiar era regular, mas o vigia apresentava disfunção de consciência. Também serão investigadas as condições do prédio onde a creche funcionava. Serão analisados a segurança estrutural, plano de fuga e estratégia de combate a incêndios. Além disso, a Coordenadoria da Infância do Norte de Minas instaurou procedimento para fazer um levantamento cadastral para apurar os danos e as necessidades das vítimas. Outra providência anunciada para os próximas dias é uma reunião com a comunidade escolar e o poder público com o objetivo de construir um plano de ação para a reinserção escolar dos alunos e dos profissionais que foram vítimas da tragédia.
2017-07-10
cotidiano
null
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925226-ministerio-publico-abre-inqueritos-para-investigar-tragedia-de-janauba.shtml
Uma geração após apartheid, África do Sul enfrenta nova transição
O fim pacífico do apartheid e a transição para a democracia na África do Sul foi uma das maiores conquistas do século 20. Uma geração depois, este país conturbado e seu partido governante rumam para um ponto de inflexão. Em dezembro, o Congresso Nacional Africano (CNA) escolherá um sucessor para o atual líder do partido (e presidente da África do Sul), Jacob Zuma. Enquanto as linhas da batalha são traçadas, o partido se vê à beira de uma divisão irreparável, e é cada vez maior a probabilidade de que perca a Presidência na próxima eleição, em 2019. A África do Sul poderá administrar mais uma transição pacífica —desta vez do CNA para a oposição? Ou o país está rumando para grandes comoções? Os sinais não são promissores. Uma década atrás, a economia da África do Sul estava se fortalecendo. De 2004 a 2008, um momento de alto crescimento dos mercados emergentes em todo o mundo, os altos preços do ouro, da platina, dos diamantes e do carvão que o país produz em abundância —e um surto de gastos do governo que o apogeu das matérias-primas permitiu—, permitiu à África do Sul crescer 4,8%. De 2009 a 2013, enquanto países ricos e pobres lutavam para se recuperar da desaceleração econômica global, o crescimento despencou para apenas 1,9%. Então as coisas pioraram. De 2014 a 2016, o crescimento caiu para 1,1%. Não é de surpreender que o número médio de protestos violentos subiu de 21 por ano durante os bons tempos (2004-2008) para 164 por ano mais recentemente (2014-2016). Há quase 20 milhões de sul-africanos entre 15 e 35 anos, e apenas 6,2 milhões deles estão empregados. O índice de desemprego jovem é o dobro do dos adultos, e entre os jovens negros quase quatro vezes (40%) maior que o dos brancos (11%). As promessas do atual governo de reverter as coisas não têm muita credibilidade. Zuma sobreviveu a quase 800 acusações separadas de fraude, lavagem de dinheiro e suborno, a uma decisão judicial de que ele violou a Constituição do país, a diversas moções de não confiança e a um julgamento por estupro. O governador do Banco Central da África do Sul agora pediu uma investigação pública das ligações entre Zuma, líderes empresariais e uma família de empresários indianos conhecidos como os Guptas. Para atrair seus seguidores, Zuma e seus aliados abandonaram as sólidas políticas econômicas dos primeiros anos da independência em favor de um populismo de esquerda que joga a culpa pela piora das condições econômicas em adversários internos e potências estrangeiras. O Estado usa altas tarifas e subsídios para proteger da concorrência as empresas estatais e os setores dominados pelo Estado. As proteções aos trabalhadores sindicalizados dificultam para os desempregados conseguir empregos. O Estado combate o desemprego gastando dinheiro que não tem para contratar mais funcionários públicos. A corrupção provocou violência. Houve dezenas de assassinatos por motivos políticos nos últimos meses no Estado de origem de Zuma, Kwazulu-Natal. Há uma facção no CNA que quer devolvê-lo a um caminho mais sustentável e está se preparando para um embate na conferência do partido, em dezembro. Zuma vai trabalhar para garantir que seu sucessor seja Nkosazana Dlamini-Zuma, sua ex-mulher e ex-chefe da Comissão da União Africana, supostamente porque ela poderá protegê-lo de processos quando ele não for mais presidente depois das eleições em 2019. Cyril Ramaphosa, um antigo líder do CNA que ganhou destaque como principal negociador do partido durante a transição do apartheid para a democracia, representa o maior desafio a esse plano. Se Ramaphosa perder em dezembro, provavelmente irá liderar uma facção fora do CNA e poderá se unir a uma coalizão chefiada pela centrista Aliança Democrática, assim como partidos e organizações de esquerda que querem o fim da era corrupta de Zuma. As tensões estão claramente aumentando. Uma reunião do CNA na província de Cabo Oriental em 1º de outubro foi perturbada por ativistas amotinados que atiraram cadeiras. "Estamos passando por momentos difíceis no CNA. A conferência de dezembro representa um farol de esperança de que renovaremos o CNA e uniremos o CNA", teria dito Ramaphosa à multidão depois que a ordem foi restabelecida. Os líderes do partido devem se lembrar de que há toda uma geração de sul-africanos que conhecem o CNA não como o partido da libertação, mas como o partido do poder. É cada vez mais provável que, haja o que houver no embate em dezembro, na próxima eleição o CNA perca esse poder. O que acontecerá a seguir colocará a África do Sul no caminho de seu futuro, para melhor ou para pior.
2017-07-10
colunas
ian-bremmer
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ian-bremmer/2017/10/1925136-uma-geracao-apos-apartheid-africa-do-sul-enfrenta-nova-transicao.shtml
Dominado por 'travestis', Mimo Festival inicia quinta edição em Paraty
O Mimo Festival deu início à sua 14ª edição –a quinta em Paraty, no Rio– reforçando o olhar sobre a diversidade do gênero feminino, mote de uma programação composta por mulheres. "Hoje Paraty é das travestis, e não é uma, não, é de duas, é de três", disse Raquel Virgínia, uma das vozes de As Bahias e a Cozinha Mineira, que se apresentou nesta sexta (6), primeiro dia do evento que vai até domingo (8) com programação gratuita. Ela se referia à parceira de banda, Assucena Assucena, e à colega Liniker, que cantaria em seguida, no show de encerramento no mesmo local. Com a guitarra sempre marcante –como em "Apologia Às Virgens Mães–, o grupo liderado pelas cantoras transexuais fazia o primeiro show da turnê de "Bixa", o segundo álbum da carreira, nomeado com inspiração no clássico de Caetano Veloso, "Bicho". Além do repertório autoral, cantaram "Tigresa", de Caetano Veloso, e "Sapato 36", de Raul Seixas, exaltada por Assucena pelo "teor libertário do eu lírico". Em uma das diversas performances divertidas da dupla, Raquel e Assucena recomendam o próprio álbum como um antídoto para eliminar "a visita reacionária do almoço de domingo". Assim como na música de Raul, sobre um filho que se desvencilha do pai que o obriga a usar um sapato apertado, o show das Bahias é repleto de referências à liberdade sexual e críticas às imposições da sociedade, ainda que esse teor seja disfarçado pela mistura sonora dançante. Já em "Pagu", de Rita Lee, a dupla foi acompanhada de Liniker. Seguiram com uma canção que, segundo Assucena, "em tempos de barbáries se torna um hino": "Dê Um Rolê", dos Novos Baianos. Liniker, por sua vez, entoou todo o soul e a black music do já consagrado "Remonta" ao lado de sua elegante banda, os Caramelows, e a divertida backing vocal Renata Éssis. A artista revelou ainda, nesta que foi sua primeira visita a Paraty, estar preparando o próximo álbum. Fãs apareceram com balões –que a cantora, carismática do início ao fim, emprestou no palco– e as letras na ponta da língua. Pediram por "Flutua", canção de Johnny Hooker na qual Liniker participa, mas a cantora não atendeu. A repórter viajou a convite do festival.
2017-07-10
ilustrada
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925227-dominado-por-travestis-mimo-festival-inicia-quinta-edicao-em-paraty.shtml
Nate se torna um furacão e chega aos EUA com ventos de 140 km/h
O furacão Nate ganhou força neste sábado (7) e avançou rumo à costa dos EUA, aonde chegou por volta das 22h30, após deixar 31 mortos em sua passagem pela América Central. Nova Orleans, devastada em 2005 pelo furacão Katrina, que deixou centenas de mortos, e outras cidades localizadas na costa do Golfo do México estavam em alerta. "Nossa superequipe da Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema) está preparada para o furacão Nate. Todo mundo em Louisiana, Mississippi e Flórida, por favor, escutem as autoridades locais e tomem cuidado", publicou na manhã de hoje no Twitter o presidente americano, Donald Trump, que emitiu uma declaração de emergência que permitirá a liberação de ajuda federal para lidar com o impacto da tormenta. Segundo um relatório divulgado às 18h pelo Centro Nacional de Furacões (NHC, sigla em inglês), o olho do Nate se encontrava 170 km a sudeste da foz do rio Mississippi, e o furacão se deslocava a 40 km/h. Ao tocar o solo americano na noite deste sábado, os ventos atingiram 140 km/h, de acordo com o NHC, que informou que o furacão se desloca para o norte com velocidade de 31 km/h. Acredita-se que ele "será um furacão de categoria 2, advertiu o NHC, o que implicaria em ventos de pelo menos 154 km/h. O órgão estima ainda que as inundações causadas pelo furacão possam chegar a 3,35 m em algumas áreas, e alertou para a força das ondas. Nova Orleans decretou toque de recolher a partir das 18h locais, e também foram emitidas ordens de evacuação para algumas áreas da cidade, que fica abaixo do nível do mar. "Nossa pior ameaça não é, necessariamente, a chuva, e sim os fortes ventos e as ondas", assinalou o prefeito Mitch Landrieu. No México, onde não era esperado um impacto direto da tormenta, e sim que cause fortes chuvas, o governador de Quintana Roo, Carlos Joaquín, suspendeu as aulas desde esta sexta-feira e pediu que não se baixasse "a guarda". O coordenador da Defesa Civil mexicana, Luis Felipe Puente, recomendou que se evite a realização de "atividades aquáticas, turísticas e recreativas" no estado turístico. PASSAGEM DEVASTADORA Costa Rica, Nicarágua e Hondura, países mais atingidos pelo Nate quando ainda era uma tempestade tropical, começavam a calcular os danos, no momento em que a chuva parecia dar uma trégua. O fenômeno deixou 16 mortos na Nicarágua, 10 na Costa Rica e três em Honduras, segundo autoridades. Na Costa Rica, equipes de socorro buscavam mais de 30 desaparecidos. El Salvador registrou ontem duas mortes em consequência do Nate: uma pessoa atingida por um deslizamento de terra e outra, arrastada por um rio. Comunidades da Costa Rica e Nicarágua continuavam isoladas pela destruição de pontes, inundação de estradas, transbordamento de rios e deslizamentos de terra que destruíram casas e ruas. Em Honduras, a área mais afetada foi o sul do país. O sudeste dos EUA foi atingido duramente em agosto por dois furacões: o Harvey, que deixou mais de 70 mortos, e o Irma, que atingiu a categoria 5 e provocou 12 mortes na Flórida. Outra tormenta poderosa, o furacão Maria, devastou parte do Caribe no fim de setembro, incluindo Dominica e Porto Rico, território americano.
2017-07-10
mundo
null
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1925225-nate-se-torna-um-furacao-enquanto-avanca-para-os-eua.shtml
Hamilton conquista pole para o Grande Prêmio do Japão
O líder do campeonato, Lewis Hamilton, conquistou a pole position na qualificação para o Grande Prêmio do Japão no sábado. O britânico bateu o recorde do circuito de Suzuka, se tornando o mais rápido da história na pista de 5.8 km, para terminar com uma boa vantagem frente a seus rivais. Seu colega de equipe, Valtteri Bottas, definiu o segundo melhor tempo, mas vai cair cinco posições depois de receber uma penalidade por uma mudança de caixa de velocidades não programada. Isso elevará o rival Sebastian Vettel, da Ferrari, que foi o terceiro mais rápido, quase meio segundo atrás do líder, à primeira fila ao lado de Hamilton. O alemão segue o Hamilton por 34 pontos na classificação geral com apenas cinco das 20 corridas da temporada restantes.
2017-07-10
esporte
null
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/10/1925224-hamilton-conquista-pole-para-o-grande-premio-do-japao.shtml
Feira de armas nos EUA tem de aula sobre fuzil a venda de livros infantis
RESUMO Repórter visita duas das mais importantes feiras de armas dos EUA. O frequentador típico é um homem branco com mais de 55 anos e que só fala inglês, mas os eventos se esforçam para atrair famílias, inclusive crianças. Entre as atividades estão aulas sobre o fuzil AR-15 e venda de livros infantis, como "Meu Primeiro Rifle". * Dentro do complexo de 60 mil m2 onde ocorre o Great American Outdoor Show, no fim do Hall de Esportes de Tiro e atrás do estande de uma loja de armas de precisão, um garoto de dez anos vende livros infantis. Robert H. Jacobs 3º é o nome dele, e seu pai é o autor. Há nove títulos à venda, incluindo "Meu Primeiro Rifle", "Minha Primeira Pistola de Ar Comprimido" e "Meu Primeiro Arco". O pai do garoto começou a escrever livros depois de não encontrar literatura sobre o tema para os filhos. Robert 3º ganhou sua primeira arma quando tinha cinco ou seis anos. Hoje, ostenta com orgulho uma pistola de ar comprimido, um rifle calibre 22 e dois arcos. O menino afirma gostar de caçar "quase tudo: antílope, alce, essas coisas". Robert 3º se sentiu bem ao matar um antílope, ele conta, mas revela que quem matou mesmo foi seu pai. Na verdade, ele nunca matou um animal com arma, só pássaros com estilingue. Ele diz que, ao matar um bicho, você tem sentimentos confusos. "Quando [o presidente americano] Teddy Roosevelt matou um esquilo, ele parou de caçar. Ele sentiu emoções contraditórias." Os livros do pai de Robert ajudam os jovens caçadores a se preparar para momentos como esse. No site em que vende suas obras, Robert pai explica que, para garantir um futuro para a caça e os esportes de tiro, é essencial recrutar hoje os caçadores de amanhã. Os Robert são um dos 1.100 expositores que atendem aos 200 mil visitantes do Great American Outdoor Show (a grande feira americana de atividades ao ar livre) em 2016. Realizado anualmente durante nove dias de fevereiro, em Harrisburg, capital da Pensilvânia, essa é a maior feira de caça, esportes de tiro, armas e pesca do mundo, segundo a organização. Em anos eleitorais e após tragédias —como o massacre da escola Sandy Hook, em 2012, ou o ataque de Las Vegas no domingo (1º), quando um homem matou 58 pessoas e feriu mais de 500—, a mídia americana abre espaço para discussões sobre a necessidade, a futilidade ou a insensatez do controle de armas no país. Enquanto isso, os visitantes das inúmeras feiras de armas dos EUA consideram esse tipo de evento um modo de reafirmar sua cultura e seu estilo de vida. Para eles, armas não têm a ver com violência, e sim com tradições, esporte e recreação. Não se conhece o número exato de armas nos Estados Unidos. De acordo com um relatório do Congresso, de 2012, os americanos acumulavam 310 milhões de armas de fogo em 2009. Segundo estimativa do jornal "The Washington Post", o país atingiu 357 milhões de armas em 2013, mais do que pessoas (317 milhões). Somando 4,43% da população mundial, os americanos eram donos de 42% das armas privadas do mundo, segundo dados de 2007 da organização Small Arms Survey. AULA DE TIRO Na feira, é quase impossível não se perder, tentando achar um caminho entre a loja da Smith and Wesson, no Hall de Esportes de Tiro, e a Zona de Diversão para Famílias, no Hall de Caça, tropeçando no trajeto nos estandes da Federação Nacional do Peru Selvagem, dos Caçadores com Arco Cristãos da América ou da famosa NRA (Associação Nacional do Rifle). Entre as atrações da loja da NRA estão um kit de sobrevivência para cinco dias (US$ 80, ou cerca de R$ 260), com "32 porções de comida gourmet e leite", babadores da NRA para bebês, um acendedor de churrasco "resistente a crianças" no formato de um fuzil AR-15 e canecas em que a palavra "coexistir" aparece escrita com armas e balas. Fundada em 1871, a NRA lidava com assuntos de caça e esportes de tiro. Só em meados dos anos 1970 a organização tornou-se o que é hoje: o principal grupo de lobby pró-armas no país. Atualmente, os dois focos —político e recreacional— convergem em eventos como o Great American Outdoor Show. Para aprender sobre o assunto, decidi assistir à palestra "Entendendo o AR-15". Quando o palestrante pergunta quem na sala tem um AR-15, sou das poucas pessoas que não levanta a mão. "Qual é o problema com vocês? Não são americanos?", indaga Pat Rogers, oficial aposentado dos fuzileiros navais e da polícia de Nova York. Como tantos outros, Rogers fala da Segunda Emenda da Constituição americana. "Nossa Constituição diz que o direito de ter e portar armas não deve ser infringido. Diz que devemos ter uma arma, e a inferência é que é uma arma que os militares usam. Isso é o que os militares usam", diz, apontando para seu AR-15. "Como os militares usam, é popular." Ele ainda credita a popularidade do AR-15 à sua versatilidade. Serve para caçar, para competições de tiro, é ergonômica, barata e fácil de usar. "Tudo que uma pessoa precisa numa arma", diz. De 1994 a 2004, uma lei proibiu a venda de AR-15 e armas similares. Alguns Estados ainda impõem restrições à venda; outros, como Nova York, baniram o comércio desse tipo de equipamento depois do atentado de Sandy Hook. Após o ataque de Las Vegas, começa a ser discutida a proibição da venda do "bump stock", artefato usado pelo atirador, que aumenta o poder de fogo de uma arma e pode ser comprado com facilidade. QUESTÃO CULTURAL Feiras de armas, chamadas "gun shows", são tão populares que é impossível saber quantas existem no país. O governo estima entre 2.000 e 5.200 eventos como esse por ano. Dados de 1998 revelam que 10% deles estão no Texas, onde uma lei que permite porte ostensivo começou a vigorar em janeiro de 2016. Naquele mês, a "maior feira de armas do Texas", o Dallas Gun Show, atraiu cerca de 8.000 visitantes num fim de semana. Ali, uma variedade de artefatos é vendida ao lado de camisetas com os dizeres "Fuck Isis". Balas e Bíblias é o nome de uma loja que vende esses dois artigos juntos. Adesivos trazem mensagens como "Mate os bandidos como um campeão hoje" e "Eu corro em direção às balas". No estande da Associação pelo Porte Ostensivo, sou informada de que posso obter uma licença com um curso de três horas –sem ter de atirar com uma arma de verdade. Javier ("Você não vai conseguir muitos sobrenomes aqui. As pessoas são paranoicas") está ali só para acompanhar o pai. Diz que já tem todas as armas de que precisa. "Acho que o ideal são uma ou duas pistolas, um ou dois revólveres, uma ou duas espingardas e um ou dois fuzis. Eu tenho umas seis." Ele tem na ponta da língua uma lista de motivos que fazem alguém precisar de armas: para proteger suas casas, para caçar, para colecionar, para praticar tiro. "Em lugares populosos, como Nova York, não é preciso ter armas. Então eles dizem para os demais: 'Nós não queremos armas'." Poucos dias antes daquela feira, o então presidente Barack Obama havia anunciado sua intenção de aumentar a checagem de antecedentes na compra de armas. Ele já havia tentado implantar medidas semelhantes após diferentes atentados. O resultado quase sempre teve o efeito oposto ao esperado. Após massacres como o de Las Vegas, os americanos ficam preocupados com a violência, e as vendas de armas aumentam. Em dezembro de 2015, depois que 14 pessoas morreram em um atentado em San Bernardino, na Califórnia, venderam-se 1,6 milhão de armas. O único mês com mais armas comercializadas nos 15 anos anteriores (2 milhões) foi janeiro de 2013, logo após o massacre de Sandy Hook e a reeleição de Obama. MITO AMERICANO No livro "Gun Show Nation - Gun Culture and American Democracy" (nação das feiras de armas - cultura de armas e democracia americana), Joan Burbick, professora emérita da Universidade Estadual de Washington, pesquisadora de cultura do Oeste americano e de narrativas nacionais, reflete sobre como as armas estão impregnadas na identidade de seu país. Em conversas e entrevistas com donos de armas, percebeu que muitos deles se orgulham de pertencer a um "país de armas". "A maioria das pessoas com quem conversei tem uma versão muito 'Hollywood' ou 'Velho Oeste' do passado. Eles romantizaram a mitologia nacional", diz Burbick. "Então, você não está falando sobre história, mas sobre narrativas nacionais. O discurso do patriotismo ligado à posse de armas é muito emocional, fantasioso." Para Burbick, o debate sobre armas é dificultado pela distância entre os dois lados. "Parte do problema é que temos uma população urbana que não sabe nada sobre armas, e temos pessoas que são fanáticas por armas, que têm até 500 em casa. Existe um abismo gigante entre essas pessoas." Segundo o estudo "Posse de Armas e Cultura Social de Armas", de 2015, 29% da população que vive nos EUA tem armas, e a posse é 2,25 vezes maior entre os envolvidos com a chamada cultura das armas. A professora Bindu Kalesan, da Universidade Columbia e da Universidade de Boston, liderou uma das raras pesquisas acadêmicas das principais universidades sobre o tema. O que mais a surpreendeu foi descobrir que 27% das pessoas que não possuem armas pensavam em comprar uma no futuro. Se eles botarem a ideia em prática, diz Kalesan, metade da população do país vai estar armada em breve. O estudo também confirma algo óbvio para quem visita um "gun show": o típico dono de armas é um homem branco, com mais de 55 anos e que fala só o inglês. Entre os poucos estrangeiros que vendem viagens de caça aos seus países de origem no Great American Outdoor Show, ao menos um está acostumado com Harrisburg. Gonzalo Martínez, um ginecologista argentino que leva "carpe diem" tatuado nas costas, promove um território de caça de aves no Norte da Argentina, enquanto bebe mate com o sócio Peio Arrosagaray, urologista espanhol que adora caçar e quebrar pedras nos rins. Em 1993, quando tinha 18 anos e sonhava se alistar no Exército, Martínez fez intercâmbio na cidade de Millerstown, vizinha de Harrisburg. Seu "pai" americano escolheu o argentino porque ele escreveu "caça" como uma de suas atividades favoritas. Quando voltou para a Argentina, Martínez desistiu da carreira militar, mas não de caçar. Os dois doutores-caçadores destacam, no entanto, que a cultura de caça em seus países é totalmente distinta da cultura de armas dos EUA. "Lá, caçar é uma atividade de elite. Aqui, o negócio é massivo, um estilo de vida. Quem organiza esse evento é a NRA. E políticos ganham eleições graças à NRA. Você já foi ao hall de armas? Eles estão oferecendo armas com silenciadores", diz Martínez. "Armas de guerra!", replica Arrosagaray. "Todo império cai", diz Martínez. "E esse país vai cair em algum momento, porque eles estão totalmente loucos." ADRIANA KÜCHLER, 36, editora-adjunta de Cultura da Folha, é mestre em jornalismo em artes e cultura pela Universidade Columbia. Este texto é uma adaptação de trabalho apresentado em 2016 como conclusão do mestrado em jornalismo em artes e cultura na Universidade Columbia. A versão original em inglês pode ser lida aqui.
2017-07-10
ilustrissima
null
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/10/1924903-feira-de-armas-nos-eua-tem-palestra-sobre-fuzil-e-venda-de-livros-infantis.shtml