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@@ -66,7 +66,7 @@ sons/cd02/track64.wav,Camacha (Madeira),"Chega-se ao Natal, oito dias antes do N
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sons/cd02/track65.wav,Camacha (Madeira),"Não ponho inteiro assim para eles ir cortando. Corto a meio e ao depois daquela metade, faço às fatias. Sim senhor. Olhe, e para os miúdos também se costumava fazer assim uns pãezinhos mais pequenos, sei lá, as pessoas que tinham em casa crianças? Não, às vezes, fazia-se uma rosquilhinha para cada um; mas eles agora, praticamente que já depois de ser grande, nem sequer querem a rosquilha. Claro. Mas de primeiro adora-se. A minha… Ainda tenho aqui uma netinha de dez anos, que ela, quando eu estou amassando, ela pergunta logo por a rosquilha. Pergunta logo por a sua rosquilhinha. E meu marido também gosta muito de uma rosquilhinha."
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sons/cd02/track66.wav,Camacha (Madeira),"Já se sabe, chegava-se… Matava-se… Se a gente matasse o porco no Natal, já se sabe, chegando…, depois da morte do porco, no outro dia, faziam aqueles pedaços de carne para deitar alho e vinagre e louro e tudo e ficava ali numa vasilha a conservar até dia de festa. No dia de festa, minha mãe levantava-se, partia pão aos pedaços e fritava a carne e ao depois molhava aquele pão, para a gente comer junto com a carne. Isso era no dia da festa? No dia (da festa) do Natal. Na parte da tarde, minha mãe era galinhas de casa – já se sabe que era aqueles galos grandes –, tirava ali um quarto ou dois – que a gente diz um quarto, que faz-se uma ave em quatro quartos –, minha mãe cozia metade, ou cozia três quartos, conforme, ou cozia um inteiro, conforme a família que tinha em casa, e, já se sabe, era: deitava a cozer e ao depois deitava-lhe massa, desta, da mercearia. E eu me lembra um ano que (o) meu pai – acho que como a minha mãe não tinha dinheiro, a minha mãe amassou desta farinha de trigo da terra, bem amassadinha – fazia umas tiras com uma garrafa e minha mãe cortava assim, tudo direitinho, tudo direitinho, aquilo ficava tudo fininho, tudo fininho e minha mãe deitava na panela e a gente comia por massa. Ah! Era assim. Lembra-me minha mãe fazer um ano, para o primeiro do ano… Minha mãe, acho que não tinha dinheiro, coitadinha. Pois. Praticamente, se minha mãe não tinha, não me disse Pois, pois. Mas eu, eu é que pensei que não havia. Claro. E minha mãe depois, na peneira de peneirar a farinha, minha mãe pôs assim – a casa era mais baixinha –, pôs assim na beira – estava um lindo sol – para tostar aquela massinha. Pensa que ela não ficava gostosa? Pois. Havia lentilhas… Minha mãe às vezes fazia; mesmo para outros jantares, minha mãe fazia. Cozia a lentilha adiante, ao depois deitava a massinha, um pedacinho de ou a banha de porco ou a…, ou não sei se…. Óleo não havia nessa altura! Não havia óleo. Mesmo que houvesse, se havia era bem pouco. Era mais era qualquer coisa de azeite de que o óleo próprio. O óleo veio por último que o azeite. E comia-se o nosso pratinho de massa com lentilhas, às vezes com abóbora, desta abóbora que meu pai – lidava numa fazenda,fazia… – semeava. Dava chuva, graças a Deus, punha terra a descampar, metia umas sementes aqui, outras acolá, e dava abóbora. Até lembra-me um ano de meu pai ter cabaças. Umas cabacinhas de limpar o comer por dentro e ao depois fazer uma vasilhinha da água. Pois. Sim Senhoras. E eu ia a essa fazenda mais meu pai. E era assim a nossa vida. Depois, já se sabe, foi melhorando qualquer coisa, foi melhorando qualquer coisa… Já se sabe, minha mãe cozia um pedacinho de arroz para se comer depois de comer o caldinho da massa. Mas minha mãe deitava-lhe desta… Deitava-lhe abóbora, que ficava um arrozinho tão amarelinho que parecia uma gema de ovo! Ai que giro!"
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sons/cd02/track67.wav,Camacha (Madeira),"Se há formiga-branca neste Porto Santo! A gente sentia ela roer. A gente sentia elas roer. A esta porta deste lado, a parte esquerda, eu já nem lha podia abrir, porque se eu lha abrisse, ela ia trazer o aro consigo. Porque o aro estava só com aquela casquinha! Quem lha forcejasse para ela abrir ou para ela fechar, ela ia vir sempre. (As) missagras (a ir) desapegar aquele pedaço do aro e ia vir sempre. Deu um trabalhão e ainda se ficou devendo a tanta gente mas, agora, graças a Deus, já pagámos."
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sons/cd03/track69.wav,Ponta Garça (Açores),"E fazia-se manteiga aqui com a nata? De ovelha, não senhor. Não, de vaca? De vaca, fazia-se. Em casa. Em casa? Era em casa. E como é que se fazia? Ferviam o leite e tiravam-lhe aquela nata, aquele…, a gente tratavam o laço do leite, que é a gordura do leite. E iam juntando aquilo para uma tigelinha, com umas pedrinhas de sal. Quando tinham uma quantidade, as mulheres batiam aquilo, batiam, batiam, batiam até… Dentro de quê? Como? Dentro de quê? Dentro duma tigela. Duma tigela. E há quem batia (aquelas natas) numas latas Num alguidar. era mais depressa. E há quem batia numa lata, mas a maioria das pessoas era numa tigela. Batiam aquilo bem e quando elas juntavam, faziam uma bola. Conforme a gordura (tende), aquilo já estava temperada com o sal – não é? –, fazia uma manteiga muito boa! Muito saborosa! Comia-se bem com um bocadinho de pão de milho fresco. No tempo! Sim senhor. E aquilo fazia-se?… Faziam uma bola com aquilo, era? Com a manteiga, sim senhora. Ou faziam?… Aquilo já estava… Aquilo ficava dentro duma tigela com água – naquela bola. Ficava sempre ali com água. Mesmo a gente ia-o gastando e aquilo tinha sempre água ali fresca. Deitavam… Tiravam uma, deitavam outra. Quando aquela não estava boa, deitavam outra até gastar a manteiga, não é?"
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sons/cd03/track70.wav,Ponta Garça (Açores),"E no porco, havia alguma coisa que se chamasse o debulho? Debulho? É quando se mata o porco. Fazem debulho. E como é que é? É o sangue… Quando matam o porco, as mulheres tiram ali uma tigela de sangue à parte e o outro sangue vai para fazer as morcelas. Fica aquela tigela ou a quantidade que as mulheres querem que precisem para o debulho. E lá fazem uma mistura com salsa e cebola e… As mulheres é que sabem fazer esse tempero, não é? E fazem o debulho num instante. (E leva sal). Que é… É para comer no… A gente matam o porco assim hoje e amanhã da manhã é que vão almoçar esse debulho. No outro dia é que almoçam dessa comida: o debulho e o peito. Juntamente com o peito. E o sarapatel? Havia algum… Havia, sim senhor, sarapatel! (Era) o resto que crescia das morcelas. As mulheres não queriam fazer mais morcelas e deixavam ali um bocado para fazer sarapatel. E como é que era esse sarapatel? Também era misturado com graxas e coisas. Mas depois era conservado dentro da?… Era conservado também com banha, para tapar, para não se perder, porque (ele) era tudo tapado com banha. Mesmo o chouriço, hoje em dia, é tapado num boião com banha, para não se perder. Com banha de porco."
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sons/cd03/track71.wav,Ponta Garça (Açores),"O que é para si uma bonina? Ah! Uma bonina é aquela flor… Olhe, eu tenho ali uma planta de bonina. Agora flor não está. É uma amarela, assim amarela. Cor-de-laranja. Cor-de-laranja. Cor-de-laranja. Baixinha? Sim. Ela pode crescer. Se ela tiver em terra coisa, ela cresce assim, alta. Mas… E dá uma?… Uma espécie de um malmequer? Sim. É, é. Cor-de-laranja? Cor-de-laranja. Já sei o que é. É. Que cheira até um cheiro não… Feio? Mau? É, é. Não é assim muito agradável. É bom para o jardim. É. É. Esse amarelo, esse amarelo é que não é a bonina? Que a gente chama cor de bonina? Um amarelo forte. Tu tens ali. Tu tens ali tanta. É. Um amarelo forte. Cor-de-laranja, cor de cenoura. É uma que dava nas pastagens? Para mim, a bonina é uma cor. A cor. A cor. A cor é que se chama bonina? Cor de bonina. É. É. A cor é que se chama bonina e não o… E não a… Não. É… É… Não. Aquela planta chama-se bonina. Eu lembro-me do meu pai na Cova Grande, quando ia passar o Verão lá para cima, a minha irmã dizer: 'Ai, eu queria ir, eu queria ir brincar com as boninas'! – com aquelas florinhas. Ia apanhar… Ia apanhar as boninas. Eu tenho a impressão de que a cor é que derivou da flor. Sim, sim. Deve ser isso. Como a gente diz também: 'A cor da cenoura, é a cor-de-laranja'. Claro. Cor-de-laranja. É, é, é. É verdade. E a bonina é (aquele)… E a bonina é aquele amarelo forte. Aquele amarelo forte. Também derivou… Quando a gente diz: 'Um amarelo bonina' é: deriva da bonina. Pois, pois, pois. Mas ela não tem folhas brancas? Portanto, é tudo?… Toda ela é amarela? É amarela. Oh João, as folhas são verdes. Ah, aquelas pétalas. As folhas… As folhas são verdes. Tenho aqui. Tenho aqui a folha… Pronto. É que aquilo para nós é maravilha. Ah, pois é. A planta… A planta tem ali. E cheira mal? Exactamente, exactamente. É, é. E depois quando seca é que dá assim umas coisas?… As sementes são assim todas, parecem uns dedos assim tortos? Ah, já sei. Já sei qual é. Exactamente. Amarelos. É. Aquilo para nós é maravilha. bonina ou Ah, (para nós é) bonina. É. É. É. É. Agora esta sempre conheci, desde miúda, a gente brincava, apanhava, trazia raminhos, mas… Aqui não havia nada que chamassem margaridas? Há. Margaridas há. É o quê? Mas a margarida é outra vez Se calhar é outra. um género dum malmequer. Veja lá se é uma coisa assim desse género? É, é. Baixinho, no campo? Está ali. Está ali. É. É. É… Esse é o… Esse… Cento e sessenta e seis. Esse não é bem a margarida. Isso é o malmequer grado que a gente chama. Eu não sei se tem outro nome. Porque antigamente havia aquele malmequer que tinha mesmo… Sim. Fazia umas moitas. Exactamente. Houve tanto. Agora, eles – pois digo – têm outras plantas mais modernas que agora aparecem… Pois, pois. E dizem: 'O malmequer grado'… Pois, pois. O malmequer que cresce então bastante. Pois, isso é que há. Sim, mas é um bocado diferente da coisa nacional. O nacional é mais pequenino. A flor é mais pequeno. Por isso, o outro nacional é, portanto, aquele miudinho. E era mais bonito. E até já há em amarelo – esse malmequer miudinho também num amarelo pálido e num rosa pálido também. Porque eu tenho até, nas furnas, já tenho uma plantinha mas ainda não me deu flor desse amarelinho. Agora a margarida é um género disso, mas é mais dobradinha. É… Não tem… Tem mais flor, tem mais pétalas? Sim, sim. Ah! E aquelas plantas que tu levaste lá da casa da tua mãe, (não dava para as senhoras terem lá na)?… Ah! Aquilo como é que se chama? Aquilo não sei. E aquilo parece-me que é como uma erva daninha se puder. Mas é bonita. Pois. Porque aquilo multiplica-se muito. E se a gente não estiver sempre em cima, a gente, aquilo dá cabo do jardim. Portanto, a gente… Eu quis para dividir, mas é preciso… Porque aquilo tem muitas raízes e é preciso estar sempre a… A tirar. A tirar para ficar sempre… Para aquilo não alastrar. Exactamente. Alastra muito. É, é."
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sons/cd02/track65.wav,Camacha (Madeira),"Não ponho inteiro assim para eles ir cortando. Corto a meio e ao depois daquela metade, faço às fatias. Sim senhor. Olhe, e para os miúdos também se costumava fazer assim uns pãezinhos mais pequenos, sei lá, as pessoas que tinham em casa crianças? Não, às vezes, fazia-se uma rosquilhinha para cada um; mas eles agora, praticamente que já depois de ser grande, nem sequer querem a rosquilha. Claro. Mas de primeiro adora-se. A minha… Ainda tenho aqui uma netinha de dez anos, que ela, quando eu estou amassando, ela pergunta logo por a rosquilha. Pergunta logo por a sua rosquilhinha. E meu marido também gosta muito de uma rosquilhinha."
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sons/cd02/track66.wav,Camacha (Madeira),"Já se sabe, chegava-se… Matava-se… Se a gente matasse o porco no Natal, já se sabe, chegando…, depois da morte do porco, no outro dia, faziam aqueles pedaços de carne para deitar alho e vinagre e louro e tudo e ficava ali numa vasilha a conservar até dia de festa. No dia de festa, minha mãe levantava-se, partia pão aos pedaços e fritava a carne e ao depois molhava aquele pão, para a gente comer junto com a carne. Isso era no dia da festa? No dia (da festa) do Natal. Na parte da tarde, minha mãe era galinhas de casa – já se sabe que era aqueles galos grandes –, tirava ali um quarto ou dois – que a gente diz um quarto, que faz-se uma ave em quatro quartos –, minha mãe cozia metade, ou cozia três quartos, conforme, ou cozia um inteiro, conforme a família que tinha em casa, e, já se sabe, era: deitava a cozer e ao depois deitava-lhe massa, desta, da mercearia. E eu me lembra um ano que (o) meu pai – acho que como a minha mãe não tinha dinheiro, a minha mãe amassou desta farinha de trigo da terra, bem amassadinha – fazia umas tiras com uma garrafa e minha mãe cortava assim, tudo direitinho, tudo direitinho, aquilo ficava tudo fininho, tudo fininho e minha mãe deitava na panela e a gente comia por massa. Ah! Era assim. Lembra-me minha mãe fazer um ano, para o primeiro do ano… Minha mãe, acho que não tinha dinheiro, coitadinha. Pois. Praticamente, se minha mãe não tinha, não me disse Pois, pois. Mas eu, eu é que pensei que não havia. Claro. E minha mãe depois, na peneira de peneirar a farinha, minha mãe pôs assim – a casa era mais baixinha –, pôs assim na beira – estava um lindo sol – para tostar aquela massinha. Pensa que ela não ficava gostosa? Pois. Havia lentilhas… Minha mãe às vezes fazia; mesmo para outros jantares, minha mãe fazia. Cozia a lentilha adiante, ao depois deitava a massinha, um pedacinho de ou a banha de porco ou a…, ou não sei se…. Óleo não havia nessa altura! Não havia óleo. Mesmo que houvesse, se havia era bem pouco. Era mais era qualquer coisa de azeite de que o óleo próprio. O óleo veio por último que o azeite. E comia-se o nosso pratinho de massa com lentilhas, às vezes com abóbora, desta abóbora que meu pai – lidava numa fazenda,fazia… – semeava. Dava chuva, graças a Deus, punha terra a descampar, metia umas sementes aqui, outras acolá, e dava abóbora. Até lembra-me um ano de meu pai ter cabaças. Umas cabacinhas de limpar o comer por dentro e ao depois fazer uma vasilhinha da água. Pois. Sim Senhoras. E eu ia a essa fazenda mais meu pai. E era assim a nossa vida. Depois, já se sabe, foi melhorando qualquer coisa, foi melhorando qualquer coisa… Já se sabe, minha mãe cozia um pedacinho de arroz para se comer depois de comer o caldinho da massa. Mas minha mãe deitava-lhe desta… Deitava-lhe abóbora, que ficava um arrozinho tão amarelinho que parecia uma gema de ovo! Ai que giro!"
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sons/cd02/track67.wav,Camacha (Madeira),"Se há formiga-branca neste Porto Santo! A gente sentia ela roer. A gente sentia elas roer. A esta porta deste lado, a parte esquerda, eu já nem lha podia abrir, porque se eu lha abrisse, ela ia trazer o aro consigo. Porque o aro estava só com aquela casquinha! Quem lha forcejasse para ela abrir ou para ela fechar, ela ia vir sempre. (As) missagras (a ir) desapegar aquele pedaço do aro e ia vir sempre. Deu um trabalhão e ainda se ficou devendo a tanta gente mas, agora, graças a Deus, já pagámos."
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sons/cd03/track68.wav,Tanque (Madeira),"para o seu moinho… A gente é que ia buscar. O senhor é que ia buscar? Tinha-se um burrinho, ia-se buscar e levar a farinha. Trazia-se-o em grão e levava-se em farinha. Sim senhor. E era o senhor?… E o senhor como é que se pagava do trabalho que tinha? Era maquiado. Era à maquia. E a maquia era quanto? É um quilo. Um quilo, em cada alqueire? Em cada alqueire. Sim senhora. Sim senhor. Olhe, e quando a pedra começava a não estar boa, tinha que?… Era picada. Com quê? Com uma picadeira. E é espesso quase como uma enxó – não é bem a enxó, que é mais direita. Quando… A gente tinha aquilo afinadinho, tudo amoladinho, e quando era preciso, que a gente via que ela que já não moía bem, a gente levantava-se e picava-se. Aquilo tem um… Como é que levantava? Levantava-se com uma barra de ferro. Levantava-se assim, mais ou menos por esta altura, tinha uns calços de pau por baixo e quando a gente chegava àquela altura, que a gente se podia pegar, às vezes era preciso dois: para levantar, empinava-se, e então é que começava-se a picar. Hum-hum. Sim senhor. Sim senhora."
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sons/cd03/track69.wav,Ponta Garça (Açores),"E fazia-se manteiga aqui com a nata? De ovelha, não senhor. Não, de vaca? De vaca, fazia-se. Em casa. Em casa? Era em casa. E como é que se fazia? Ferviam o leite e tiravam-lhe aquela nata, aquele…, a gente tratavam o laço do leite, que é a gordura do leite. E iam juntando aquilo para uma tigelinha, com umas pedrinhas de sal. Quando tinham uma quantidade, as mulheres batiam aquilo, batiam, batiam, batiam até… Dentro de quê? Como? Dentro de quê? Dentro duma tigela. Duma tigela. E há quem batia (aquelas natas) numas latas Num alguidar. era mais depressa. E há quem batia numa lata, mas a maioria das pessoas era numa tigela. Batiam aquilo bem e quando elas juntavam, faziam uma bola. Conforme a gordura (tende), aquilo já estava temperada com o sal – não é? –, fazia uma manteiga muito boa! Muito saborosa! Comia-se bem com um bocadinho de pão de milho fresco. No tempo! Sim senhor. E aquilo fazia-se?… Faziam uma bola com aquilo, era? Com a manteiga, sim senhora. Ou faziam?… Aquilo já estava… Aquilo ficava dentro duma tigela com água – naquela bola. Ficava sempre ali com água. Mesmo a gente ia-o gastando e aquilo tinha sempre água ali fresca. Deitavam… Tiravam uma, deitavam outra. Quando aquela não estava boa, deitavam outra até gastar a manteiga, não é?"
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sons/cd03/track70.wav,Ponta Garça (Açores),"E no porco, havia alguma coisa que se chamasse o debulho? Debulho? É quando se mata o porco. Fazem debulho. E como é que é? É o sangue… Quando matam o porco, as mulheres tiram ali uma tigela de sangue à parte e o outro sangue vai para fazer as morcelas. Fica aquela tigela ou a quantidade que as mulheres querem que precisem para o debulho. E lá fazem uma mistura com salsa e cebola e… As mulheres é que sabem fazer esse tempero, não é? E fazem o debulho num instante. (E leva sal). Que é… É para comer no… A gente matam o porco assim hoje e amanhã da manhã é que vão almoçar esse debulho. No outro dia é que almoçam dessa comida: o debulho e o peito. Juntamente com o peito. E o sarapatel? Havia algum… Havia, sim senhor, sarapatel! (Era) o resto que crescia das morcelas. As mulheres não queriam fazer mais morcelas e deixavam ali um bocado para fazer sarapatel. E como é que era esse sarapatel? Também era misturado com graxas e coisas. Mas depois era conservado dentro da?… Era conservado também com banha, para tapar, para não se perder, porque (ele) era tudo tapado com banha. Mesmo o chouriço, hoje em dia, é tapado num boião com banha, para não se perder. Com banha de porco."
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sons/cd03/track71.wav,Ponta Garça (Açores),"O que é para si uma bonina? Ah! Uma bonina é aquela flor… Olhe, eu tenho ali uma planta de bonina. Agora flor não está. É uma amarela, assim amarela. Cor-de-laranja. Cor-de-laranja. Cor-de-laranja. Baixinha? Sim. Ela pode crescer. Se ela tiver em terra coisa, ela cresce assim, alta. Mas… E dá uma?… Uma espécie de um malmequer? Sim. É, é. Cor-de-laranja? Cor-de-laranja. Já sei o que é. É. Que cheira até um cheiro não… Feio? Mau? É, é. Não é assim muito agradável. É bom para o jardim. É. É. Esse amarelo, esse amarelo é que não é a bonina? Que a gente chama cor de bonina? Um amarelo forte. Tu tens ali. Tu tens ali tanta. É. Um amarelo forte. Cor-de-laranja, cor de cenoura. É uma que dava nas pastagens? Para mim, a bonina é uma cor. A cor. A cor. A cor é que se chama bonina? Cor de bonina. É. É. A cor é que se chama bonina e não o… E não a… Não. É… É… Não. Aquela planta chama-se bonina. Eu lembro-me do meu pai na Cova Grande, quando ia passar o Verão lá para cima, a minha irmã dizer: 'Ai, eu queria ir, eu queria ir brincar com as boninas'! – com aquelas florinhas. Ia apanhar… Ia apanhar as boninas. Eu tenho a impressão de que a cor é que derivou da flor. Sim, sim. Deve ser isso. Como a gente diz também: 'A cor da cenoura, é a cor-de-laranja'. Claro. Cor-de-laranja. É, é, é. É verdade. E a bonina é (aquele)… E a bonina é aquele amarelo forte. Aquele amarelo forte. Também derivou… Quando a gente diz: 'Um amarelo bonina' é: deriva da bonina. Pois, pois, pois. Mas ela não tem folhas brancas? Portanto, é tudo?… Toda ela é amarela? É amarela. Oh João, as folhas são verdes. Ah, aquelas pétalas. As folhas… As folhas são verdes. Tenho aqui. Tenho aqui a folha… Pronto. É que aquilo para nós é maravilha. Ah, pois é. A planta… A planta tem ali. E cheira mal? Exactamente, exactamente. É, é. E depois quando seca é que dá assim umas coisas?… As sementes são assim todas, parecem uns dedos assim tortos? Ah, já sei. Já sei qual é. Exactamente. Amarelos. É. Aquilo para nós é maravilha. bonina ou Ah, (para nós é) bonina. É. É. É. É. Agora esta sempre conheci, desde miúda, a gente brincava, apanhava, trazia raminhos, mas… Aqui não havia nada que chamassem margaridas? Há. Margaridas há. É o quê? Mas a margarida é outra vez Se calhar é outra. um género dum malmequer. Veja lá se é uma coisa assim desse género? É, é. Baixinho, no campo? Está ali. Está ali. É. É. É… Esse é o… Esse… Cento e sessenta e seis. Esse não é bem a margarida. Isso é o malmequer grado que a gente chama. Eu não sei se tem outro nome. Porque antigamente havia aquele malmequer que tinha mesmo… Sim. Fazia umas moitas. Exactamente. Houve tanto. Agora, eles – pois digo – têm outras plantas mais modernas que agora aparecem… Pois, pois. E dizem: 'O malmequer grado'… Pois, pois. O malmequer que cresce então bastante. Pois, isso é que há. Sim, mas é um bocado diferente da coisa nacional. O nacional é mais pequenino. A flor é mais pequeno. Por isso, o outro nacional é, portanto, aquele miudinho. E era mais bonito. E até já há em amarelo – esse malmequer miudinho também num amarelo pálido e num rosa pálido também. Porque eu tenho até, nas furnas, já tenho uma plantinha mas ainda não me deu flor desse amarelinho. Agora a margarida é um género disso, mas é mais dobradinha. É… Não tem… Tem mais flor, tem mais pétalas? Sim, sim. Ah! E aquelas plantas que tu levaste lá da casa da tua mãe, (não dava para as senhoras terem lá na)?… Ah! Aquilo como é que se chama? Aquilo não sei. E aquilo parece-me que é como uma erva daninha se puder. Mas é bonita. Pois. Porque aquilo multiplica-se muito. E se a gente não estiver sempre em cima, a gente, aquilo dá cabo do jardim. Portanto, a gente… Eu quis para dividir, mas é preciso… Porque aquilo tem muitas raízes e é preciso estar sempre a… A tirar. A tirar para ficar sempre… Para aquilo não alastrar. Exactamente. Alastra muito. É, é."
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